domingo, 15 de maio de 2011

Lápis de cor


Eis um interessantíssimo instrumento para a escritura, não? kkkk
Consideremos o que escreveu Roland Barthes sobre brinquedos:


“O aburguesamento do brinquedo não se reconhece só pelas suas formas,sempre funcionais, mas também pela sua substância. Os brinquedos vulgares são feitos de uma matéria ingrata, produtos de uma química, e não de uma natureza. Atualmente muitos são moldados em massas complicadas: a matéria plástica tem assim uma aparência simultaneamente grosseira e higiênica, ela mata o prazer, a suavidade, a humanidade do tato. Um signo espantoso é o desaparecimento progressivo da madeira, matéria um tanto ideal pela sua firmeza e brandura, pelo calor do seu contato; a madeira elimina, qualquer que seja a forma que sustente, o golpe de ângulos demasiado vivos, e o frio químico do metal: quando a criança manipula, ou bate com ela onde quer que seja a madeira não vibra e não range, produz um som simultaneamente surdo e nítido; é uma substância familiar e poética que deixa a criança permanecer numa continuidade de tato com a árvore a mesa, o soalho. A madeira não magoa, não se estraga também; não se parte,gasta-se, pode durar muito tempo, viver com a criança,modificar pouco a pouco as relações entre o objeto e a mão ; se morre, é diminuindo,e não inchando com esses brinquedos mecânicos que desaparecem sob a hérnia de uma mola quebrada. A madeira faz objetos essenciais, objetos de sempre. Ora,já praticamente não existem brinquedos de madeira, esses ‘redis dos Voges’- que são brinquedo de madeira constituindo numa série de miniaturas de animais que utilizam normalmente as pastagens da montanha- só possível, é certo, numa época de artesanato. O brinquedo é doravante químico, de substância e de cor; a própria matéria- prima de que é construído leva a uma cenestesia da utilização e não do prazer. Estes brinquedos morrem, aliás, rapidamente,e , uma vez mortos, não têm para a criança nenhuma vida póstuma.” (Barthes, Roland. Brinquedos. In: Mitologias. São Paulo: Diefel.1982. Pp. 40-2- Textos sobre o cotidiano francês entre 1954 e 1956)


Se a madeira fornece à criança tantas coisas boas e os brinquedos de madeira já quase não existem, lembremos de um objeto caro à criações de novos mundos, especialmente pelas crianças: o lápis! Pensemos em duas formas básicas de lápis: Lápis grafite, normalmente, é composto por : madeira plantada, grafite, argila e aglutinantes; e o Lápis de cor, normalmente, é composto por : madeira plantada, pigmentos, aglutinantes, carga inerte e ceras.
Seria o lápis um objeto capaz de resgatar a “substância familiar e poética que deixa a criança permanecer numa continuidade de tato com a árvore “? Talvez sim... se forem lápis de cor, então, os significados se multiplicam ininterruptamente...