sábado, 23 de novembro de 2019

Shows marcaram o Dia da Consciência Negra em São Paulo

eu, no dia
Jorge Ben Jor. Foto: Wadson Ferreira – SRzd



No dia 20 de novembro de 2019, resolvi passar o Dia da Consciência Negra junto aos negros, na Praça da República assistindo shows , porque para o povo preto, cantar é como rezar. 


Cheguei um pouco atrasada, não vi a apresentação do Bloco Afirmativo Ilu Inã com a participação da cantora Tássia Reis e de Melvin Santhana, mas à tempo de assistir a rapper Drik Barbosa apresentar algumas músicas do disco Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs, na companhia dos DJs KL Jay e Nyack e quando começou a tocar essa



mas ali,acompanhada 
 pela voz do povo preto que sabe Racionais de trás pra frente, eu me arrepiei todinha, tanto que a senhora ao meu lado perguntou se eu estava com frio... não,mesmo! 😁G

Gostei também  do garoto, branco e jovem, que traduziu em libras as letras do Racionais... muito rápido, como se aquilo fosse seu dia a dia.
Mas a estrela do dia da Consciência Negra, como não podia deixar de ser, foi o Jorge Ben, o verdadeiro "criolo rei"! É incrível como ele produziu material para que o negro se reconheça nessa posição, como black power e também como Black is beautiful! Nem todo mundo gostou do show, acharam um Ben meio lento, outros pensam que Ben faz sempre o mesmo show desde os anos 70... mas e dai? É isso que a gente quer ver mesmo! :) Quando cheguei em casa:
 






quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Jorge Ben e o passado e o futuro do povo negro


Ontem, dia 20 de novembro, o show em comemoração em São Paulo foi do Jorge Ben, na Praça da República. Sobre isso, mais detalhadamente, vou escrever um post em breve. 
Por hora, porque é algo urgente, apenas gostaria de comentar que ele tocou essa música
Quando , surpreendentemente, Jorge cantou essa em seu show de ontem, e disse que O NEGRO É LINDO E FAZ TEMPO, DESDE OS EGÍPCIOS, DESDE OS TEMPOS E CIVILIZAÇÕES MAIS ANTIGAS AINDA ( lembrando que ele tem toda essa ligação com umas realidades africanas mais orientais, um pouco mais distantes de nós brasileiros, como a Etiópia, que seria de onde teria vindo a sua mãe), sem muitas explicações - como sempre em sua obra - não está fazendo pouca coisa, pois ele, que já havia trazido a ideia de um FUTURO NEGRO, ou melhor de AFRO FUTURISMO- com heróis e heroínas negros no Brasil - agora veio apontando para a ideia de um PASSADO NEGRO, que como sabemos foi e continua sendo roubado de nós, com mecanismos que deixam marcas irreparáveis, como a proposital FRAGMENTAÇÃO DO PASSADO DO POVO NEGRO. Só para quem pouco sabe de sua origens, como eu, entende o TAMANHO que isso tem. E é por essas e por outras que eu volto a repetir que #OMelhorDoBrasilÉJorgeBen

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Carta de William Lynch

IDENTIDADE NEGRA - Como todo processo de identidade a consciência negra é a mais difícil no Brasil, porque ela é menosprezada. No meu caso, que sou negra de pele clara, ela é negada até hoje. Mas eu, como historiadora (a História é a saída sempre), já consigo ver o quanto isso é ainda um projeto colonizador para fazer com que os negros na América se odiassem entre si e que ainda funciona.
Para quem duvida, leiam a carta do escravagista europeu William Lynch , que em 1712, foi convidado a falar sobre controle de negros nos EUA. (IN: https://informativocentroculturalhumaita.wordpress.com/…/h…/)
"Carta de William Lynch
Neste texto vemos um método de controle de escravos utilizado há quase 300 anos. Sua eficácia parece ter sido realmente comprovada. ATÉ QUANDO?
Virginia, 1712.
Senhores:
Eu saúdo vcs, aqui presentes nas beiras do Rio James, no ano de 1712 do nosso Senhor.
Primeiro, devo agradecer a vcs, senhores da colônia da Virgínia, por me trazerem aqui.
Estou aqui para ajudá-los a resolver alguns dos seus problemas com escravos.
O convite de vcs chegou até a mim, lá na minha modesta plantação nas Indias do Oeste onde experimentei alguns mais novos, e outros ainda velhos, métodos de controle de escravos.
A Antiga Roma nos invejaria se o meu programa fosse implementado.
Assim que o nosso navio passou ao sul do Rio James, nome do nosso ilustre Rei, eu vi o suficiente para saber que o problemas de vcs não é único.
Enquanto Roma usava cordas e madeira para crucificar grande número de corpos humanos pelas velhas estradas, vcs aqui usam as árvores e cordas. Eu vi um corpo de um escravo morto balançando em um galho de árvore a algumas milhas daqui.
Vcs não estão só perdendo estoques valiosos nesses enforcamentos, estão tendo tb levantes, escravos fugindo, suas colheitas são deixadas no campo tempo demais para um lucro máximo, vcs sofrem incêndios ocasionais, seus animais são mortos. Senhores! Vcs conhecem seus problemas; eu não estou aqui para enumerá-los, mas para ajudar a resolvê-los!
Tenho comigo um método de controle de escravos negros. Eu garanto que se vc implementar da maneira certa, controlará os escravos no mínimo durante 300 anos. Meu método é simples e todos os membros da família e empregados brancos podem usá-lo.
Eu seleciono um número de diferenças existentes entre os escravos; eu pego essas diferenças e as faço ficarem maiores, exagero-as.
Então eu uso o medo, a desconfiança, a inveja, para controlá-los. Eu usei esse método na minha fazenda e funcionou; não somente lá mas em todo o Sul.
Pegue uma pequena e simples lista de diferenças e pense sobre elas. Na primeira linha da minha lista está “Idade”, mas isso só pq começa com a letra “A”. A segunda linha, coloquei “Cor” ou “Nuances”. Há ainda, “inteligência”, “tamanho”, “sexo”, “tamanho da plantação”, “status da plantação”, “atitude do dono”, “se mora no vale ou no morro”, “Leste ou Oeste”, “norte ou sul”, se tem “cabelo liso ou crespo”, se é “alto ou baixo”.
Agora que vc tem uma lista de diferenças, eu darei umas instruções, mas antes, eu devo assegurar que a desconfiança é mais forte do que a confiança e que a inveja é mais forte do que a adulação, o respeito e a admiração.
O escravo negro, após receber esse endoutrinamento ou lavagem cerebral, perpetuará ele mesmo, e desenvolverá esses sentimentos, que influenciarão seu comportamento durante centenas, até muilhares de anos, sem que precisemos voltar a intervir. A sua submissão à nós e à nossa civilização será não somente total, mas também profunda e durável.
Não se esqueçam q vcs devem colocar o velho negro contra o jovem negro. E o jovem negro contra o velho negro. Vcs devem jogar o negro de pele escura contra o de pele clara. E o de pele clara contra o de pele escura. O homem negro contra a mulher negra.
É necessário qe os escravos confiem e dependam de NÓS. Eles devem amar, respeitar e confiar somente em nós.
Senhores, essas dicas são as chaves para controlá-los, usem-nas. Façam com que as suas esposas, filhos e empregados brancos também as utilizem. Nunca percam uma oportunidade.
Meu plano é garantido e a boa coisa nisso é que se utilizado intensamente durante um ano, os escravos por eles mesmos acentuarão ainda mais essas oposições e nunca mais terão confiança em si mesmos, o que garantirá uma dominação quase eterna sobre eles.
Obrigado, senhores.
William Lynch "

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Aniversário de 12 anos da Comunidade do Samba Maria Zélia

cartaz da festa

No domingo 1 de novembro de 2019 estive presente na festa de aniversário de 12 anos da Comunidade do Samba Maria Zélia, com show do Sall e muitos convidados  especiais.
A Comunidade, que  é um local de samba e de resistência cultural, é uma delícia, tem espaço, tem suporte, tem amor aos sambistas e para mim, que só vim conhecer o lugar agora em outubro, foi uma delicia participar dos seus doze anos de existência. Que venha o décimo terceiro, quarto , quinto ... tantos outros.
Comunidade do Samba Maria Zélia

Foi a minha terceira vez na Comunidade, já tinha ido em dois pagodes do Quintal dos Prettos, que sempre lotam, mas essa festa foi diferente, outro público, muito mais familiar, mais tradição do samba mesmo e eu pude explorar mais o lugar, achei até um altar de nossa Senhora Aparecida abençoando o samba ali: Nada mais brasileiro
altar

Quando cheguei eram 16 horas e o rolê já tinha começado, eu peguei o começo da apresentação do Vitrolla 70, rolando um samba rock 

Eu curto muito ouvir o som instrumental, mas estava ali mesmo para curtir a roda de samba, que dessa vez aconteceu no coreto, com os Partideiros Maria Zélia 

Mas o auge da festa foi mesmo o show do Sall, que levantou a galera e até eu, que não sei sambar, sabei, quando todo mundo cantou "Vida Boêmia" : "... morro dos prazeres que você me dá, quando eu não sair de marola, eu vou te levar; você dorme cedo e eu só vou deitar quando dou o tom na viola pro galo cantar ..."
Frequentando sambas em São Paulo, sou obrigada a  discordar do Criollo: Existe, sim, amor em SP, e ele está, também, nos encontros de samba. Nessa festa teve até PEDIDO DE CASAMENTO! Samba é resistência e amor !
Eu estava tão feliz, que até cabelo solto eu usei e agora achei mais um lugar de samba que me acolheu, isso é um prazer sem fim <3 span="">
No  banheiro, no fim do rolê! Gratidão!


sábado, 9 de novembro de 2019

Moonlight, Sob a Luz do Luar : cores e luzes na descoberta de uma masculinidade negra



Super atrasada, enfim assisti Moonlight sob a luz do luar (2016), de Barry Jenkins, vencedor do Oscar de melhor filme em 2017 e, realmente, foda demais. O filme é todo muito lindo, estilizado, um espetáculo de luzes e cores para contar a trajetória de Chiron (Ashton Sanders; Ashton Sanders e Trevante Rhodes), um jovem negro, gay e por isso sofre muito bullying, morador de uma comunidade pobre de Miami, cuja mãe (Naomie Harris) é usuária de drogas e acaba sendo perfilhado pelo casal de traficantes Juan (Mahershala Ali) e Tereza (Janelle Monáe ), que o ensinam que “Não tem lugar no mundo sem negros.”
Batismo
Outra personagem importante é Kevin (Jaden Piner Jharrel Jerome e André Holland, ), amigo de infância, desejo proibido, que perpassa sua vida em vários momentos. 
beijo proibido

O filme, de elenco 100% negro, é dividido em três partes, cada uma referente a uma fase da vida do protagonista : Little  (infância) Chiron  (adolescência) e Black (adulto)

três luzes, três momentos

 
Em todos os três momentos, nos deparamos com uma personagem que “não é de falar, mas é bom de garfo”, então  não pode, não quer ou não consegue falar muita coisa, tornando o trabalho dos atores mais difícil, pois as informações aparecem em sutilizas, expressões, cores e jogos de luzes, o que transforma o filme numa pequena obra prima.
Logo na primeira parte Juan conta ao garotinho sobre o que ouviu de uma senhora quando pequeno, que “À luz do luar, negrinhos ficam azuis”, que explica o título do filme e também o investimento intenso na iluminação azul, para retratar a tristeza (em inglês blue, além de azul, também significa tristeza)  da vida negra em Miami e alguém fala para Chiron “Corre por aí refletindo toda a luz.” É o que ele tenta fazer.
Sua relação de amor com Kevin é sensual, dolorida e  linda, cheia de quem nunca?, de agressões, abraços quentes e memórias. Marcada por essa cenas maravilhosas, como a longa cena de quando Kevin cozinha para Chiron, ou esta aqui, marcada por uma canção (aliás, a trilha sonora desse filme, muito bem cuidada, vai de clássico até Caetano Veloso!) : 




 Dentre tantos temas interessantes, Moonlight, me ajudou a repensar profundamente sobre um que é dos mais importantes para meu 2019: a masculinidade negra. quantos negros como Kevin conheci ? Mesmo estando envolvida, me orgulho em dizer que nunca os julguei, sempre poder ter oferecido ao abraço que todos precisamos nesta vida.
carinho 

Quem sabe um dia alguém não ofereça o meu ?

SOBRE A ESTÉTICA BLUE DE MOONLIGHT



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