sábado, 13 de junho de 2020

“Inxeba”(Os Iniciados), África do Sul, 2017, direção John Trengove


O filme conta a história de três homens que participam de um ritual tradicional africano  nas montanhas  de  Cabo Oriental, África do Sul, que acontece anualmente.  O personagem principal é Xolani, um operário solitário que viaja todo ano para participar do rito  de Ulwaluko, que consiste na circuncisão de adolescentes de origem Xhosa para que eles ingressem finalmente na vida adulta.  Na época do filme, ele vai com recomendação  de um pai do jovem Kwada, percebendo que ele não se enquadrava no projeto de masculinidade aceito, paga Xonali para ser responsável´pelo rapaz da cidade  e tentar evitar que ele se torne homossexual. O problema é que esse jovem, que é gay,  e é bastante questionador e acaba descobrindo um segredo entre seu instrutor e Xolani, acabando com a paz na local. O trailer

Os  três homens em conflito  na montanha, local mostrado como uma selva deslumbrante, seguram uma tensão sexual mútua o filme todo e o final, realmente é surpreendente.

As cenas de sexo entre os personagens são quase  sempre gravadas no escuro, com os corpos negros camuflados, exceto no final, quando as verdades começam ser reveladas a olhos nus e não é mais preciso esconder nada.  Interessante observar que, no começo do filme, as cenas sexuais se confundem as com as cenas da circuncisão – ambiente escuro, corpos negros  gemidos de dor ou prazer - , como se fossem metáfora da dor e do prazer do crescer?

É sabido que, ao contrário de muitos países africanos, a África do Sul tem uma boa relação com o tema da homossexualidade, mas no filme a tensão se coloca porque a questão é trazida para um ambiente tradicional, apresentando um enredo original que mescla costumes e modernidades.


Na live de debate sobre o filme com o doutor em letras Lecco Fraça,que estava ótima, falando sobre a delicada questão da sexualidade retratada no cinema africano e fazendo belas leituras do filme, até que foi interrompida por estar violando as regras do Youtube : por que, gente? 


No trecho que  pudemos companhar da live, o filme começou a ser abordado de diversas formas, como a partir dos seus cartazes no Brasil (Os Iniciados); na África (Indexa- Ferida) e em espalho (La Herida)
cartazes:


 Depois foi sugerida uma comparação com o  belo  filme queniano Rafik dirigido Wanuri Kahiu, sobre o amor entre duas garotas num lugar onde o homossexualidade é crime, tanto que o premiado filme não pôde ser exibido em seu próprio país, mas ai a tranmissão foi cortada. 
Realmente foi uma pena termos ficado sem essa contribuição completa, de qualquer modo, recomendo assitir ao filme e pensar sobre masculinidade, masculinidade negra e mais, masculidade negra africana, porque, como apontou Juciele Oliveira,  mediadora do debete , o cinema pode constrir contra narrativas de reação à opressão em assunto polêmicos, como a sexualidade e o afeto em África.

Enfim, é um filme sobre Masculinidades. Masculinidades negras. Masculinidades negras em África. Bem tenso.


Não nesse dia, mas nessa época