sexta-feira, 1 de julho de 2011

A arte de amar








"Dinorá amara-o três anos, dois dera-os às dúvidas, e o suportara demais. Agora, porém, tinha aparecido outro.Não, só de pôr aquilo na idéia, já sentia medo...Por si e pela filha... Um medo imenso.
Se fosse, se aceitasse de ir com outro, Nhô Augusto era capaz de matá-la. Para isso,sim, ele prestava muito. Matava, mesmo, como dera conta do homem na foice, pago por vingança de algum ofendido. Mas quem sabe se não era melhor se entregar à sina, com a proteção de Deus, se não fosse pecado...Fechar olhos.
E o outro era diferente! Gostava dela, muito...Mais do que ele mesmo dizia, mais do que ele mesmo sabia, da maneira que a gente deve gostar. E tinha uma força grande, de amor calado, e uma paciência quente, cantada, para chamar pelo seu nome:...Dinóra..."Dinórá, vem comigo e traz a menina, que ninguém não toma vocês de mim" Bom...Como um sonho...
Como um sono...
Dormiu.
(...)
Mas na passagem do brecão do Bugre, lá estava seu Ovídio Moura, que tinha sabido, decerto, dessa viagem de regresso.
-Dinóra, vem comigo... Ou eu saio sozinho por esse mundo, e nunca mais você há-de me ver!...
Mas Dinóra foi tão pronta que ele mesmo se espantou."

Guimarães Rosa. Sagarana. P. 369-370