segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O que Guimarães Rosa faz com seu leitor, e qual os seus motivos...






A explicação está claramente exposta nestas linhas de Monique Balbuena:

“Em sua elaboração de um texto estético, poético, artisticamente belo, Guimarães Rosa trouxe grandes inovações linguísticas em todos os níveis: léxico, gramático-sintático, poético e retórico. Como já vimos, Rosa ” buscava transformar o mundo com a força criadora da linguagem, e uma linguagem rasa, meramente comunicativa ou referencial, não seria eficaz na realização de seus projetos mais ambiciosos. Dessa forma, a ‘revolução linguística’ pela qual seria responsável está indissociada da necessidade que via em modificar os hábitos mentais do homem e libertá-lo de arcaicas categorias de pensamento, resgatando a linguagem como verdadeira expressão da vida.
Suas obras, muitos já o disseram, apresentam sérias dificuldades de fluência e compreensão a uma primeira leitura. O leitor, acostumado a textos mais coerentes e tradicionais, se vê atordoado, desnorteado e dominado, sem clemência, por uma prosa acidentada, difícil, com formas e sons inusitados, um manancial léxico desconhecido, compondo um estilo muito original. Passadas as primeiras investidas, conseguida a penetração na densa selva após a apreensão da chave léxica e, com ela, a possibilidade de descodificação, o leitor, só então, se sente recompensado pelo seu esforço e persistência: estabelecida a comunicação, Rosa se revela em seu esplendor, e, banhado em luz e música, o leitor disso não mais quer se privar.
Ao contrário, ele passa a tomar parte importante no próprio processo de criação, pois o estranho texto de Rosa deixa lacunas intencionais que devem ser preenchidas, apresenta formulações ou estruturas sintáticas que exigem reflexão constante...Em suma: ele faz pensar, proíbe a automatização e impede a letargia.”


BALBUENA, Monique Rodrigues. Poe e Rosa à luz da cabala. Rio de Janeiro: Imago Ed, 1994.Pp. 78-9