quinta-feira, 18 de julho de 2019

Os homens e o amor difícil em “Pela Ternura”, de Alice Diop

Cartas original do filme


Depois do resumo rápido dos curtas que assisti na Mostra de Cinemas africanos, quero me deter mais aprofundadamente e sobre um dos filmes. Foto de Pela Ternura"[Vers la Tenderesse] , dirigido pela francesa  Alice Diop.
O belo documentário trata da relação entre os homens da periferia de Paris com o amor e o universo afetivo. Grande parte desses homens é imigrante africano e é muito interessante ouvi-los falar até sobre o conflito cultural que vivem.
Cena do cotidiano, os depoimentos são falados em off

Para abordar esta questão, Diop diz que o filme é uma "mise-en-sciéne da voz off". Realmente, o filme mostra os personagens na vida, muitas vezes em perfil, ou caminhando, conversando no bar,  enquanto ouvimos suas vozes ao fundo, Nunca uma imagem deles falando, dando aquelas declarações. Isso é importante destacar, em termos de linguagem. 
No geral todos os homens do documentário mostram dificuldade em lidar com afeto, mas os africanos mais ainda! Eles falam sobre como essas ideias de relacionamento, afeto, amor ou mesmo ternura, para eles é algo que está muito longe da sua realidade. eles observam as mulheres, mas ai tem a divisão entre aquelas que poderiam ser suas esposas e as outras, que os amigos chamam d “putas”.  Não tem espaço para gostar de mulheres, nem delas gostarem deles. As mulheres que aparecem no filme estão  expostas em vitrines, na maioria das vezem em trajes íntimos e estão agindo sensualmente, mas sempre protegidas por uma parede de vidro. Em off, os rapazes falam como elas estão distantes
Uma mulher negra, sentada, que parece quebrar o vídro da vitrine

Relações interpessoais eles mantém mais facilmente com os amigos homens, que perseguem e discriminam qualquer atitude no sentido de buscar mais afeto em relação às mulheres, isso é visto como sinal de fraqueza. Uma solidão profunda
  e infinita.
Belo imigrante africano na França, que não aprendeu amar

Este belo rapaz da foto acima  explica claramente que para os imigrantes africanos, surpreende ver que os brancos, na França, aprenderam aquela narrativa romântica desde sempre, sabem desde a infância onde devem se colocar no contexto geral, etc.  
O jovem gay do filme

Ainda que os contatos “permitidos” sejam com os amigos homens, o depoimento do jovem acima, que é gay,  nos mostra que nem para eles o acesso ao afeto é fácil: ele, em uma das falas mais agressivas do filme, comenta que, na maioria das vezes, um homem procura outro homem para fazer sexo. Nem beijo costumam trocar, para evitar envolvimento.
O amor no filme

Interessante observar que o único rapaz que tem um relacionamento afetivo do filme, é branco e tem uma namorada negra. É muito bonito vê-los juntos, se tratam com alegria  e carinho, e o rapaz é romântico, ainda que tenha vergonha de mostrar isso aos amigos. Talvez ele seja o que está mais feliz no momento, afinal ele conseguiu expressar seus sentimentos e trocar isso com outra pessoa.  
Precisamos tanto de amor nessa vida, não é mesmo?