sábado, 5 de dezembro de 2009

LER O LIVRO DO MUNDO = DECODIFICAR LINGUAGENS

Os pensamentos que me atraem podem parecer bastante diversos (Caetano Veloso, Guimarães Rosa, Walter Benjamin, Tom Zé, Carlo Ginzburg...), mas para mim eles são atraentes porque se dedicam a produzir uma linguagem de signos e decodificá-los...

Caetano Veloso, nas suas palavras, lê processos de História do Brasil o tempo todo: somos um país mulato (cheio de “musas híbridas”, “pretas chiques”, “jaboticabas brancas”...), preso a uma mentalidade colonial (em pleno século XXI, somos apenas mulatos "natos no sentido lato mulato democrático do litoral: Sugar Cane Fields Forever) e embora estivermos cientes disso, ele alerta claramente:” E a crítica que não toque na poesia". Esse é Caetano pensador poeta. Isso é poesia.
Guimarães Rosa era um Peter Pan (eis a idéia do meu doutorado), ele nunca deixou de "ver o mundo como se fosse a primeira vez" - que é tarefa das crianças - e o mais interessante: exatamente como elas fazem o tempo todo, ele representava esse estado de catarse constante na linguagem (por isso as palavras tão herméticas de Rosa parecem - e são - ao mesmo tempo moderníssimas e arcaicas), e ele está percebendo os tempos e decodificando-os na linguagem. Isso é arte.
Walter Benjamin queria ler o livro do mundo, que é perceber que cada momento apresenta possibilidades de futuro e de passado, ou seja, “ler” o livro do mundo é encontrar diversas épocas em momentos alegóricos e demonstrar isso na linguagem. Isso é História.
Tom Zé é o mais complicado de entender (pelo menos para mim), porque ele usa diversas linguagens - muitas delas eu não domino nem um pouco-, mas todas elas possuem ligações diretas com os sentidos do tempo (sons, ruídos, psicanálise, poesia, culturas, danças, etc...). Isso é música.
Carlo Ginzburg é meu mestre - como historiadora - e o que ele pensa é muito simples, não existem ligações diretas entre a História e a realidade que não sejam pobres... Para ele, entre essas esferas encontram-se diversas camadas de sentidos inventadas e fabricadas, e decifrar esses códigos da linguagemé fazer narrativa da História. Isso é historiografia.

Resumindo, meu grupo é o grupo dos que se voltaram com amor e atenção para a linguagem. O que eu vou fazer com isso eu não sei... Ainda.