domingo, 14 de março de 2021

“Softie”, Quênia, 2020, dir Sam Soko

 


Documentário interessantíssimo sobre a trajetória do ativista Boniface Mwangi, “um rebelde com causa” , que começou como um destemido foto jornalista e foi premiado duas vezes como melhor fotógrafo do ano da CNN por suas coberturas a respeito da violência.

Escalado para cobrir o violento cenário pós eleições 2007. Na sua primeira foto retrata um homem saindo do trabalho, que acabou sendo atacado a faca após assumir pertencer a tribo Luo, ao que respondeu “eu sou queniano”.

Conta que voltava ao centro com fotos muito forte de violência, que nunca eram aceitas para publicação por quem ficava em paz no ar condicionado tomando café.

Essa violência parou em fevereiro de 2008, quanto foi assinado o tratado de não violência. Nesse respiro de paz, Boniface casa-se, tem filhos, e  sua família é a parte mais fofa de um documentário tão pesado, as falas das crianças são as melhores sacada, quando perguntam “onde você está indo, papai” e ele responde “estou indo derrubar o governo”, ou quando a garotinha anuncia “hoje meu vai dançar um livro”, ai pensa um pouquinho e corrige “vai lançar um livro”. No começo do filme nosso personagem  não teme em dizer que a luta por um país melhor  vem primeiro que o amor, Com o tempo, os filhos vão crescendo, e o cenário político vai ficando cada vez mais intratável, Quando  Boniface decide se candidatar, recebendo ameaças  para si e para a família, levando seus filhos e esposa esposa Njeri a passar oito meses no exilo nos EUA.

Consegue passar ileso às eleições, mas perde o páreo e no fim decide que vai permanecer no Quênia, lutando, mas não na linha de frente, pois vai se dedicar mais à família para terminar o documentário.

Mas, tomando a personalidade, interesses e objetivos de Boniface, duvido que ele permaneça longe do “militância acima de tudo” por muito tempo. Mas isso depois saberemos, ou não. Algumas fotos

casamento 

Todos os filhos



não, é lançar um livro!

candidatura

Onde você está indo, papai?

No Quênia, tribo é identidade


Parem de nos matar: campanha eleitoral

Primeira foto: "Eu sou queniano"

No Quênia eleições são guerra!

Eterna luta pela paz

Ativista!

Manifestações violentamente reprimidas

Militar é mais importante que o Amor





“Memória: performatividade entre-tempos” curadoria Ema Ribeiro, Jamile Cazumbá e Álex Antônio



Sou APAIXONADA POR CINEMAS AFRICANOS, por tudo, mas os CURTAS são demais! Poderia assistir várias horas, dias, interruptamente! Tão cheios de conteúdo, de poesia, de sons, luzes e janelas! Me acabo. Um dos 5 eu já tinha assistido e comentado, então vou falar um pouco dos outros 4 filmes com a temática da memória.

Um cemitério de pombos  Nigéria, 2018, dir.Sultan Sangodoyin

Esse eu já tinha visto, a imagem do cartaz é retirada dele, é um filme  extremamente poético, o filme trata das memórias de uma história de amor vivida por um adolescente com uma pessoa mais velha. Neste link eu inseri imagens poéticas e até transcrevi a bela carta de amor que se lê, um dos filmes africanos mais esteticamente bonito que conheço.  

Invisíveis Namíbia, 2019, dir. Joel Haikali

O filme mostra o encontro de um homem e de uma mulher, visivelmente sofrendo por traumas e perdas, que tentam se ajudar na caminhada da vida. Interessante é que eles estão juntos, mas ao mesmo tempo sempre sós. Ela com as cicatrizes do auto açoite que cometeu, ele com as cinzas de alguém que morreu. Cheio de imagens poéticas e fortes, começa com gemidos de prazer e às vezes chegam a ser de dor, e imagens de escuridão da mulher, que se chicoteia lembrando de um Jesus negro crucificado. Algumas imagens:

Lembrança e culpa

Imagem ao som de  gemidos femininos 



Caminham juntos, mas separados

Possivelmente culpada, ela se sente afogando

Auto açoite

Bela imagem: Sob o mesmo Sol, mas cada um em seu Baobá seco

Ele, enfim, joga as cinzas no solo do deserto



Que cena! Juntos, mas cada um na sua dor

Tentam se acolher, mas sem contato


A lutadora de boxe , Senegal, 2016, dir  Iman Dijonne

Um filme bem impactante, conta a história da cabeleireira Adama, de mãos ágeis para trançar, cortar e pentear os cabelos. Um dia ele é atropelada por uma moto e o motociclista deixa cair uma mochila onde de encontra um par de luvas de box. Seu amigo sugere que ela venda pois tem os braços muito finos para lutar, mas ela deseja ficar com as luvas, veste-as e a partir dai não tem mais controle de nada, as luvas pesam, ela tem a necessidade de reagir agressivamente (ela chega a quebrar um espelho na  rua), de correr, de fugir. Sai vagando pela cidade e,num misto de sonho e realidade, tenta sem sucesso retirar as luvas, em brigas com ela mesma e vai encontrando pessoas: um ex lutador que afirma ter lutado com essas luvas toda a vida e aposta com ela a posse do par, mas ao final era só um sonho; um vendedor de óculos que a pede em casamento, mas antes que ela aceite ela vai ter que tirar as luvas para não acharem que ele é abusador; uma mulher que estava de passagem  no zoológico e que consegue tirar as luvas das mãos dela; mas ela não quer, não pode mais se livrar das luvas. A cena final é a da grande luta da sua vida, com ela mesma. As imagens:

Mãos ágeis no trançar

Fico com elas

Acha  o par de luvas


"Lutei com ela toda minha vida"

Quebra o espelho




Jogam pelas luvas

"Seja  minha esposa , somos perfeitos juntos"

Vida segue, com luvas
Vai embora, com os óculos

Com o macaco





Na escola de Box

Luta consigo mesma

Treino periférico Portugal/Guiné Bissau, 2020, dir. Welket Bungué

Um filme sobre a comunidade diaspórica, dois negros que vivem em Portugal treinam , conversam e dançam. O filme traz algumas das tendências do cinema africano contemporâneo como a presença da dança contemporânea. Talvez por não se passar em África, ou pelo forte sotaque lusitano, eu fiquei um pouco entediada com ele. As imagens:

Epígrafe

O tempo

Protagonistas lindos

"Às  vezes eu tenho vontade de sair por ai e dançar"

"sair por ai "

E dançar

Fim

Bablinga , Burkina Faso, 2019 dir Fabien Dao


Na história ficamos sabendo da história de Moktar, um belo imigrante  burquinês  na França, certa idade,  que teria um bar, ou trabalharia nele, e sonha com o dia voltar à sua terra natal. Ele sofre com as dores dos imigrantes: tem saudades, mas tem culpa, de ter saído, de não ter escrito tanto aos seus, em um momento chega a se desculpar "Desculpe meu silêncio, mas na França não é como em casa, o tempo passa mais rápido" . Muito interessante que as figuras nos muros do bar são animadas, se misturam com pessoas reais e lembranças,  falam com ele, ouve-se música. É u  filme muito bonito, musical  e colorido, mas traz no sei centro uma das grande questões do cinema do africano que imigra, desde o Sembéne: Vivo na França, não sei me desligar daqui porque tenho muita culpa, mas minha casa sempre será Burkina Faso. O que fazer? As imagens:
"Na França o tempo passa mais rápido" 

Melancólico no bar vazio
O bar existe, mas é dele?


As paredes animadas do bar



As mulheres da parede:  na vida e na lembrança

o músico toca na parede
Lindas africanas


Despedida?

Solidão de Moktar




A imagem do imigrante!