Em 08 de março de 2016 eu recebi um e-mail da editora Tordesilhas me oferecendo como cortesia o romance "O arco de virar réu", recém lançado e em fase de divulgação, e isso porque eu havia comentado nesse post aqui um livro de Marcelino Freire, autor que também comentou positivamente o lançamento. Aceitei, claro , e no sábado dia 19 de março recebi o exemplar pelo correio.
Diz a capa que o romance conta a história de um historiador social, interessado em sociedades indígenas, e seus encontros com a loucura, e eu não sabia o que esperar. Ai ontem fui começar a ler e, que delícia; estava diante de um texto literário! Logo nas duas primeiras páginas Antonio Cestaro me jogou no olho do furação, comentando literariamente algumas metodologias do historiador da cultura. Como é belo, como é importante para o historiador, copio logo o longo trecho inicial do romance, que ainda estou ruminando internamente, os destaques são meus:
“...Eu dizia a ele que a dobradiça havia cedido ao peso do tempo e ao inabalável apetite de cupins de incontáveis gerações. Que o vão da veneziana caída e entreaberta projetava um facho de luz poeirento no quarto emudecido por tempo de difícil constatação. Que quem ali passava vislumbrava uma janela velha numa casa em ruínas, recuada e parcialmente recoberta pela vegetação outrora tratada como jardim. Mas também queria fazê-lo entender que, para mim, mais que isso, a ruína consistia na fagulha que acende o fogo, na água que desloca o monjolo, na queda, no choro, na semente e no troco apodrecido. A parte e o todo num único fragmento ou no transcurso de uma existência. (p.9)
Dou expediente na observação da relevância dos pequenos sinais e na observação da relevância dos pequenos sinais e na perseguição de histórias sem valor histórico, da memória de logradouros que não dizem muito a ninguém, e chego amiúde a raízes originais impregnadas de cultura tupi, o fim da linha para quem foi ou apenas o começo para quem volta. Trabalho o efeito do tempo na matéria, o que torna as velharias o meu ponto de partida constante. Perpasso, através da biografia dos objetos, ocorrências regulares e tragédias, aletra para identificar o momento exato em que o sopro cruel que a todos assombra apaga impiedosamente a chama que mantém a vida. (p.10)”
... com certeza meus olhos estão brilhando muito nesse momento. :)
Muito obrigada pela cortesia editora Tordesilhas, muito obrigada Antonio Cestaro, estou feliz de novo!
Em tempo:Uma coisa que quero deixar de deixar bem claro é que, já que esse livro chego até mim porque comentei o ótimo romance do Marcelino Freire, devo dizer que para mim o Antonio Cestaro faz um uso muito mais elaborado da linguagem literária do que o próprio Freire (pelo menos no romance "Esses Ossos"). Me lembro de quando comecei a ler o "Ver:Amor" do David Grossman com certa má vontade, achando que leria mais um depoimento sobre a crueldade do holocausto, mas me deparei com outra coisa: um texto literário, e dos melhores!
Em tempo:Uma coisa que quero deixar de deixar bem claro é que, já que esse livro chego até mim porque comentei o ótimo romance do Marcelino Freire, devo dizer que para mim o Antonio Cestaro faz um uso muito mais elaborado da linguagem literária do que o próprio Freire (pelo menos no romance "Esses Ossos"). Me lembro de quando comecei a ler o "Ver:Amor" do David Grossman com certa má vontade, achando que leria mais um depoimento sobre a crueldade do holocausto, mas me deparei com outra coisa: um texto literário, e dos melhores!