UM ALMOÇO COM ANTONIO CÂNDIDO- Foi em junho de 2006, em um um evento em comemoração aos 50 anos da publicação de "Grande Sertão: Veredas" na FFLCH que eu e minha amiga Vera Maria Pereira Theodozio almoçamos com Antonio Cândido. Na verdade, falo isso, mas devo alertar que não foi um almoço marcado, nem mesmo pessoal, mas ele se sentou em nossa mesa na antiga lanchonete do Português do DH - o único lugar fora o bandejão, que servia comida na época e ele queria comer arroz com feijão. É verdade também que sua filha Marina me apresentou a ele: "Papai, esta é a Camila, ela foi aluna da Laura, estudou Saramago com ela", e ele se lembrou vagamente de que a Laura tinha mesmo comentado algo sobre Saramago com ele...
Era uma pessoa admirável, gostava de conversar e lembro com força de que,entre outras coisas, ele já lamentava que todos os seus amigos de geração estavam morrendo, o que o fazia se sentir muito solitário.
Então eu comentei que isso me fazia lembrar de "Declaração Em Juízo", de Drummond e ele apenas sorriu.
Cândido foi, é e sempre será nossa referência e, ainda que eu, em meus estudos literários, tenha enveredado por outros autores e tentado me manter há uma distância segura da sua teoria forte, nem sempre foi possível.
O que posso dizer nesta data de seu falecimento aos 98 anos é que só temos que agradecer por tudo, mas me lembrando daquele almoço, imagino o quão aliviado ele deve estar por não ser mais o único corpo de sua geração que sobreviveu. Mas em ideias, sobrevive e sobreviverá!
Muito obrigada, professor!