sábado, 9 de junho de 2018

TRADUÇÃO E PESQUISA

Capa de DUBY, Georges. Tempo das Catedrais: a arte e a Sociedade : 980 – 1420.
Trad. José Saramago. Lisboa : Estampa. 1988.
Cês sabem que eu fui estudar História por causa do romance Memorial do Convento de José Saramago, e que minha primeira pesquisa foi sobre esse romance, ainda na graduação.  Minha proposta cotejar a representação de história apresentada no romance e o ideário da escola historiográfica mais destacada no começo do século XX, a minha recém conhecida Nova História francesa. Havia muitas semelhanças e diferenças, mas para justificar a execução desta pesquisa, uma peculiaridade foi fundamental. Falamos de 1999, ainda não existia a biblioteca unificada da FFLCH e tínhamos apenas uma biblioteca de História no prédio do DH. Pois bem, por curiosidade, busquei pelo nome José Saramago no catálogo eletrônico dali, achando que não ia encontrar nada, pois toda a literatura estava na biblioteca de Letras... mas me enganei. Ele aparecia ali, sim, como tradutor da obra do novo historiador ligado aos Annales Georges Duby! Depois de um tempo vim  saber que, durante um período de sua vida, Saramago sobreviveu das traduções de textos franceses para o português e eu estava defronre a um exemplo sensacional, não apenas porque eu  já estava assistindo aulas sobre Crítica Genética e recepção no IEB e me importando muito com a maneira que os autores liam os outros, mas também porque ela mostrou que Saramago conhecia bem  a produção da Nova História (caso eu tivesse alguma dúvida!), mas especialmente  porque ele conheceu bem ESTA OBRA na qual Duby justifica que não falará da suntuosidade das Catedrais porque para obsevar isso, basta olhá-las, o que ele quer fazer é "reconstituir em redor delas o conjunto cultural que lhes dá plena significação" (DUBY, 1988, p.9). Quem leu o Memorial sabe que o retrato que o romancista pinta do "Convento de Mafra" caminha por caminho semelhante, ao descrever a opulência daquela obra com bastante ironia e destacando outros pontos mais relevantes, como por exemplo de quem eram as mãos de quem realmente, o construiu.
Saudade das minha primeiras anedotas de pesquisadora...