Com muito prazer e atenção terminei de ler o livro "Criança diz cada uma" (1963). Muitas das anedotas eu já conhecia porque foram reescritas depois em publicações mais recentes (Pedro Bloch repete muito as historinhas de criança), mas o mais interessante em ler um livro de Bloch tão antigo é perceber que as mensagens até podem ser as mesmas que eu li reescritas depois e em todas elas as falas das crianças fazem rir, pois todas continuam sendo crianças de verdade, entretanto não são iguais.
No livro da década de 1960, a enunciação é de uma criança sessentista e esse tempo aparece em flashs em todo o livro (as citações a artistas famosos na época como Guimarães Rosa;ao presidente João Goulart e seu filho que não gostava de morar no Palácio da Alvorada pois aquilo lhe parecia uma igreja. Aliás, vejam que interessante, em 1963 Bloch se lembrava de antigos "tempos da ditadura", tempos de Getúlio... mas se sabia que a maior delas ainda estaria por vir ...). São crianças mais moralistas - criadas para crescerem e se tornarem como seus pais (casar, constituir família), e muito católicas, de uma forma hoje inimagiável...é muito interessante perceber como, de forma semelhante ao que acontece nos cadernos Manuscritos de Rosa, a realidade histórica pinça até mesmo discursos tão externo como os de uma antologia de anedotas infantis.