quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Os rolezinhos e o "Grande Sertão: veredas"

Guardando as devidas propoções,  com todo este incômodo causado pelos "rolezinhos" eu  não pude deixar de lembrar do catrumanos - os miseráveis do Grande Sertão: Veredas -, e especialmente o medo absurdo que Riobaldo sente deles:

"E de repente aqueles homens podiam ser montão,montoeira, aos milhares mis e centos milhentos,vinham se desentocando e formando, do brenhal, enchiam os caminhos todos, tomavam conta das cidades. Como é que iam saber ter poder de serem bons, com regra e conformidade, mesmo que quisessem ser? Nem achavam capacidade disso. Haviam de querer usufruir depressa de todas as coisas boas que vissem, haviam de uivar e desatinar." 
João Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas, p. 553"

Diante deste medo tão profundo de que, de repente, os miseráveis saíssem das margens, tomassem a cidade, os espaços sempre negados a eles,  o jagunço chegou a declarar que nunca mais ia rir na vida... Sobre este medo de Riobaldo - que seriao grande medo do brasileiro -  Ettore Finazzi-Agrò falou no Seminário em homenagem aos 50 anos do romance em 2006, texto que foi publicado com o título "Pós tudo : banimento e abandono no Grande Sertão", na revista do IEB no. 44, p. 159-172