sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Retrospectiva: 2021 o ano da literatura!

 


Este ano eu "inovei", fazendo um resumo de uma linha do conteúdo do blog (e também fora dele), mês à mês, então a retrospectiva ficou mais fácil. Vou trazer a frase de cada mês e comentá-la!

JANEIRO - Teste de Ancestralidade;
Elza embalava minha vida logo no começo do ano

Acho que tive a ideia de resumir o mais importante do mês por causa de janeiro, quando não teve nada mais importante do que o meu teste de ancestralidade. Para mim, para tantos negros do Brasil, saber qualquer coisa sobre nosso passado, propositalmente apagado, é tão grande, envolve tantas coisas, toda a nossa vida, nossos medos, escolhas. É um olhar para nós mesmos. No caso do meu resultado, fiquei surpresa pelo meu DNA não ter nada de indígenas brasileiros, e eu que achava que era cafuza (mistura de negro com indígena), mas na verdade sou mistura de negro com branco. Mas quais ? Brancos, predominam os ibéricos, portugueses e espanhóis, embora tenha alguns pontos de outros lugares na Europa. E negros, tem de muitos lugares da África, não apenas daqueles que sabemos que vieram pessoas para seres escravizadas ( especialmente Angola, Congo, Moçambique, Nigéria, etc), mas também de vários lugares do norte do continente, a África oriental, árabe, inclusive a minha querida Etiópia! Me senti muito melhor com essas informações, pesquisar ancestralidade era uma das metas para 2021 e eu "entendi" mais tantas coisas e pareceu que um dos sentidos da minha vida tinha sido encontrado. Foi, e isso não é pouca coisa, mas ainda existem mistérios!

FEVEREIRO -Mergulho em Lima Barreto;
Fevereiro : o mês de "Lima Barreto que nos olha"

Foi sem querer, mas acabei tendo que escrever um texto urgente e mergulhei na vida de Lima Barreto e Clara dos Anjos, isso me fez pensar que estava continuando o tema de janeiro, pois estava estudando o maior escritor negro brasileiro (que se reconheceu assim e sofreu as consequências, inclusive de sempre acabar sendo "esquecido". O que ele escreveu, há cem anos, continua sendo atual e incômodo. Escolhi escrever sobre o livro Clara dos Anjos, porque eu li quando era menina, mas demorei muito para entender que a Clara era eu, era todas as mulheres negras periféricas, em 1922. em 2021! Fevereiro foi mês do Lima, a quem agradeço imensamente! Que orgulho ter um escritor desses no meu país!
No final do mês, depois que terminei o trabalho, fui ler outras coisas, ainda sobre negros, li um livro infantil sobre as princesas africanas e um romance ótimo de Chimamanda Ngozi Adichie . uma autora nigeriana, país que agora sei que faz parte da minha ancestralidade.

MARÇO - Mostra de Cinemas Africanos , Congresso de Crítica Genética e
Guimarães Rosa;
Já estava acompanhando congresso pelo celular
 na sala de espera do hospital pros exames pré cirúrgicos da minha mãe,
mas foi uma delicia debater sobre critica genética 

Esse mês já tive mais assuntos para falar, congresso, Mostra de documentários africanos, inclusive um etíope muito bom e expectativa sobre a cirurgia da minha mãe, até que consegui me sair bem em tudo, com uma energia muito 2020, cheia de banho de sol. Acho que a coisa ficou mais difícil mesmo a partir do mês seguinte.

ABRIL- Cirurgia de mamãe e anais do Congresso APCG;
Na Páscoa com minha mão ainda não sabíamos quando ia ser a cirurgia

Em abril começamos bem, eu escrevi o texto para os anais do congresso de março e eu e minha mãe passamos uma páscoa feliz aqui em casa, tiramos fotos felizes, mas dias depois, naquela mesma semana, ela foi chamada para retirar a colostomia, que achávamos que seria mais simples. Como era contexto de pandemia, não pudemos acompanhar, só por telefone. A tensão era enorme, passei os dias aqui em casa, esperando uma ligação do médico, deu tudo certo e ela voltou para casa, muito debilitada. Ela precisava de cuidados todo o tempo, dei uma pausa nas caminhadas pois ela precisava de cuidados dia e noite, alimentação, precisava trocas as fraldas, ela sentia dores, estava ferida, incomodada, irritada, Muito tenso. Ninguém vinha me ajudar porque só ela, que é idosa, tinha se vacinado, então tive que me virar sozinha e acho que consegui me sair até bem, pelo que me lembro, não perdi a doçura e o bom humor ao lidar com ela, mesmo que ela, com toda razão, estivesse sempre uma pilha de nervos. Mas eu cansei muito esse mês. As máscaras caíram.

MAIO - Vacina Pfizer parte 1; Gabo, Acioli, Juan Rulfo e racismo e Jeferson Tenório;
Dei uma passada no posto e tomei a vacina
Estava gorda e descabelada, bem diferente da Camila soar de março.
Eu tinha pressa,  não podia deixar minha mãe sozinha!

Em maio a situação melhorou um pouco, ela deixou as fraldas, podia comer melhor, mas ainda estava fraquinha e continuava precisando de mim todo o tempo, não podia sair por muito tempo, então aproveitei para ler mais, reler realismo fantástico, Gabo e li o maravilhoso Pedro Páramo . No meio daquela situação tão tensa que passava em casa, continuando o tema da ancestralidade que abriu o ano, li o melhor livro contemporâneo de 2021, O avesso da Pele, de Jéferson Tenório que, assim que terminei de ler, soube que era diferente! Mas teve uma coisa ótima esse mês, eu tomei a vacina! Que emoção, quanta esperança!

JUNHO - Boa e má literatura latino americana; Bernardo Brayner; biografias com livros e Prince;
Lendo Bicho Geográfico, do meu amigo Bernardo Brayner

Junho foi parecido com maio, muito ocupada com mamãe, só dava tempo para ler antes de dormir, quis ler outros autores latino americanos, além do Gabo, li um contemporâneo que não gostei. Li um livro lindo , do meu amigo Bernardo Brayner, e fiquei nostálgica sobre como começou nossa amizade há décadas. Comprei a bio da Elza, que só fui ler em dezembro, e me apaixonei pelo Prince!

JULHO - Prince, morte e amor com Gabo; Trianon, capítulo de livro e Nicolai Gogol;
Estava frio, eu queria me esconder atrás dos livros

Nesse mês um capítulo de livro que escrevi no ano passado foi publicado, fiquei contente. Sai pra passear pela primeira vez na Pandemia, fui ao parque Trianon com meu amigo Rafael.
Só em julho as coisas começaram a melhorar em casa, minha mãe mais fortinha, o que me deixou enxergar o quanto eu estava acabada, gorda, sem vaidade, sem alegria, sem conversa, sem contato. Esse período foi de cárcere mesmo, só falava ao vivo com minha mãe e com a terapeuta a cada quinze dias. Um dia fui a farmácia para minha mãe, me pesei e vi que estava muito gorda, tinha descuidado muito de mim, não podia ter feito isso, ainda mais sabendo que nem podia sair para caminhar, chorei muito aquele dia e a sensação de que tinha ficado velha e feia em poucos meses não me abandonou o resto do ano, mesmo assim comecei uma dieta por conta própria. Minha alegria era ouvir Prince, tantos sons e musicalidades!

AGOSTO -Prince; Vacina Pfizer parte 2; voz literária de Odilon Esteves ;Paulo Scott incômodo; Jorge Amado; Stênio Gardel e aulas de Guilherme Arantes;
A palavra que resta de Stênio Gardel e Mar Morto de Jorge Amado
Leituras poéticas e lindas

Agosto ia ser o mês de tomar a segunda dose da vacina, estava com muita expectativa de poder me libertar mais um pouquinho. Foi um mês que eu tive que sair mais, tinha meus exames anuais para fazer e levava sempre um livro para me acompanhar. Podia ser um livro lindo e poético como o Mar Morto, do Jorge Amado ou A Palavra que resta, de Stênio Gardel, ou incômodo como O ano em que vivi de literatura , de Paulo Scott. Me vacinei no dia 20 e só em setembro poderia voltar a academia, tudo o que eu mais queria. Aprendi música com Guilherme Arantes no Facebook.

SETEMBRO -Fabiane Guimarães e os rich people problems; Live Pedro Bloch e humor infantil; academia; Tenda dos Milagres e Prince;
Minha felicidade em voltar a treinar é inenarrável

Muitos assuntos em setembro, o mais importante foi voltar a academia, isso significou que eu estava imunizada e que minha mãe estava melhor, mais independente e eu podendo cuidar um pouco de mim. Voltar a academia significou pegar sol, ver e interagir com pessoas, foi como nascer de novo. Mas também esse recomeço me mostro o quanto esses quase dois anos sem treinar me enfraqueceu! Eu não conseguia fazer muita coisa, pedia ajuda de Deus e dos Orixás pra não desistir, porque eu acreditava que como era antes nunca mais ia ser ser. Mas não desisti. Fiz live para falar da minha pesquisa de pós doc e li o pior livro do ano, Apague a luz se for chorar, da Fabiane Guimarães e também Tenda dos Milagres, outro maravilhoso do Jorge Amado. Nesse ínterim, aprendia cada vez mais sobre música com o Guilherme Arantes pelo Facebook e foi maravlihoso quando ele falo do Prince.
OUTUBRO - Adaptações de Tenda dos Milagres; Mostra de Cinemas Africanos; Artigo sobre Cinemas Africanos, Lygia Fagundes Telles; Encontro Critica Genética; Abraço no Prince;
Abraçando Prince


Teve Mostra de Cinemas Africanos, pena eu estar tão cansada, mas consegui assistir tudo: AMO!
Fui ver adaptações do romance Tenda dos Milagres como minissérie da Globo em 1985 e como filme de Nelson Pereira dos Santos em 1977, gostei muito da trilha sonora e de Nelson Xavier como Ojuobá Pedro Arcanjo na TV , embora a série tenha mudado tudo de lugar, ficou bonita, já o filme é mais fiel ao romance, mas destaco a cena em que Pedro Arcanjo explica porque, sendo um materialista, continuava frequentando o candomblé, é que ai vemos como esse personagem é uma espécie de alter ego do Jorge Amado e como eu, tantas vezes, me identifico com ele. Li o fantástico Antes do baile verde , da Lygia Fagundes Telles, participei de outro congresso de critica genética, mas como estava muito mais exausta do que em março, foi bem light. Foi meu aniversário e eu dei um jeito de, enfim, dar um abraço no Prince, meu crush!

NOVEMBRO -Nutricionista; Hilda Hist e Rosa; Jorge Amado e Saramago; Lima Barreto na Consciência negra; Congresso de Estudos sobre infância;J . Tenório vence Prêmio Jabuti; Marçal Aquino é bom, mas não tudo aquilo, Prince;
No dia da consciência negra, recomendei
a leitura de Lima Barreto

Continuava exausta no treino, procurei uma nutricionista para me ajudar a ter mais disposição, foi a melhor coisa que eu fiz, com orientação profissional, passei a me sentir bem melhor. Li o divertido A Descoberta da América pelos turcos, do Jorge Amado, com prefácio do Saramago. Recomendei que lessem "Clara dos Anjos" ou "Recordações do escrivão Isaías Caminha", de Lima Barreto se quisessem saber o que era "consciência negra". Participei de um congresso sobre estudos de infância na UERJ, falei do Pato Fu, mas senti que podia ter me saído melhor. Como suspeitei, O Avesso da pele começou a ser reconhecido, ganhou prêmio Jabuti de melhor romance literário de 2021 e eu vibrei! Li o recomendadíssimo "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", do Marçal Aquino e não achei nada de tudo aquilo que me falaram. Acontece! Continuei com Prince na cabeça e no coração.

DEZEMBRO - Publicação do meu livro, Vacina gripe, Dose de reforço contra covid, biografia da Elza Soares
Na live de lançamento do meu livro 

Em dezembro tomei muitas vacinas, contra gripe e a de reforço da covid, teve o lançamento do meu livro Escrevendo a lápis de cor: Infância e História na escritura de Guimarães Rosa, foi uma grande emoção.


O livro mesmo me chegou na véspera de natal, com um presente e foi lindo só li a biografia da Elza e ouvi muita coisa dela, em várias fases, depois escrevo melhor sobre.

Assim foi meu ano, que se encerra em poucas horas.
Que 2022 seja mais leve e mais alegre!