Só boas recomendações sobre este livro de Marçal Aquino, foi meu “contemporâneo” do mês de novembro porque adorei o título! Ele chegou aqui em casa no dia do meu aniversário. embrulhado pra presente, expectativa não me faltava. Mas como dizem, expectativa é mãe da decepção, né? Será que foi o caso? Vejamos minhas impressões de leitura.
Poxa, agora que concluí a leitura, é estranho lembrar que minha primeira referência foi Milton Hatoum! Depois não pensei mais nele, não vi necessidade. Esse ponto que destaquei, do filme ser muito imagético, parecendo até um roteiro de cinema, é mesmo verdade. Gosto especialmente das cenas na pensão da dona Jane, onde o narrador de grande parte do romance, o Cauby, interage com o homem careca, que conta sua dramática história de amor a um menino e o fotógrafo, espertamente, faz uma analogia com a história central do romance entre ele e a Lavínia. Se eu fosse cineasta, faria um curta dessa história, ficaria bonito. Mas minha dificuldade em engrenar na leitura apareceu logo:
EU RECEBERIA- Passado o primeiro contato bastante positivo com o livro de Marçal Aquino, constato que a leitura não flui tão bem nas primeiras 50 páginas. Sei que é melhor comentar só quando estamos perto ou passamos a metade do livro, mas tanta expectativa em torno dele me dá a sensação de que passei da hora certa de ler esse livro, isso me obriga a tecer alguns comentários agora. Menos poético (às vezes até cafona, talvez propositalmente, como que dialogando suavemente com o universo tecno brega do Pará? Uma palavra muito usada no início é "eletricidade"...) do que eu gostaria e ele prometia, gosto muito dele ser um livro centrado na fotografia, no olhar fotográfico para a vida (está na capa e até o amor é sutilmente construído a partir dessa chave), acho original e divertido tantas citações a palavra "filme" fotográfico, mas a leitura não me arrebata como eu gostaria. Espero que quando chegar na metade a sensação melhore, porque abandonar a leitura eu não vou...
Acontece que a vida me chamou e eu acabei tendo que deixar o livro de lado por um tempo, mas quando voltei comentei:
EU RECEBERIA - Depois de uns dias fora, volto pras histórias do Cauby. Não sei porque, não confio muito nele, sempre acho que ele vai se revelar um vilão e esse amor por Lavinia, romântico demais até pra mim, me cheira a disfarce. Não é que não fui com a cara dele, achei só um chatinho, mas algo me faz desconfiar de suas boas intenções... Veremos!
Mas seguia lendo o livro, que ao contrário da impressão inicial, não é poético e nem prende a atenção da gente na leitura como eu gostaria. Até que cheguei na metade
"Ernani achou bonita a mulher, uma das que tocaiavam clientes de um jeito dissimulado nas imediações do hotel. Gostou dos olhos escuros, pareciam misteriosos, ancestrais. Tudo poesia da cabeça daquele servo de Deus: na verdade, Lavínia estava baratinada com anfitaminas. Mal conseguia ficar em pé. Era assim que sua metade suave suportava a vida áspera que andava levando." (P. 85)
O capítulo mudou, por enquanto não estamos mais vendo a história a partir dos olhos do Cauby, o fotógrafo quarentão do tipo que "cita filósofos", mas o interesse que o rosto de Lavínia ("quase uma antiguidade") despertava nos homens continua. Como de costume nos livros de escritores homens, as mulheres acabam sendo um lindo mistério, a gente se pergunta, muitas vezes sem resposta, quem é essa mulher? Muitas vezes essa é a grande questão.
Depois tem um capítulo sobre a vida pregressa de Lavinia, meio que para tentar "explicar" o fato dela se uma mulher atribulada, que assume várias personalidades a cada momento, mas isso é bem pouco explorado. Assim como o contexto de guerra pelo ouro, que é muito interessante e importante, que explicaria melhor muitas tramas do livro, mas Marçal preferiu ficar centrado nesse amor cafona (nada contra cafonice verdadeira, mas no livro não é autêntico) do Cauby pela Lavinia.
Ai gente, não é que achei o livro ruim, mas tem tantos livros melhores, eu poderia ter dado meu tempo para outra obra, né? Não pude deixar de pensar isso. Até que eu, enfim, cheguei na parte final do livro :
TEMPO DA ESPERA -Poucos perceberam, mas estava sem internet desde ontem por volta das 22 horas. Fiquei muito pistola, afinal amanhã é lançamento do meu livro, cadê meu wi-fi? Pois o técnico veio resolver, descobriu que precisava receber instruções da central, então ficamos mais tempo esperando do que outra coisa. Eu, por outro lado, deixei ele absorvido com o tel da central e peguei o livro do Marçal Aquino para terminar de ler. Terminei. Com dois dias de atraso e por causa de um longo tempo de espera, meu novembro, enfim, acaba de terminar! Quando tiver um tempo escrevo no Pequenidades sobre o romance, juro q tentarei ser menos arisca do que fui nos comentários durante a leitura, porque agora (quem diria), estou até num luto por essa leitura!
Agora que estou escrevendo. infelizmente, não estou mais amistosa com o romance. Sinto falta de ler um romance, mas preferia que fosse um melhor.
Acho que é isso!
O FILME
Como disse, temos adaptação para o cinema, com a linda Camila Pitanga como Lavinia. Não assisti, queria ler o livro antes, mas como não deu nada certo, é certo que nem vou ver. Já deu!
Mas queria saber se a dançante e instigante música "Império de Lei", do Caetano, que destaca a questão da violência da guerra entre os seringueiros e a mineradora, que foi e é a realidade dessa parte do Brasil, foi feito para ser trilha desse filme ou não. Mas é o próprio Cae quem respondeu em duas entrevistas :
"Vendo o filme ["Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios"], fiquei muito emocionado e pensando nessa situação do interior do Pará, que a gente acompanha pela imprensa há muitos anos, com a sensação de que o império da lei ainda não pôs seus tentáculos ali de modo firme. No filme, Dona Onete canta sobre uma batida, eu queria essa batida para essa música. Falei com a banda, e eles entenderam logo. No filme, a batida estava discreta, eu queria trazê-la para a frente. Queria algo bem forte, pra ser um brado mesmo. Pelo ritmo, tem um certo caráter de canção de festa, mas é nitidamente um brado de luta." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2012).
"O Império da Lei, nasceu de eu ter visto um filme brasileiro chamado "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios". A história passa-se no Pará e há assassinatos anunciados, como aconteceu com Chico Mendes e com a freira Dorothy Stang. Usei essa expressão "império da lei", tão repetida na lista de características das democracias liberais do Ocidente, o que é meio estranho. Parece que não abandono o espírito tropicalista de deslocar palavras, imagens e ideias dos seus contextos." (Caetano Veloso para o jornal Público, 2014).
Só esses comentários, e também a beleza da Camila Pitanga, me deu vontade de ver esse filme, vai que no filme essa guerra não fica só de pano de fundo, como é, angustiantemente, no livro! Mas segundo esse Youtuber, o único que fez críticas mais bem construídas do livro, compara livro e filme, também não tem. Aff
Desculpe a impaciência de falar desse livro, mas tinha que ser sincera.