domingo, 25 de janeiro de 2009

“CENTRAL DO BRASIL” : UMA OUTRA HISTÓRIA DO BRASIL

Acordei com vontade de ouvir a trilha sonora do filme de Walter Salles, depois de mais de ano e eu mesma me surpreendi porque só de ouvir, sem ver a cena, me emocionei muito! A carta de Dora, os pedaços de depoimentos narrados a Dora sobre as dificuldades e sucessos, que antecedem “Preciso me encontrar” são uma síntese de tudo o que está sendo dito: Aqui nós sempre precisamos nos encontrar, por isso aprendemos desde cedo que precisamos andar, ir por aí a procurar rir pra não chorar ...Isso quem destacou foi Euclides da Cunha, quando escreveu que o sertanejo é antes de tudo um forte porque dentre outras coisas, aprendeu a ser capaz de sempre se locomover em busca da sobrevivência. Mas não importa “de onde” e nem “para onde”, a verdadeira história do Brasil é a contada por essas pessoas que sobrevivem sempre, seja no sertão, seja nas cidades (lembram-se da canção do Chico Buarque “Brejo da Cruz” que é assim “Mas há milhões desses seres que se disfarçam tão bem que ninguém pergunta de onde essa gente vem são jardineiros guardas-noturnos, casais são passageiros bombeiros e babás já nem se lembram que existe um Brejo da Cruz que eram crianças e que comiam luz?”Mas sobre este mesmo tema o próprio Chico Buarque se uniu ao Milton Nascimento e escreveu a melhor música de todas, “Levantados do chão”, que tem a pergunta que mais resume a história do Brasil: “Como assim levitante colono?”Sobre os que se deitam em cama de pó eu escrevi a conclusão do meu mestrado, a partir da interpretação do meu orientador de “Central do Brasil” e das idéias libertadoras sobre a linguagem desenvolvidas por Homi Bhabha, porque eu acho que esse é também um tema caro a Guimarães Rosa, mas em Tutaméia isso é especialmente destacado pois nas quarenta mini estórias, sempre tem alguém se movendo para sobreviver, sejam vaqueiros, miseráveis ou ciganos.. a eles falta o fio, a linha do tempo que os mantenha seguros.

Sobre essa temática saiu em 2008 o livro “A poética migrante de Guimarães Rosa”, organizado por Marli Fantini, no qual encontramos textos dos mesmos grandes rosianos geniais (ou nem tanto) : Walnice Nogueira Galvão, Ettore Finazzi Agrò, Cleusa Rios P. Passos, Francis Utéza, Luiz Roncari, Suzi Frank Sperber, Kathrin H. Rosenfield, Sandra Guardini T. Vasconcelos e etc... todos bons artigos para rosianos experimentarem o gosto de cada um deles, que logo eles irão perceber que os pesquisadores quase sempre vão se repetir e logo bastará apenas ler o nome do autor para saber sob qual perspectiva o texto abordará o tema proposto... o mais chato a respeito desse livro é que esses pesquisadores todos não adentram tanto no tema que propõe o título da coletânea. Poxa! Por isso que é preciso ler mais Homi Bhabha e atentar para os que não possuem terra para se sustentarem - os moventes - não é possível esperar uma história com grandes narrativas escritas de forma clara e objetiva, mais vale a informação oral, sonora, imagética...Esse tipo de coisa, pelo que eu já vi até agora, não é sequer citado na educação normal adotada, que até hoje, em pleno 2009, é a mesma que se usava em 1900. A outra história do Brasil - a que está além dos nomes dos presidentes “café-com-leite”, por exemplo - está expressa por vestígios deixados pelos que estavam mais ocupados em seus movimentos em busca da sobrevivência.Perdoem a confusão, mas esse tema me é tão caro, só que eu tenho ainda muito que estudar sobre ele para me manifestar de forma mais clara.