segunda-feira, 1 de março de 2010

Meu momento íntimo com José Midlin



Ontem, dia 28 de fevereiro de 2010 morreu o bibliófilo José Mindlin.
Não vou escrever sobre a Biblioteca Brasiliana (que está sendo organizada sob a coordenação do meu ex professor de História do Brasil colonial na USP, o Pedro Puntoni), nem sobre o amor aos livros e ao conhecimento - que são as mais difundidas características deste homem notável - porque sobre isso qualquer um pode pesquisar na Web e "aprender" sobre...
Quero escrever sobre um rápido momento de intimidade que vivi com Mindlin já nos anos 2000, afinal narrativa alguma pode superar a força da morte, que só pode ser vencida pelos sentimentos, como o que nasceu depois daquele momento "íntimo"!
Foi no inesquecível dia 15 de maio de 2006 (o dia do ataque do PCC), quando foram inaugurados os trabalhos do Seminário internacional "Cinqüentenário Grande Sertão: Veredas e Corpo de Baile" aqui na USP...
Mindlin e Antonio Cândido foram os convidados para a inesquecível palestra inicial e eu estava no céu: De repente todos os rosianos, toda a bibliografia no meu mestrado estava ali para ouvir, em pessoa! (rs)
Foi uma emoção sem par... mas o momento que me recordo sempre com emoção foi quando, ao fim da primeira manhã dos trabalhos, antes de sairmos do anfiteatro para o almoço, vi Mindlin sozinho aguardando a chegada de alguém para acompaná-lo (ele estava bem velhinho já) e com a minha cara de pau característica não pude perder a oportunidade de falar com ele, queria dizer que adorava, todas as noites, ir dormir ouvindo ele ler o "Encontro de Riobaldo com o menino" no CD "7 Episódios do Grande Sertão: Veredas":






Mindlin não conseguia me ouvir direito em meio ao barulho de tanta gente , então me pediu que falasse bem perto do seu ouvido, assim eu fiz e ele abriu um sorriso lindo, como se me reconhecesse "aqui uma outra amante de Rosa!" e disse que a maravilha estava toda no texto de Rosa, que ele apenas havia tentado ler com a grandiosidade que ele emanava!
Que prazer foi aquele momento!
Eu ainda ouço o CD com a leitura de Mindlin com freqüência e nada pagará esta memória de mim!
Eu poderei dizer que compartilhei com Mindlin nosso amor pelo maior escritor brasileiro, João Guimarães Rosa