quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Sobre a eleição do reitor na USP: EU NÃO ENGOLI!

Como a maioria das pessoas, eu também ainda não engolli essa escolha.
Li um comentário crítico, seguido por uma entrevista com o candidato vencedor pelos votos das congregações, mas ARBITRARIAMENTE PRETERIDO PELO GOVERNADOR JOSÉ SERRA, apesar de indicar a referência aqui, colo-o completo- já que você já está aqui mesmo ... só devo salientar que, ao contrário do que pensa Oliva - o candidato preterido,EU PENSO,SIM QUE A DECISÃO DO SERRA TOCOU PROFUNDAMENTE A AUTONOMIA DA UNIVERSADE DE SÃO PAULO (AFINAL,EMBORA A ELEÇÃO NÃO TENHA MESMO, PROPRIAMENTE, DESREPEITADO O ESTADO DE DIREITO, MAS SE CONSIDERARMOS O CONTEXTO ATUAL DA UNIVERSIDADE, OBSERVAMOS QUE A AUTONOMIA VEM SOFRENDO CONSTANTE ENFRAQUECIMENTO, O QUE FOI MARCADO POR ATOS EXTREMOS COMO A ENTRADA DA PM NO CAMPUS E AGORA POR ESSA ELEIÇÃO AUTORITÁRIA, COMO ATÉ JÁ ESTAVAMOS ...)
Vejamos a reportagem:

" Terça, 17 de novembro de 2009, 08h57
Oliva: Ingerência política é incompatível com a USP
Eliano Jorge


Para um cientista, é sempre útil entender como funcionam mecanismos complexos. No caso de Glaucius Oliva, 49 anos, professor titular e diretor do Instituto de Física de São Carlos, a recente lição foi de meandros político-eleitorais. Talvez lhe seja um tema mais complicado do que a Cristalografia de Proteínas, tema em que virou doutor pela Universidade de Londres.
Embora tenha vencido a eleição para reitor da Universidade de São Paulo (USP), Oliva acabou preterido pelo governador paulista José Serra, do PSDB, a quem coube a escolha a partir da lista de três nomes apontados pelas urnas. Nomeado sexta-feira, 13, João Grandino Rodas alcançou apenas o segundo lugar nas várias etapas do escrutínio.
"É evidente que eu tinha toda a expectativa de que ele me indicaria porque tinha obtido o apoio explícito da comunidade universitária, numa campanha em que pautei exclusivamente - e talvez esta tenha sido minha falha - sobre a construção de um grande projeto e sobre o convencimento da comunidade universitária. Eu não tinha um viés político, grandes nomes secundando com carta de apoio, nenhuma manifestação política, caciques, ex-reitores", comentou Oliva, em conversa com Terra Magazine.
Ele se queixou da falta de análises mais profundas dos projetos por parte de Serra. A opção foi respeitada, mas não foi engolida a justificativa pela comparação de experiência e carreira dos candidatos: "Acho que ele não olhou direito os currículos. Não me pareceu convincente".
Tendo sempre Rodas na sua escolta, Oliva venceu as três votações do segundo turno, com diferença de 46, 56 e depois 57 votos entre eles. Nesta etapa, houve 85% de comparecimento às urnas, correspondentes a 274 membros do Conselho Universitário e dos Conselhos Centrais - de Graduação, Pós-Graduação, Pesquisa e Cultura e Extensão Universitária.
"O resultado no colegiado menor traçou a mesma vontade da comunidade expandida", concluiu a reitora Suely Vilela, em declaração reproduzida no site oficial da USP.
"Se, de fato, a decisão (do governador) teve uma origem política, é um pouco ruim, né? Porque a universidade deve ser regida por princípios acadêmicos, e não necessariamente ingerências políticas de qualquer sorte, me parecem incompatíveis com o princípio universitário", observou Oliva. "Se você tenta contaminar eleições acadêmicas e técnicas com preferências políticas, isso é terrível", acrescentou.
Atual diretor da Faculdade de Direito da USP, João Grandino Rodas comandou o Conselho Administrativo de Desenvolvimento Econômico (Cade) entre 2000 e 2004, nomeado pelos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula. A partir do dia 26, será o 25º reitor de uma das mais conceituadas universidades do País.
Confira a entrevista com Glaucius Oliva.
Terra Magazine - Como o senhor começa a semana depois do processo eleitoral? Já não está mais ligando para isso?Glaucius Oliva - O fato é que terminou, acabou o processo, nós temos um novo reitor. Portanto, eu tenho que retomar minhas atividades normais, de pesquisa, ensino, as atividades administrativas como diretor do Insituto de Física. E continuar trabalhando pela Universidade de São Paulo.
O futuro reitor declarou que deixou recado telefônico, convidando o senhor para a nova diretoria.
Eu vi essa declaração na imprensa, ele havia deixado recado com a minha secretária, na sexta-feira. Ainda não consegui retornar. Mas a minha impressão é que a sintonia entre um reitor e seu vice deve ser integral. Deveria ser uma chapa isso, e não duas eleições separadas, como são hoje. A eleição para vice-reitor é igualzinha à eleição para reitor, você forma uma lista tríplice para ser escolhida pelo governador. E, se o governador já não me escolheu, é porque talvez tenha razões para tal. Então, não faria muito sentido eu me candidatar novamente para vice-reitor. E acho que o reitor deve ter junto a ele, na vice-reitoria, uma pessoa com que ele tenha mais integral proximidade de ideias, métodos de trabalhos e procedimentos. Ele certamente tem pessoas de altíssimo gabarito no grupo que liderou.Ele não conversou comigo ainda, e eu estou respondendo em termos genéricos. Mas é uma conversa que a gente vai ter ao longo do tempo. A eleição para vice-reitor é só em março. Mas a minha primeira impressão é que não seria exatamente bom, nem para ele nem para a universidade, ter a minha presença na adminitração mais próxima, o que não me exime de ajudar em tudo o que for possível para que esta gestão tenha o maior sucesso. Todos nós somos USP e temos que lutar por ela. Não tem nenhum componente de rancor não. Do ponto de vista prático, não é bom você ter junto uma pessoa que teve mais voto que você, fica uma situação meio estranha.
Por ser empossado o segundo colocado na eleição para reitor da USP, foi ferida a autonomia universitária?
Não, de jeito nenhum. A regra do jogo era essa. Então, do ponto de vista legal, não houve nenhuma quebra de Estado de Direito. A ideia de ter uma escolha pelo governador era ter uma voz da sociedade sobre as ideias e os projetos que conduzem a universidade. E estranhou um pouco, não só a mim, mas a toda a comunidade universitária, a forma um pouco rápida com que esta decisão foi tomada, sem uma conversa com os candidatos, sem uma análise mais aprofundada dos projetos que estavam ali sobre a mesa, da nossa visão de futuro, da nossa experiência administrativa. Enfim, dá a impressão que houve uma decisão que teve outros contornos que não necessariamente da atualidade do projeto ou da pessoa para conduzi-lo.
Que interpretação o senhor faz desses contornos?
Se, de fato, a decisão teve uma origem política, é um pouco ruim, né? Porque a universidade deve ser regida por princípios acadêmicos, e não necessariamente ingerências políticas de qualquer sorte, me parecem incompatíveis com o princípio universitário. Eu sou um cientista, essa é minha natureza. Não é porque um indíviduo que eu não gosto fez um trabalho científico fantástico em demonstração experimental ou teórica de um fenômeno, que vou dizer que está errado. Não posso. Ciência foi feita não porque esse indíviduo pertence a esse ou aquele partido, ela é baseada na verdade, na busca da verdade e daquilo que é inquestionável. Se você tenta contaminar eleições acadêmicas e técnicas com preferências políticas, isso é terrível.
Depois de vencer todas as etapas de votação, o senhor imaginava que não seria referendado pelo governador?
É prerrogativa dele fazer essa indicação. É evidente que eu tinha toda a expectativa de que ele me indicaria porque tinha obtido o apoio explícito da comunidade universitária, numa campanha em que eu pautei exclusivamente - e talvez esta tenha sido minha falha - sobre a construção de um grande projeto e sobre o convencimento da comunidade universitária. Eu não tinha, na minha campanha, um viés político, grandes nomes secundando com carta de apoio. Tinha um monte de cientista, dizendo que achava que eu seria um ótimo administrador. Mas não tinha nenhuma manifestação política, caciques, ex-reitores. Enfim, foi uma campanha feita mesmo nas bases acadêmicas. Nestas, eu ganhei, e isso me satisfaz muito. O que é mais importante, para mim, é que deixo como legado para a universidade um projeto detalhado, em todas as áreas, com uma visão de futuro bem estabelecida para a Universidade de São Paulo, como sendo um centro de excelência, com um conjunto de propostas e ações concretas em Graduação, Pós-graduação, Pesquisa, gestão administrativa. Se o reitor puder aproveitar estas ideias, eu ficaria extremamente satisfeito.
O senhor pretende concorrer novamente à reitoria?
Quatro anos é um longo período, né? Se houver consenso entre as pessoas que, daqui até lá, estarão envolvidas no processo sucessório, eu me disponho a trabalhar como fiz agora. Eu nunca tive um desejo do cargo em si. A minha praia, do ponto de vista acadêmico, é outra. Eu sempre estive muito envolvido com atividades de pesquisas, ensino e criação de cursos, inovação tecnológica, transferência de tecnologia. Administração é uma coisa meio natural em mim, faço bem. E as pessoas acharam que era uma combinação importante para ter na reitoria. Mas não tenho nenhuma aspiração, não faço disso meu projeto de vida. Ao mesmo tempo, não me furto a servir a universidade na posição em que for chamado.
Numa eventual candidatura, não vai deixar de incluir um cunho político...
A gente aprende com a experiência, né? A gente vai ter que entender que, num processo desse, temos tanto público interno quanto público externo. Temos que convencer não apenas os soldados como os generais de que as ideias são boas. Eu talvez tenha ficado muito nos soldados e esquecido um pouco dos generais.
Por falar em soldados e generais, foi a primeira vez que o vencedor da eleição da USP não foi ratificado, desde o fim da ditadura militar. O que o senhor pensa?
Não faça nenhuma comparação. Quando eu disse soldados e generais, foi apenas uma figura de linguagem. Não teve nenhuma conotação de acusação. Foi uma decisão do governador, nós estamos num Estado democrático de Direito, ele tem autonomia e prerrogativa para fazer isso. Ele mesmo disse que nunca hesitou em assumir responsabilidade das prerrogativas que ele tem como governador. Eu não faço nenhuma comparação do momento que vivemos agora com o período militar, nós temos um mecanismo que é legítimo, legal. Eu posso discordar da forma como ele foi utilizado. Acho que ele, se utilizado, deve ser de uma forma muito parcimoniosa. A escolha da inversão da lista tríplice é uma arma muito poderosa e que, para ser usada, na minha interpretação, deveria ser por uma justificativa muito importante e séria.
O governador alegou currículo e experiência do segundo colocado.
Eu acho que ele não olhou direito o currículo de ambos os candidatos. Eu tenho uma experiência de gestão acadêmica universitária de 12 anos, muito mais do que isso, já fui chefe de departamento, diretor de unidade, presidente de Pós-graduação, consultor de empresas, coordeno institutos de pesquisa da Fapesp e do Ministério, exerci cargos no Ministério de Ciência e Tecnologia, no que diz respeito a comitês de avaliação de projetos e de gestão. Sou cientista de reconhecimento internacional, membro da Academia Brasileira de Ciências. Então, esta justificativa ficou um pouco mal explicada. Sou professor titular há mais de 12, 13 anos, dessa universidade. Sempre fui professor em dedicação integral e exclusiva, o que não acontece com o outro candidato, que só se tornou três, quatro anos atrás, sempre exerceu uma vida externa à universidade. Esta justificativa não me pareceu convincente.
De universidade, o senhor acredita que entende mais?
Eu não gosto de fazer comparações não. Eu só digo que entendo bastante de universidade. Presidi uma comissão de planejamento, isso foi uma coisa que talvez, se o governador tivesse olhado, gostaria. O governador é uma pessoa da área de Planejamento, ele nasce para a política como secretário de Planejamento do governo Montoro. E a Universidade de São Paulo é uma instituição muito complexa, muita gente, recursos vultosos, e que tinha, em seu estatuto, desde 1988, a previsão de existir uma comissão de planejamento com a missão de elaborar planos de médio a longo prazos para a universidade e estudar cenários externos e internos que afetassem as atividades universitárias. Surpreendentemente, em nenhuma das gestões reitorais desde 1988, esta comissão havia sido criada ou instalada, e convenci a então reitora que a criasse pela primeira vez. Desde 2007, presido esta comissão e temos estudado com profundidade os cenários que afetam a USP, estudamos a USP, o que as universidades do mundo estão fazendo para resolver os grandes desafios da academia, que é uma instituição que está passando por uma série de transformações no que diz respeito à própria organização do conhecimento, à multidisciplinaridade, à formação dos estudantes, à questão do financiamento, à incorporação de novas tecnologias. Então, do ponto de vista de conhecimento e preparação, eu acho que tinha uma boa bagagem.
Terra Magazine
ESTOU ACHANDO ESTRANHÍSSIMO QUE NINGUÉM (NEM MESMO A TÃO FALADA FFLCH!) TENHA FEITO NENHUMA MANIFESTAÇÃO: VAMOS DEIXAR UMA DAS INSTITUIÇÃO DE MAIOR NOME DO BRASIL VIVER ESSA SITUAÇÃO CALADOS?
AQUI NÃO!