quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ainda sobre a regulamentação do ofício de historiador ...


UM HISTORIADOR VALE TANTO QUANTO UM MÉDICO OU UM ADVOGADO, NÃO É?

Por Marcos Silva

- Professor Titular de Metodologia da História, FFLCH/USP -

O Senado brasileiro vem de aprovar lei regulamentando a profissão de Historiador. A partir de agora, algumas tarefas específicas passarão a ser privilégio profissional de quem tiver formação acadêmica na área. Não é a primeira carreira de nível superior que merece essa regulamentação. Mesmo no campo das Ciências Humanas, Sociólogos e Geógrafos já desfrutam há alguns anos de condição similar.

Participo do debate sobre a questão, na área de História, ao menos desde os anos 80 do século XX. Lembro de colegas que sustentavam a falta de necessidade de regulamentação em nosso espaço profissional, considerando que importantes historiadores brasileiros do século XX (Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda e Caio Prado Jr.) não tinham formação em curso superior de História. Esse argumento apresentava duas graves fragilidades: 1) quando os três fizeram cursos superiores, não havia bacharelado em História no Brasil; 2) Freyre, Buarque de Hollanda e Prado Jr. tiveram condições pessoais ou familiares para requintadas formações humanísticas fora do Brasil – respectivamente, Estados Unidos, Alemanha e Grã-Bretanha.

A situação é muito diferente para um jovem brasileiro de classe média ou menos que, nos dias de hoje, estuda História e se lança num mercado de trabalho fortemente regulamentado noutras áreas. Permanecer nesse mercado fora de suas regras dominantes
é assistir à consolidação dos direitos alheios sem garantia de direitos próprios.

Regulamentar uma profissão é definir exclusividades de exercício, sim. Isso não se confunde com impedir o direito ao pensamento. A História, como tema, sempre será objeto de livre acesso para jornalistas, ficcionistas, advogados, médicos, cidadãos em geral... O desempenho profissional na área, diferentemente, dependerá de uma comprovada capacidade técnica e teórica, obtida em formação acadêmica – como ocorre em relação a médicos, engenheiros, dentistas...

Há quem legitime a regulamentação de algumas carreiras (Medicina e Direito, particularmente) e reivindique a liberdade de prática profissional para as demais: Medicina lida com vidas humanas, Direito zela pelas garantias individuais e coletivas
diante da Lei. Quer dizer que falar sobre o tempo humano (fazer, memória) não possui igual magnitude? Quer dizer que pesquisar e ensinar o Holocausto Nazista ou a Ditadura brasileira de 1964/1984 não é tão minucioso quanto interpretar uma lei ou fazer uma cirurgia? Não vejo hierarquia entre essas práticas. Respeito muito os colegas profissionais de outras áreas regulamentadas. Tenho muito respeito por mim mesmo e pelos demais colegas de minha área profissional.

Enquanto houver regulamentação de algumas profissões, não vejo legitimidade em exigir desregulamentação de outras. Agora, podemos conversar sobre desregulamentação geral das profissões no Brasil. Quem se habilita?

A Diaba e sua filha, de NDiaye



"Há em Moçambique um provérbio que diz : a vida de cada um é um rio. Assim pensando, o tempo que nos cabe para viver é alimentado por uma fonte eterna : a infância. E assim dita, a infância não é um tempo passado, mas a capacidade infinita de nos renovarmos entre nascentes e estuario.
Este conto de Marie Dianye (A Diaba e sua filha) é uma história extraordinária, repleta de mistério e sedução, que confirma , em mim, a ideia de que aquilo que chamamos de literatura infantil é, muitas vezes, um esteriótipo fundado numa falsa menoridade da criança e na verdadeira  arrogância do adulto. Este conto fala desse rio que apenas existe se nos olharmos como eternos inventores da nossa própria infância. Na margem desse rio, nenhuma história tem idade porque toda a narrativa está fora do tempo.
Nesta história não há lugar, não há nomes, tudo é nocturno, o que sucede está envolto em brumas. Todos nós habitámos essa casa de luz calorosa onde uma diaba se recorda de ter sido feliz. Todos nós fechamos a porta do preconceito, e nada mais queremos saber sobre os que ficam confinados na outra margem. longe da nossa existência.
NDiaye escreve sobre os nossos medos e o modo como eles são colectivamente construídos. Escreve sobre a necessidade de classificarmos os outros e os arrumarmos em bons e mauls, em anjos e monstros. Nestas páginas se inscreve, enfim, a facilidade em culparmos e diabolizamos os que são diferentes e o modo como os sinais de aparêcia ( no caso, os pés de cabra) se erguem como marca de fronteira entre os "nossos" e os"do lado de lá".
Terminou com o recurso a  um outro provérbio africano, que diz : eu sou os outros.  Marie Dianye confirma a verdade desse aforismo numa história em que se desfazem as fronteiras entre homem e animal, entre humanidade e demónios, os do bem e os do mal. Os outros que somos (ou que poderíamos ser) desfilam neste apelo para reencontrarmos, na diversidade das criaturas que somos, a nossa própria humanidade."
Mia Couto. Orelha do livro A Diaba e sua filha, de Marie Dianye

Linda exposição sobre Pinóquio


No fim de outubro, no dia do meu aniversário, eu recebi  um grande presente no Sesc Belezinho, vi a exposição 9 cenas de Pinóquio  e, claro, amei:

Ai, aqui estaria a própria alegorização do o fim da infância construída por Carlo Collodi... Eu acho que todas as crianças deveriam ler Pinóquio algum dia. A criança que ainda vive em mim só leu o original de Collodi um pouco "madura" já (depois de ter lido inúmeras adaptações e ter assistido ao filme da Disney), mas ainda assim foi delicioso e me deu muita vontade de presentear todas as crianças com o livro...
Esta exposição no Sesc Belenzinzinho (como quase tudo relacionado ao Pinóquio) me emocionou demais, mas também me divertiu!
Adorei tudo, especialmente a própria sombra do bonequinho presente no ambiente que eu jurava que não ia sair nunca nas fotos, mas saíu...