sábado, 19 de setembro de 2015

Aurora começa a falar, pelo "Papai Pop" Marcos Piagers


Dicionário infantil da língua portuguesa – edição revisada e atualizada
            Aurora está começando a falar. Ela já entende tudo o que a gente fala, como por exemplo, “Aurora, pega uma cerveja gelada pro pai”, mas ainda não formava frases até semana passada, quando me viu fazer que um vídeo em câmera lenta no iPhone e soltou um “QUE LEGAL!”,para delírio dos donos dela, a saber, eu e a minha mulher. A Aurora é uma das coisas mais legais que a gente já fez, sem dúvida.
            Então ela começou a juntar as palavras e ontem já estava dizendo “Papai, vem toma cacaco comigo”, que significa “Papai, vem tomar suco comigo”. Sei disso porque ela estava tomando suco, mas a frase seria a mesma para água, piscina ou banho. Tudo é cacaco. Uma sutil diferença para “papato”, que significa “sapato” e vale para sapatos, tênis, chinelo, botas e até crocs, mesmo que este seja um item proibido aqui em casa (minhas filhas consomem escondidas, incentivadas pela minha mulher. Alô juizado de menores!).
            Todos os animais de quatro patas são “auau” e todos os animais que voam são ‘cocó’. Todas as crianças são ‘nenê’, mesmo que sejam maiores que a Aurora. As únicas pessoas que têm a honra de terem palavras exclusivas são “Papai”, “Mamãe” e a Galinha Pintadinha, que é a terceira ‘pessoa’ que Aurora mais vê e, portanto, tem a alcunha exclusiva de ‘popó’. A Galinha Pintadinha é a melhor babá que já tivemos, aliás. Acalma a Aurora como ninguém e não cobra décimo terceiro. A Super Nanny perdeu seu emprego depois do advento da Galinha Pintadinha.
            É uma fase deslumbrante para os pais, essa dos quase dois anos. Se ela tivesse dez anos e falasse desse jeito ia ser mesmo preocupante, mas como ela parece uma anã falante de pijama pela casa,  qualquer grunhido emociona. Isso até você descobrir que a filha do vizinho  já fala “eu te amo, papai”. Estamos precisando atualizar o dicionário, Aurora.
                           Marcos Piangers. In: “Papai é pop”, p. 71-2