Já estava ficando tarde, Alice estava cansada e tentando
achar o caminho da saída do país das Maravilhas. Foi um dia divertido, mas
agora ela queria voltar para casa e tomar um lanche.
A estrada terminava num bosque. Ela ficou em dúvida se
deveria entrar, com medo de se perder mais ainda. Além de tudo, logo
escureceria. Mas voltar seria muito mais difícil.
Alice decidiu entrar no bosque e procurar a saída. De
repente, ela viu um gramado, ao redor de um lago. Correu para lá e deu com a criatura
mais bonita que já havia visto na vida.
- Uau! Que lindo! Quem é você?
- Sou o Pavão Misterioso. Quem é você?
- Eu sou a Alice. Muito prazer em conhecê-lo. Você é tão bonito.
Podemos ser amigos?
- Claro que sim. Mas eu não existo.
- Como assim? Eu estou vendo você, então você existe.
- Só quem acredita em mim consegue me ver.
-O que? Você é uma pessoa tão encantadora, aposto que todo
mundo gostaria de te conhecer.
- Eu sou uma lenda. Só quem acredita em mim me vê.
-O que é uma lenda?
- É como eu. Algo que pode ser bonito, mas que só existe se
você acreditar que existe.
- Você mora aqui?
-Eu moro aqui e em toda parte onde alguém acredita em mim.
-E o que você faz?
-Eu atravesso as pessoas entre os mundos. Eu elevo as gentes
do mundo da Terra para o mundo do céu e desço as que vivem no céu para a Terra.
Posso levar as pessoas a rever os dias que já foram e a conhecer os dias que
ainda serão. Você quer viajar comigo?
- Oh não, obrigada. Já é tarde, estou com fome e preciso
voltar para casa. Você não me arranjaria um lanchinho e um jeito de sair daqui?
-Não, isso não me cabe. Mas se você acreditar, você
certamente consegue.
-Como?
Nisso ouviram um barulhão. Era o Rei chegando com seus cavaleiros
e montes de cães.
-Ei, menina! Nós estamos caçando pavões, você viu algum?
Alice ficou surpresa com a pergunta, porque ele estava ali
ao seu lado. Ela lembrou então que só quem acredita vê o Pavão Misterioso.
- Vi, sim, respondeu ela – Ele estava tentando conseguir um
lanche.
- Menina, eu vou te dar o lanche real para que você o atraia.
Dou também um apito. Assim que ele chegar, você sopra e nós voltamos correndo
para pegá-lo.
-Ah, é claro.
Eles se foram, Alice comeu todo o lanche e soprou o apito.
Quando o rei chegou com os cavaleiros, ela disse:
- Ele comeu tudo e foi na direção da saída. Me levem com
vocês para lá e vamos ver se ainda o encontramos.
Foi assim que Alice voltou para casa. Quando olhou pela
janela, ela viu o Pavão voando, belo e suave, em direção ao por do sol.
(SEVCENKO, Nicolau. Alice e o pavão misterioso. Folhinha, Folha de São Paulo, 16 de julho de 2005. p.F6.)