domingo, 17 de março de 2024

Kyoto : mais um romance/ desenho de Kawabata

a capa da Estação Liberdade 

 Como vem acontecendo há meses, sempre leio um livro de Kawabata, um dos escritores que escreve de forma mais bonita que conheço,  para amenizar o impacto de outras leituras. Primeiro foram as de Conceição Evaristo e sua literatura negro brasileira quase sem esperança de futuro para o povo preto, dessa vez foi para amenizar a leitura de Voragem,  do  Jun'ichirō Tanizaki, outro autor japonês que me pirou o cabeção. E Kawabata sempre cumpre seu papel harmonizador, com muita maestria literária e beleza. 


Em Kyoto (1962), ambientado no período pós-guerra como todos do autor que eu li, traça o conflito entre tradição e modernidade, que aqui não se evidencia como conflito, mas como uma harmonização incrível,  pois o que se opera ali é uma grande homenagem à cidade milenar japonesa, seus templos, jardins, tradições...

Propondo-se  a contar a história da jovem Chieko, filha adotiva de um casal que comerciava quimonos tradicionais e que, no momento estava em processo de falência pelo uso cada vez mais constante  de roupas ocidentais. Ainda no inicio do romance Chieko encontra casualmente sua irmã gêmea, Naeko, de quem foi separada ainda bebê por motivos ligados a tradições japonesas. O problema é que essa trama, que de início parece atraente, é quase que deixada de lado , perdendo espaço para a descrição da beleza geográfica da cidade, de seus templos e costumes, descritos de forma tão detalhada e explicativa, como em um guia de viagem,  que chegou um momento que o enredo ficou tão de lado que quase esqueci a história das gêmeas.

Mas é sempre um livro lindo esses do Kawabata, se desenvolve durante um ano todo e os capítulos são distribuídos com o nome das estações do ano. Não sei como é o Japão real, mas o Japão da literatura de Kawabata é um universo estranho e lindo, só possível de existir na alta literatura desse grande escritor.  

Alguns comentários durante a leitura: