sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Um livro sobre o Candomblé


Fui la na FFLCH buscar este que é o último empréstimo de livro como ex aluna que me cabe e comecei a ler. Trata-se de "um livro sobre o candomblé", o "Segredos guardados: orixás na alma brasileira" de Reginaldo Prandi. Escrito por um professor e pesquisador (claro que é só uma percepção da coisa, um pouco de fora, bem acadêmica, mas é importante também, especialmente este bem claro, quase didático), uma leitura muito interessante! Só lamento que este, como a maioria das coisas sobre a cultura negra no Brasil seja tão mais caro! Só em biblioteca mesmo para conseguir pelo menos experimentar a leitura, enfim!
Faz tempo que estou fora das salas de aula, nesse país que rejeita seus especialistas, mas tenho muita saudade de dar aula. Recortei esse trechinho do livro porque ele é rico em questões para se discutir, dá panos para mangas, o que acham:


“Mesmo  quando o negro se expressa para afirmar a negritude, a condição africana, não resta a ele fazê-lo senão como um brasileiro. Ainda que o passado ancestral perdido seja a África pluriétnica, multicultural, o passado recuperável  é aquele que o Brasil logrou incorporar  na construção de uma nova civilização, passado que só pode ser reinventado, memória  recriada. Entre o Brasil contemporâneo e a velha África, bem como  entre a antiga Europa e as perdidas civilizações indígenas, situa-se a nossa própria história, que nos impede ou auxilia no reencontro do nosso ponto de partida, nos meandros da civilização que ela mesma engendrou. Do Brasil de hoje se faz  raiz África de ontem, África simbólica que é memória e identidade possíveis dos afro-brasileiros. O candomblé, nesse processo, deixa de ser religião e passa a funcionar apenas como fonte idealizada de identidade, mesmo porque o candomblé não tem a menor disposição   de se enfileirar com o movimento de afirmação do negro; pais e mães-de-santo, muitos deles brancos ou mestiços, querem ser apenas líderes religiosos, longe de qualquer outra instituição que possa interferir na comunidade que eles formam e dirigem com mão-de-ferro. Do outro lado, embora alguma parcela do movimento negro possa escolher o candomblé como símbolo de identidade africana, dificilmente o conjunto todo estará disposto a assumir uma religião e submeter-se às suas orientações. Candomblé e movimento negro têm a mesma origem, mas já não podem ser juntados. O candomblé tornou-se religião universal, já não pertence a raça ou etnias definidas, é religião “para todos nós”, para todos os brasileiros. “ Reginaldo Prandi. "Segredos guardados: orixás na alma brasileira", p. 172-3