Ontem assisti a uma conferência da professora de português e literatura brasileira da Universidade de Paris-Sorbonne Nouvelle, professora Jacqueline Penjon. Vamos ver o que eu achei mais interessante...
Segundo ela, estudar o problema da recepão de uma obra literária no estrangeiro SIGNIFICA ESTUDAR O POTENCIAL DE SIGNIFICAÇÃO QUE A ELA FORAM SENDO TRIBUÍDOS pelos críticos, tradutores, intelectuais e, enfim, leitores...A professora apresentou este problema para a França, que recebe a obra de Guimarães Rosa dividida em duas fases principais ocorridas nos anos 1960 e depois a partir de 1980.
Nos anos 1960 o português era tomado como um anexo do espanhol e o Brasil tinha uma imagem de país pitoresco, regional, desequilibrado socialmente, que se sobressaia no território de tensões do terceiro mundo. Já nos anos 1950 os autores brasileiros que eram lidos na França (pouco lidos, na verdade...) eram os que tinham escrito obras que reforçavam essa expectativa: Jorge Amado; José Lins do Rego; Graciliano Ramos etc. Mas como Guimarães Rosa não bailava essa dança, um texto de jornal chegou a comentar que os franceses queriam mais "vida real", não "tanto lirismo"...Mas entre 1948 e 1951 Guimarães Rosa esteve na França como diplomata e já era reconhecido escrito aqui no Brasil por Sagarana (1946). Em 1947 escreve em carta que o período que passou pela França serviu-lhe como o tempo de FECUNDAÇÃO E GESTAÇÃO de novos personagens e livros, em uma espécie de de "ENCONTRO CONSIGO MESMO." (isso seria o ouvir a tal voz interior? Acho que sim)
Parte do "Diário de Rosa em Paris" está publicado em Ave Palavra, no qual ele afirma que ali suas leituras mais frequentes eram as dos clássicos da literatura, até que ele pudesse, enfim, reescrever Sagarana, que só teria sua versão brasileira definitiva em sua 5a. edição.
Para essa época uma coisa interessante aconteceu com os livros de Rosa pois somente cinco anos separavam a publicação de Corpo de Baile no Brasil em 1946 da tradução francesa de Buriti de 1951. A partir de meados dos anos 1960 e em todos os anos 1970 a França viveu o fascínio pela Literatura Latino Americana, que trazia à tona o "realismo fantástico", mas que foi um movimento do qual o Brasil ficou fora, mas esse desinteresse pela literatura brasileira já vinha do século XIX.
O conhecido tradutor de Rosa para o francês Jean-Jacques Villard - alvo de muita polêmica, mas que tinha total aprovação de Rosa...ele declarou, em uma carta a Rosa, que para traduzir o Buriti ele utilizou muito um dicionário da bisavó dele (que era brasileira), pois o Rosa utilizava muitas palavras que não estava mais "em uso" no Brasil! (como meus alunos escreveram sobre o Rosa "palavras que falavam antigamente"...)
Quem conhece a relação de Rosa com seus tradutores -pelas cartas é perceptível-,sabe que ele sempre os encorajava e pedia muita ATENÇÃO AOS ASPECTOS SONOROS, POIS O QUE IMPORTAVA ERA O SIGNO, NÃO APENAS SINGNIFICADO (e eu penso que também não apenas o significante também)...Os tradutores tinham que TENTAR RETOMAR OS PROCESSOS DE CRIAÇÃO DO AUTOR. ADORO ISSO! ADORO!
A conclusão de Penjon é de que o leitor francês sempre se sentiu "estrangeiro" no sertão de Guimarães Rosa e o Brasil que ele apresentava em suas obras - conforme eu ja falei - não era o Brasil que o francês queria encontrar. Isso foi percebido por Rosa, que escreveu uma carta a Villard em 1967 onde declarava que sabia que o leitor francês era um alguém MUITO AFASTADO DO MUNDO MÁGICO.
A partir dos anos 1980 o protuguês passou a EXISTIR na França, como uma língua não mais relacionada ao espanhol e já existiam até tradutores profissionais e isso foi bom para o Rosa, que tem textos que "RESISTEM À DOMESTICAÇÃO E EXIGEM SEMPRE UMA FLUIÇÃO DE LEITURA QUE DEVE IMITAR O ATO DO 'SE LAMBUZAR' DA LINGUAGEM (ela usou essa expressão exata).
Soube, também, que nos anos 2000 temos até uma pesquisadora que estuda o tema infância na obra de Rosa, como eu! (precisei olhar para França para achar isso!)...Assim caminha minha pesquisa...
Segundo ela, estudar o problema da recepão de uma obra literária no estrangeiro SIGNIFICA ESTUDAR O POTENCIAL DE SIGNIFICAÇÃO QUE A ELA FORAM SENDO TRIBUÍDOS pelos críticos, tradutores, intelectuais e, enfim, leitores...A professora apresentou este problema para a França, que recebe a obra de Guimarães Rosa dividida em duas fases principais ocorridas nos anos 1960 e depois a partir de 1980.
Nos anos 1960 o português era tomado como um anexo do espanhol e o Brasil tinha uma imagem de país pitoresco, regional, desequilibrado socialmente, que se sobressaia no território de tensões do terceiro mundo. Já nos anos 1950 os autores brasileiros que eram lidos na França (pouco lidos, na verdade...) eram os que tinham escrito obras que reforçavam essa expectativa: Jorge Amado; José Lins do Rego; Graciliano Ramos etc. Mas como Guimarães Rosa não bailava essa dança, um texto de jornal chegou a comentar que os franceses queriam mais "vida real", não "tanto lirismo"...Mas entre 1948 e 1951 Guimarães Rosa esteve na França como diplomata e já era reconhecido escrito aqui no Brasil por Sagarana (1946). Em 1947 escreve em carta que o período que passou pela França serviu-lhe como o tempo de FECUNDAÇÃO E GESTAÇÃO de novos personagens e livros, em uma espécie de de "ENCONTRO CONSIGO MESMO." (isso seria o ouvir a tal voz interior? Acho que sim)
Parte do "Diário de Rosa em Paris" está publicado em Ave Palavra, no qual ele afirma que ali suas leituras mais frequentes eram as dos clássicos da literatura, até que ele pudesse, enfim, reescrever Sagarana, que só teria sua versão brasileira definitiva em sua 5a. edição.
Para essa época uma coisa interessante aconteceu com os livros de Rosa pois somente cinco anos separavam a publicação de Corpo de Baile no Brasil em 1946 da tradução francesa de Buriti de 1951. A partir de meados dos anos 1960 e em todos os anos 1970 a França viveu o fascínio pela Literatura Latino Americana, que trazia à tona o "realismo fantástico", mas que foi um movimento do qual o Brasil ficou fora, mas esse desinteresse pela literatura brasileira já vinha do século XIX.
O conhecido tradutor de Rosa para o francês Jean-Jacques Villard - alvo de muita polêmica, mas que tinha total aprovação de Rosa...ele declarou, em uma carta a Rosa, que para traduzir o Buriti ele utilizou muito um dicionário da bisavó dele (que era brasileira), pois o Rosa utilizava muitas palavras que não estava mais "em uso" no Brasil! (como meus alunos escreveram sobre o Rosa "palavras que falavam antigamente"...)
Quem conhece a relação de Rosa com seus tradutores -pelas cartas é perceptível-,sabe que ele sempre os encorajava e pedia muita ATENÇÃO AOS ASPECTOS SONOROS, POIS O QUE IMPORTAVA ERA O SIGNO, NÃO APENAS SINGNIFICADO (e eu penso que também não apenas o significante também)...Os tradutores tinham que TENTAR RETOMAR OS PROCESSOS DE CRIAÇÃO DO AUTOR. ADORO ISSO! ADORO!
A conclusão de Penjon é de que o leitor francês sempre se sentiu "estrangeiro" no sertão de Guimarães Rosa e o Brasil que ele apresentava em suas obras - conforme eu ja falei - não era o Brasil que o francês queria encontrar. Isso foi percebido por Rosa, que escreveu uma carta a Villard em 1967 onde declarava que sabia que o leitor francês era um alguém MUITO AFASTADO DO MUNDO MÁGICO.
A partir dos anos 1980 o protuguês passou a EXISTIR na França, como uma língua não mais relacionada ao espanhol e já existiam até tradutores profissionais e isso foi bom para o Rosa, que tem textos que "RESISTEM À DOMESTICAÇÃO E EXIGEM SEMPRE UMA FLUIÇÃO DE LEITURA QUE DEVE IMITAR O ATO DO 'SE LAMBUZAR' DA LINGUAGEM (ela usou essa expressão exata).
Soube, também, que nos anos 2000 temos até uma pesquisadora que estuda o tema infância na obra de Rosa, como eu! (precisei olhar para França para achar isso!)...Assim caminha minha pesquisa...