segunda-feira, 30 de novembro de 2020

" Quartiers Lointains 6 - Afrofuturismo”, França, 2020, curadoria Claire Diao

Alguns realizadores de " Quartiers Lointains 6 - Afrofuturismo”!

Nesta semana assistimos uma seleção de curtas com o tema Afrofuturismo.QUE SELEÇÃO DE FILMES FODA! Queria tanto ter assistido na telona, nossa! Eu amo curtas, são mais difíceis de assistir, contém muitos detalhes, vendo na plataforma, é impossível não voltar e voltar e voltar... São 5 filmes: 

1-      "E dai se as cabras morrem", Marrocos, 2019, dir. Sofia Alouí

O filme conta a história de Abdellah, um jovem pastor que vive nas montanhas e  é forçado a buscar comida para as cabras no mercado para que elas sobrevivam, mas ao chegar à cidade, vê que todos se refugiaram na mesquita com medo de um fenômeno sobrenatural que teria ocorrido ali. O  filme é esteticamente lindo, com imagens que adoraria ter visto na telona, mas que até na telinha do computador enchem os olhos. O fato sobrenatural ocorrido Abdellah  vê no celular, mas a gente só sabe o que é no final do filme, quando uma luzes estranhas invadem o céu das montanhas, assustando as cabras. Mas ainda na cidade o pastor se questiona: “E se não estivermos sozinhos no universo? E se tudo o que aprendemos com nossas tradições estiver errado?” Questões  que a diretora Alouí apontou na live sobre a seleção, como ainda muito pertinentes ao Marrocos do século XX. E a pergunta que a diretora não respondeu, pois não era de seu interesse inicial,  é se esse filme seria mesmo afro futurista. De qualquer forma é um filme fantástico.










 




2-      "Este foi para o mercado”, Quênia, 2017, dir, Jim Chuchu

Uma artista queniana monta uma estratégia surpreendente para conquistar o mercado internacional de arte contemporâneo. Em menos de cinco minutos este curta da série “Nós precisamos de preces” (We need prayers) é uma bomba crítica, sarcástico,incômodo ao questionar o afro futurismo e como isso se tornou uma forma de vender a altos preços a ideia de um futuro afro. Na live com os realizadores, Jim Chuchu, o habilidoso diretor, concordou que a presença deste filme em uma seleção de Claire Diao  não porque ele é afro futurista como era o filme Pantera Negra, mas porque é uma bem arranjada colocação crítica sobre o termo cunhado na diáspora americana, vinda da África, apresentando alguns dos incômodos sentidos no continente ao verem suas crenças, tradições, arte e cultura, perderem significados originais, moldarem estereótipos  e se transformarem em um poço de dinheiro que nunca volta para a África.    












3-      “Ethereality”, Ruanda, 2019, dir Kantarama Gahigiri

Um astronauta perdido no espaço volta à sua terra natal depois de 30 anos e se questiona sobre o que teria mudado depois de tanto tempo. É um filme bastante original, traz a tradicional figura do astronauta africano, que já tinha visto em filmes como Afronautas, mas agora em outra situação: caminhando pela cidade, sem ser percebido por ninguém, assim como tantos dos africanos em diáspora que migraram para Europa, por exemplo. Citação transcrita mais ou menos literalmente “Lar é local onde o ser se sente à vontade, o país da pessoa e as vezes, para sobreviver, é preciso abandonar o lar. Diferentes das girafas e elefantes, leões não migram. Muitas pessoas também não. Mas quando não é possível voltar ao lar,precisam se apegar a algo , uma esperança , que é expectativa ou desejo de que algo melhor aconteça (conseguir trabalho, documentos, etc), mas esse sentimento de confiança não anula jamais o que o imigrante trouxe de sua terra dentro de si e tantas vezes, ao voltar ao lar original é encontrá-lo modificado, pois você mudou, os lugares mudaram.   










 4-      “Hello, Rain”, Nigéria, 2018, dir. C. J. Obasi

Começa com uma bela epígrafe :

“Mulheres africanas , em geral, precisam saber que não tem problema ser como são, ver sua forma de ser como uma força, e se libertar do medo e do silêncio”. (Wangari Maathai, ambientalista queniana, ativista e Nobel da paz 2004)

Rain é uma bruxa que, por meio de uma combinação alquímica de juju (magia)  e tecnologia de computadores e celulares, cria perucas que dão a ela e suas amigas Philo e Coco poderes sobrenaturais, que acaba causando um cenário de destruição e mortes. É o mais divertido e colorido  dos filmes, no entanto tem ares de filme de terror. Bastante crítico a itens de cultura nigeriana, inclusive a cinematográfica, como Nollywood: “África, conhece a si mesma”. O filme é inspirado no romance “Hello Moto” e apresenta três mulheres amigas  lindas e poderosas que, depois da experiência mágico tecnológica das perucas, se tornam violentas e assassinas. Rain é a feiticeira tecnológica que defende que existe magia na ciência,  se veste de azul, mora num quarto azul e tem o seu namorado que se veste de azul, é ela a responsável pela experiência das perucas que suas amigas usam para viajar a Paris fazer compras. Philo, a da peruca verde, vira uma assassina cruel, diz “Eu sou a Besta, sou admirável e linda”, se acha melhor que todos, de quem arranca dinheiro e rouba-lhes a essência e assiste filmes de Nollywwod, “a única coisa digna nesse país esquecido por Deus”. Coco é a que veste a peruca rosa, diz que seu esposo está sempre fora, trabalhando para ela: “meu corpo é fogo, meu rosto é impecável, meu cabelo é poder”. Rain tenta, sem sucesso, reverter o feitiço, pois sua intenção com as perucas era a de que elas gostassem mais de si, não de que virassem assassinas e sanguessugas, como todas acabaram virando.  Na conversa com os realizadores Obasi comentou que seu desejo era homenagear as mulheres, em homenagem às duas irmãs que perdeu, e mostrar que são valiosas por ser quem são. 










5-      “Zumbis”, 2019, República Democrática do Congo, Bélgica; dir. Baloji

  O filme é uma viagem alucinante pela noite de  Kinhsasa, enfocando a relação das pessoas com os celulares e a necessidade de estarem o tempo todo conectados.

No role em que as personagens vão se divertir , a canção entoada desde a barbearia é:

“as pessoas não dançam mais, todo mundo tem seu holofote” ... apenas selfies!

Um filme bonito, com pessoas bonitas dançado. Vejamos algumas imagens 









 




Tudo isso em curtas metragens: Só quis deixar registrado que a cada ano a minha paixão por curtas se justifica! 

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

"O Preço do amor”, Etiópia, 2015, direção Hermon Hailay

Cartaz 


16 DE NOVEMBRO DE 2020 -  O primeiro filme etíope que assisti na vida, fiquei apaixonada por toda aquela gente dourada e linda. Um país de Zahabes! Demorei um tempão para conseguir escrever sobre ele, a minha imersão foi imensa, só que eu tenho que encerrar essa essa primeira visita ao país da beleza plena.

O enredo é simples e direto : O jovem taxista Toddy (Eskindir Tameru) atua  na capital Adis Abeba e se empenha em proteger a belíssima  prostituta Fere (Fereweni Gebregers), com quem acaba se envolvendo.

Mas a graça do filme é mesmo conhecer a Etiópia através do seu cinema, ver a paisagem local,ouvir as músicas e sons.

Vou fazer uma leitura diferente dele, através de imagens.

Primeiro a imagem da belíssima prostituta Fere, que mesmo chorando, é deslumbrante 

A linda Fere

Prostituta trabalhando

Até chorando ela é deslumbrante: "Não olhe para mim"

Na cena em que ela chora no táxi, depois de ser resgatada do trabalho por Toddy, ela canta uma canção etíope que não consegui encontrar, mas é algo parecido com esse tipo de cantiga.

Encontrou o apoio de Toddy



Nesse filme a gente vê a cidade (Adis Abeba?)  Muito através da janela do carro de Toddy, que é nosso motorista.

A cidade pela janela do táxi

Pessoas etíopes são bonitas, têm um brilho luminoso, especialmente as mulheres. Pena que levem uma vida nada  fácil, são escravizadas, prostituídas, discriminadas  e sonham sair dali sem sequer imaginar o que pode lhes acontecer fora.
Belas moças levada ao exterior,sonhando em melhorar de vida
Outra imagens da cidade que embora sejam imagens urbanas, de algum modo parecem irreais. Outro mundo, mas ao mesmo tempo tão parecido, como costuma ser em África para olhos brasileiros. 
Não podia ser o centro de São Paulo em um raro momento mais vazio?

Como tentei pescar da paisagem mostrada na janela do táxi de Toddy imagens do cotidiano da cidade na Etiópia,  é claro que  uma cidade grande tem edifícios enormes no centro


E como é um filme, também tem poesia visual urbana na cidade 
Rotatória simbólica

E cores citadinas


Por fim, a cidade transborda, também na Etiópia
Uma cidade grande, mas no meio da Etiópia
E a cidade  acolhe as personagens em diversos momentos do filme
Toddy acolhe Fere escorado numa pedra significativa

Nos bares e restaurantes 

E  um amor através do espelho do táxi, em momentos sublimes
A imagem inesquecível do grande amor


Fere e Toddy abraçam a cidade

Conversa com a diretora do filme



A entrevista com Hermon Hailay, a diretora do filme etíope "Preço do amor" na plataforma do Cinesesc. Ela falou mais sobre a industria do cinema na Etiópia, um pouco sobre as tradições nacionais, a música do filme que envolve apresentações e intrumentos tradicionais, o motivo de seu interesse em contar histórias de prostitutas em seus filmes ela e sua irmã tiveram uma loja de cosméticos em Adis Abeba e era justamente na área em que ficavam as melhores clientes, as prostitutas, e com elas conversou, soube das suas vidas e de toda a problemática que as envolve naquele país tradicional. Comentou que muitas delas acaba se envolvendo com taxistas, então o enredo não foi à toa. 
Termino com um comentário nada surpreendente em se tratando de uma mulher etíope : que mulher linda que é Hermon Hailay. 



terça-feira, 24 de novembro de 2020

Notas sobre a penúltima aula do curso sobre Cinemas africanos

 

Cena do filme Rafiki, Quenia, 2018


Minha intenção é escrever direito sobre o curso Cinemas Africanos : desdobramentos e perspectivas só no final, mas não resisti a publicar essa nota escrita após uma das últimas aulas. Volto só assunto em breve, por hora:

"PENÚLTIMA AULA DO CURSO SOBRE CINEMAS AFRICANOS  - Na excelente aula de hoje falamos sobre os contextos de produção dos cinemas africanos contemporâneos e algumas discussões foram bem interessantes: filmes africanos não são a mesma coisa que "cinema negro", filmes africanos podem abordam mulheres, suas histórias, são dirigidos e escritos por elas, mas também podem não ser; na contemporaneidade a antiga relação de dependência  com os outros países "financiadores" ou "mantenedores" europeus ou americanos continua em certa medida, mas já existem muitas propostas e tentativas de incentivar o surgimento de um cinema feito por africanos e africanas e essa é uma das graças da contemporaneidade! 
Tem muita treta, muitos problemas, mas sai  da aula bem feliz, acreditando, sim, que exitem saídas para uma certa "independência" dos cinemas africanos, que não deve ser totalmente restritiva, mas deve trazer de forma mais carregada os tons de África, porque é para isso que a gente vai ver filmes africanos, se não fosse, veríamos algum Blockbuster qualquer."

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Live com Fernando Costa no Dia da Consciência negra


No dia da Consciência Negra em 2020 eu fiz uma live com Fernando Costa no Instagram, foi massa.

MINHA LIVE COM Fernando Costa NO INSTAGRAM, você pode assistir aqui.