"A narrativa vem sendo assunto de pesquisas neurológicas que têm levantado a possibilidade do ser humano ser, biologicamente, um ser narrativo, pois embora sejamos seres anatomicamente parecidos, historicamente cada um de nós é uma narrativa singular, que deve ser recontada sempre a fim de que possamos construir nossa identidade e visualizar nosso possível lugar no desenvolvimento humano através do tempo, ou em outras palavras, do nosso corpo na história. Sobre isso confira algum trabalho de Oliver Sacks, como "Tempo de Despertar".
Mas se é fundamental narrar, não podemos deixar de lembrar que as possíveis formas de fazê-lo foram ficando cada vez mais rarefeitas, pois as linguagens nos parecem cada vez mais herméticas, sobre isso confiram o livro "Depois de Babel", de George Steiner. É nesse contexto que olhamos novamente para os textos de Tutaméia, que podem parecer assustadoramente difíceis em um primeiro momento, mas devemos cogitar também que a existência desse tipo de construção narrativa está dialogando com tônicas da percepção e do pensamento contemporâneo: se o mundo nos parece cada vez mais insustentável, mas ainda estamos vivos, também é preciso narrar para continuar construindo a nossa história."
(Camila Rodrigues. "Mãos vazias e pássaros voando: Memória, invenção e não-história em Tutaméia de Guimarães Rosa". P.122)
Foi por acreditar nessa idéia, que sustenta o quarto e último capítulo da minha dissertação, que eu fui atrás de descobrir qual a minha narrativa. Para uma bacharel em história não seria difícil, mas como era A MINHA HISTÓRIA, o déficit emocional tornou tudo mais complicado, mas agora eu também tenho a minha narrativa, a que me tona um ser singular dentre tantas outras gentes nesse mundo. Quando eu aprender mais sobre linguagens, talvez eu a conte a quem quiser conhece-la.