sábado, 30 de março de 2013

MURUCUTUTU: O Acalanto dos acalantos

Foi recolhido por Mário de Andrade, no norte do Brasil... assustadora:

Estudando o mamanhês...

"Um estranho idioma, vagamente parecido com o português, cheio de caretas e sempre com voz melosa. É o que um grupo de pesquisadores está chamando de "mamanhês". Estas primeiras tentativas de comunicação de um bebê humano com os seus é cheia de significados, claro. Segundo a dissertação (na área de psicologia) de Inês Catão Henrique da Silveira, defendida na Universidade de Coimbra em 2005 algumas características deste tipo de fala:

CARACTERÍSTICAS SINTÁTICAS: Frases curtas e independentes, paradas durante o enunciado, repetição;
CARACTERÍSTICAS LEXICAIS:Simplificação morfológica, reduplicação, multifuncionalidade das palavras;
CARACTERÍSTICAS PROSÓDICAS:tom de voz bastante agudo, entonação exagerada, velocidade de emissão mais lenta, silabação,alongamento de vogais;

Gente, com essas características não dá para "imaginar" a fala de um adulto com um bebê? Só dá, né? rs

quinta-feira, 28 de março de 2013

João, o menino Rosa e a Coleção Brasileirinhos

 
João Guimarães Rosa foi uma das figuras da cultura nacional escolhida para ser personagens de um dos livros paradidáticos da Coleção Brasileirinhos, destinada a apresentar às crianças e jovens biografias de personalidades consideradas "do bem".
Jakson Ferreira de Alencar, organizador da coleção, explica AOS EDUCADORES, não aos leitores: 

“Vivemos uma grande carência de paradigmas éticos. As tão propaladas ‘celebridades’ dos nossos dias, em grande parte, não tem muitos méritos, nem artísticos, nem éticos (entendendo-se por ética não um conjunto de regrinhas, mas uma maneira de bem orientar a vida, individualmente e em relação com os outros e com os valores humanos). Reina uma mentalidade forte segundo a qual o que vale é a fama e o dinheiro a qualquer custo. Com isso ficam ocultadas as verdadeiras celebridades, as grandes personalidades que não quiseram fama e dinheiro a qualquer custo, mas que se dedicaram a edificar um mundo melhor e a elevar o nível da humanidade, pessoas que verdadeiramente ‘fizeram a diferença’ no mundo, seja na arte, na educação, na espiritualidade, no trabalho ou na cultura em geral. Por isso a Coleção Brasileirirnhos apresenta algumas dessas personalidades paradigmáticas de nosso país , as quais podem servir de inspiração para nossas crianças construírem seu futuro. A vida de cada uma delas é apresentada desde a infância, mostrando elementos que contribuíram para que fossem o que foram. A intenção não é apresentar modelos a serem seguidos, pois ninguém repete ninguém, e cada um segue o seu caminho, mas realmente apresentar inspirações.Os textos não são pedantes nem chatos, nem moralistas; pelo contrário, foram escritos de maneira literária, poética, gostosa de ler, como se fossem narrativas poéticas mesmo. Acreditamos que os leitores apreciarão muito saborear esses livros."

Partindo das propostas da coleção, acho difícil que os livros não sejam lidos como moralizantes. Sinto, de leve, um tom de preconceito cultural nesta proposta - coisa com a qual Rosa jamais concordaria -, mas o que importa é edificar a imagem de mais um vulto nacional. Em pleno século XXI acho no mínimo digno de nota.

 

 

terça-feira, 19 de março de 2013

Carta aberta : Fórum "SP Sem Passado: Ensino de História e Currículo"



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Fórum "SP Sem Passado: Ensino de História e Currículo"

Carta Aberta



São Paulo, 16 de Março de 2013.
Recentemente, através das Resoluções nº 81 de 16/12/2011 e nº 2 de 18/01/2013, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo retirou o ensino de História (além de Geografia e Ciências Físicas e Biológicas) dos 1º, 2º e 3º anos da Matriz Curricular dos anos iniciais do Ensino Fundamental e reduziu a presença da disciplina de História a 5% da carga horária no 4º e 5º anos, restando apenas 100 horas de estudo de História numa carga total de 5.000 horas de estudos para as crianças entre 6 e 10 anos de idade.
Soma-se a esse sequestro cognitivo, a proposta curricular

São Paulo Faz Escola, criada em 2007 e ainda mantida pela atual gestão do governo do estado, com seus fascículos apostilados voltados aos anos finais do Ensino Fundamental e Médio, denominados Caderno do Professor e Caderno do Aluno, que padronizam práticas, engessam a autonomia e a criatividade dos professores, objetivando o estreito propósito de treinar jovens para obter melhores notas nos sistemas padronizados de avaliação como SARESP, Prova Brasil e ENEM.
Diante desse fato, a ANPUH-SP e ANPUH-Brasil, através de seus GTs de Ensino de História e Educação, promoveram, no dia 16 de março do corrente ano, o Fórum

SP Sem Passado: Ensino de História e Currículo no auditório da Faculdade de Educação da USP, que contou com cerca de 120 participantes, entre professores do Ensino Fundamental e Médio, estudantes de História e Pedagogia, além de professores e pesquisadores de ensino de História da FEUSP, FFLCH-USP, UNIFESP, UNESP, PUC-SP, UNICAMP, UNINOVE e FIG.
Durante o evento, foi ressaltada a defesa da escola pública e destacou-se a importância do ensino de História na formação de crianças, jovens e adultos, pelas possibilidades de ampliação do conhecimento do mundo historicamente constituído, compreensão das temporalidades históricas, reflexão crítica sobre ações, acontecimentos e processos de transformação, e formação humanística. Da mesma forma, foi expressa

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uma legítima preocupação diante da ausência do ensino de História para crianças, adolescentes e adultos, que serão educados (ou deseducados) na ignorância do passado, resultando numa bomba de lesa-conhecimento.
Além disso, a proposta indica de forma absolutamente equivocada, que disciplinas como História, Geografia e Ciências não contribuem para o processo de alfabetização e letramento das crianças. Cria-se uma artificial e inverídica oposição entre esses conhecimentos, como se o ensino dessas disciplinas fosse incompatível com Língua Portuguesa e Matemática, negando todas as discussões teóricas e as práticas bem sucedidas, acerca da interdisciplinaridade, e as potencialidades que trabalhos dessa natureza representam para o processo de aquisição da leitura e da escrita. Assim, ao invés de aprofundar a formação dos professores quanto ao conhecimento da especificidade dessas disciplinas escolares visando ampliar as possibilidades de trabalhos que assegurem formas significativas de aprendizagem para os alunos, a SEE/SP prefere promover a subtração de disciplinas básicas do currículo, restringindo o conhecimento de uma expressiva parcela das crianças paulistas, aviltando, inclusive, a formação do professor.
Se, como disse o poeta Décio Pignatari,

"na geleia geral brasileira (e paulista), alguém tem de fazer o papel de medula e de osso", a ANPUH, mais uma vez não se furta a esse papel e, assim como nas décadas de 1970 e 1980 em que se insurgiu contra a implementação de Estudos Sociais, agora se posiciona contra as propostas curriculares que desqualificam e extirpam História, Geografia e Ciências da formação das crianças paulistas. Sabemos que essas práticas que retiram a História e promovem a amnésia social, promovem também o apagamento e o silenciamento do passado ao deliberadamente ignorar o debate acumulado sobre a História escolar das últimas décadas, bem como as pesquisas nesse campo, instituindo um ensino excludente que priva a parte mais sensível da população, as crianças em formação, do conhecimento histórico.
GT de Ensino de História e Educação da ANPUH-SP
GT de Ensino de História e Educação da ANPUH-Brasil

terça-feira, 12 de março de 2013

Historiador escreve passado da infância - Esmeralda Bolsonaro Blanco de Moura


"A história das crianças no Brasil começou a ser escrita nos anos 70. Interessados em conhecer como viviam as famílias e as mulheres em outras épocas, historiadores perceberam que era importante conhecer também o passado das crianças. Pensando em documentos antigos – jornais, revistas, leis, imagens -,foram muitas as crianças que viveram em São Paulo desde sua fundação. Revelaram informações importantes sobre as crianças indígenas, escravas e livres, brasileiras e imigrantes. Escreveram a história de meninos e meninas que frequentaram escolas, trabalharam em fábricas, brincaram nas ruas ou foram abandonadas. Os historiadores enfrentam dificuldades para pesquisar sobre história das crianças: muitos documentos se perderam, foram destruídos ou danificados. Em 450 anos de história da cidade, há ainda muito que aprender sobre as crianças. Mas os historiadores já mostraram a importância de conhecer o passado da infância e, mais do que isso, a necessidade de refletir dobre o presente e o futuro das crianças na sociedade. "
 
Esmeralda Bolsonaro Blanco de Moura -
Folha de São Paulo – Folhinha, São Paulo,p. F5 , 24 de jan de 2004.

domingo, 10 de março de 2013

"Canção de ninar brasileira: aproximações", de Silvia de Ambrosis Pinheiro Machado,

No curso a Silvia falou desta música que Dorival Caymmi compôs para ninar a filha Nana (Ninar a Nana), e que depois ela mesma cantou seu acalanto:
 
 

 

"Despertar e conhecer as cantigas de ninar: palavras poéticas cantadas para adormecer que veiculam heranças e tradições e, porque vinculam as crianças não apenas ao adulto que delas cuida, mas à língua que se entoa, são também fundamentos de uma nação. Se pensarmos que  a palavra nação, em latim natio, onis deriva do mesmo radical do verbo nascor, eris; natus sum; nasci, que é nascer e que, por sua vez, a canção de ninar se origina no contexto do nascimento e infância humanos, podemos considerá-la, a canção de ninar, como ponte que comunica a macro história social, cultural e étnica de um povo à micro história da infância na família, ou, meno(s)r ainda, de uma criança desse povo em sua família. A canção de ninar, objeto cultural que circunda o nascimento humano, participa fundamentalmente, pois, da organização de uma 'nação; estuda-la é também conhecer um pouco mais os dinamismos desta nação. Nesse sentido, assinalo um ângulo importante aberto no decorrer do estudo das canções de ninar brasileiras: a análise de seus textos deixou transparecer elementos reveladores dos encontros e desencontros étnico-culturais dos diferentes povos que formaram a nação brasileira. Junto a vestígios de dor e horror de um tempo de investidas colonizadoras e dominações, apareceram também traços de resistência e preservação cultural dessas etnias, nos conteúdos e no material sonoro das letras das canções de ninar; como se elas fossem veículos propícios ao transporte resguardado de elementos fundamentais da cultura dos grupos humanos invadidos e/ ou submetidos à escravidão, no período colonial brasileiro. Se é possível distinguir elementos assim polarizados, é necessário também pontuar que, justamente enquanto expressão artística, a canção de ninar constitui um espaço hospitaleiro entre línguas e culturas, ultrapassando suas fronteiras, misturando-as e gerando o novo.Sob esse ângulo e com a indagação sobre a eficácia estética da canção de ninar - ou seja, que elementos a tornam um objeto de arte e, nessa medida, potencialmente capaz de humanizar?-desenvolveu-se este estudo[...]"
 
 
MACHADO, Silvia de Ambrosis Pinheiro. Canção de Ninar Brasileira: Aproximações. Tese de doutoramento, FFLCH/USP 2012, p. 23-4. TESE DE DOUTORAMENTO DIPOSÍVEL PARA DOWNLOAD AQUI.
 

sábado, 9 de março de 2013

Estórias Alegres do Vovô Felício

errNa introdução, escrita num balão de gibi gigante, como uma fala :
“Esta é a coleção ESTÓRIAS ALEGRES DO VOVÔ FELÍCIO. E a gente queria contar uma estória: Vovô Felício é um personagem e um autor. Personagem porque foi o nome escolhido pelo escritor Vicente Guimarães, no início de sua carreira, para com ele assinar suas estórias e histórias. Personagem, ainda, porque o próprio escritor virou gente importante e hoje é das mais altas personalidades da literatura brasileira. Autor porque já nos deu uma série enorme de livros do mais alto gabarito, lidos por todas as crianças brasileiras, desde quando ele, em Minas, se tornou editor de suplementos infantis de jornais e, posteriormente, diretor da revista Era uma vez...,que marcou época  na história do jornalismo infantil.
O lançamento de Estórias alegres de vovô Felício constitui, por isto, uma honra para a Editora Comunicação que, com tão pouco tempo de atividade, já pode entregar ao público uma série de quatro livros do maior escritor vivo da literatura infantil brasileira, segundo opinião de todos os críticos e educadores.  Mas além da inventividade oferecida por Vicente Guimarães, em sua linguagem pessoal e em  seu estilo vivo, estamos também presenteando os pequenos leitores com as fabulosas ilustrações de Joselito, desenhista que, como o autor dos livros, dispensa apresentações.
Vicente, criador do famoso João Bolinha (que virou até boneco de fábrica de brinquedo) já escreveu sobre todos os assuntos que possam interessar às cerianças, desde  vidas de homens ilustres, até a estória do burrinho pedrês  ‘Sete de ouros’, adaptação  infantil do conto ‘ O burrinho Pedrês’, de seu sobrinho Guimarães Rosa. E aqui nas ESTÓRIAS ALEGRES DO VOVÔ FELÍCIO, ele aparece em toda a sua versatilidade ;conta lendas de nosso folclore e cria estórias agradáveis e sadias , que revelam o seu talento criador.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Sobre músicas e sonoridades

 
Como muitos já sabem, sou absolutamente fã deste livro e penso nele em relação ao meu doutorado desde o começo...mas agora, com as questões propostas pelo (fantástico) curso  'canções de ninar' que estou assistindo, tô mergulhando de vez nele.
 
Na última capa do livro  tem um trechinho de depoimento com o qual sempre concordei e ele  justifica meu imenso interesse desde quando fazia graduação:


"Mais do que escrever uma nova história das músicas, a ambição de Wisnik é fazer uma nova interpretação da História a partir das músicas. Para ele, as músicas são uma forma de decifrar o sentido do mundo" Carol Gubernikoff - Jornal do Brasil

Agora, depois de anos interpretando esta obra ( e depois de conhecer a 'Teoria da Canção' do Luiz Tatit e a de 'Paisagem Sonora' de  Murray Schaffer) eu ando pensando que talvez não seja apenas as músicas que são capazes de decifrar melhor os sentidos do mundo ... mas as SONORIDADES em geral . Uma leitura mais atenta deste livro abre a chance para que a gente pense neste tipo de coisa e eu ando pensando demais!