segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um texto de 2006, diretamente das ruínas do meu antigo blog...



Terminei um curso sobre a moderna poesia mexicana. E terminei lamentando muito que tenha sido tão curto! Foi muito bom entrar em contato com a discussões da modernidade no México, a rixa entre o grupo dos "contemporàneos" e os "estridentistas", que pode ser um pouco melhor compreendida se acessarmos este link aqui e que valeria ao menos um mês para que pudéssemos tocar a obra de cada um dos poetas dos quais não ouvimos falar muito aqui no Brasil (pelo menos eu não conhecia).

São eles figuras como "Carlos Pellicer; José Gorotiza; Jaime TorresBodet; Jorge Cuesta; Xavier Villaurrutia; Salvador Novo; Bernardo Ortiz de Motellano; Gilberto Owen; Enrique González Rojo, etc...Todos estes poetas estão concentrados em uma impotante coletânea chamada "Poesia em movimento", que simboliza o fazer poético do México moderno... queria ter tempo e condições de me dedicar mais a conhecer todos esses poetas! Mas o professor Rodolfo Mata (excelente, aliás) nos deixou cientes de que imediatamente antes dos "contemporàneos" ou dos "estridentistas", tivemos alguns poetas interessantes que não se encaixavam em nenhum dos grupos, são eles "Alfonso Reyes " e "Julio Torri"...
Dos pequenos trechos que o professor apresentou, gostei mais de Alfonso Reyes, aquele que percebeu que os contemporàneos fugiam da "História Viva", de certa forma... foi ele quem escreveu poemas como "Para un mordisco":

"Propio camaleón de otros cielos mejores,
A cada nueva aurora mudaba de colores.

Así es que prefiriera a su rubor primero
El tizne que el oficio deja en el carbonero.

Quiero decir ( me explico ): la mudanza fue tal,
que iba del rojo al negro lo mismo que Stendhal.

Luego, un temblor de púrpura casi cardenalicio
(que viene a ser también el tizne de otro oficio)

se quebró en malva y oro con bandas boreales,
que ni el disco de Newton exhibe otras iguales.

Es muy de Juan Ramón esto de malvas y oros,
O del traje de luces de un matador de toros.

Y no sé si atreverme, en cosa tan sencilla,
A decir que hubo una "primavera amarilla",

Con unas vetas verdes, con unos jaspes grises
En olas circunflejas como en el mar de Ulises.

¡Ulises yo, que apenas de Caribdis a Escila
-de un vértice a un escollo - saciaba la pupila!

Porque como es efímero todo lo que es anhelo,
El color se evapora y otra vez sube al cielo,

Y ya sabemos que poco a poco se va
Aun la marca de fuego de la infidelidá.

Y se acabó la historia - Tal era la mordida
Que lucía en el anca mi querida."

Percebem como ele vai fazendo a descrição da mordida pela mutação das cores e associação a outras descrições literárias (como o romance "vermelho" e "negro" de Stendhal) para que, ao final, saibamos que se trata apenas de uma marca deixada por atividade erótica...isto seria a tal "História viva", que está em constante fluxo, mesmo nas atividades mais prosaicas e que também é uma expressão da modernidade! A apresentação de Reyes aparece como se fosse um exercício de Picasso, não é? Acho muito bom!
Acontece que apenas três finais de tarde e noites seriam pouco tempo para nos debruçarmos direito sobre esses poetas, imagine se lembrarmos que também no grupo dos poetas mexicanos modernos brilha o nome de uma figura assaz complexa chamada Octávio Paz.
Sobre ele - que foi quem me levou a me inscrever no curso - poderíamos montar cursos e mais cursos muito densos e belos, porque este expressou - não só pelos ensaios fundamentais, mas também pela sua obra poética - uma percepção bastante diferenciada dos fluxos do tempo... apenas sobre ele vou tentar escrever um texto...
Por enquanto, fico aqui com a confissão de que já sou uma apaixonada pela poesia mexicana e pela beleza da Casa das Rosas, como pude registar nestas fotos aqui!