segunda-feira, 18 de abril de 2016

Dias seguintes


Nos dias seguintes a defesa da minha tese em agosto de 2014 senti que me faltava o chão e não sabia o que fazer depois de anos imersa naquele trabalho, agora eu tinha todo o tempo livre e, ao invés de começar a escrever artigos alucinadamente (como manda a lógica fordista que rege a pesquisa científica atual), fui assistir a todos os vídeos e filmes sobre a ditadura militar disponíveis na internet. Era algo que eu sempre queria ter feito, desde a graduação (1999-2003), quando ainda não se falava muito sobre o tema (ressalva ao inesquecível curso da excelente professora Maria Aparecida de Aquino), os arquivos não eram abertos a consultas pública ainda e tínhamos poucas produções às quais dificilmente tínhamos acesso. Agora, já no século XXI tínhamos muitos deles, até mesmo os produzidos pela "Comissão da Verdade" e eu tinha todo o tempo do mundo para assisti-los, então me propus essa jornada dolorida e assisti tudo,, conheci os nomes de perseguidos (como a Inês Etiene Romeu), de desaparecidos (Rubens Paiva, por exemplo), de militares, torturadores como o citado ontem Ustra e não conseguia parar de ver, passava madrugadas vendo tudo , foi uma loucura que contei para o meu orientador e ele comentou ser coisa de historiador essa " absurda sede de conhecimento do passado". E do meu passado. Como já disse muitas vezes, nasci no fim de 1979, quase junto com a abertura política, na minha família não tivemos perseguidos políticos nem nada, mas minhas memórias de infância são repletas de flashs relacionados a redemocratização do Brasil. Lembro de ter visto cenas da manifestação pelas "Diretas Já", mas e essas não sei se vi mesmo (eu tinha só 4 anos) ou se essa lembrança visual foi construída depois quando eu voltei a ver a imagens mais velha, mas o importante é que eu lembro de ter vivido aquilo de algum jeito, e me apropriei daquele acontecimento como memória pura; também lembro, ai eu um pouco mais velha, que assistindo a desenhos da TV, eles eram sempre interrompidos por boletins da "assembleia constituinte". Eu tinha sete anos e não sabia o que era aquilo, mas de alguma forma eu sabia que era algo muito importante. Tempos depois, disso me lembro bem, meu pai chegou em casa me mostrando um livro (sempre ele me trazendo livros!), o nome era "Constituição da República Federativa do Brasil" e na minha cabeça de criança devo ter feito alguma ligação, não lembro qual,  entre ele e os boletins da constituinte. Ai, já adulta, fui estudar História, será que foi à toa? Não me tornei uma pesquisadora de história política, nem de ditadura, mas esse é um dos assuntos base da minha formação profissional e como pessoa. Agora estamos em outro "dia seguinte" e novamente sem muito chão firme para pisar, e não consigo mais ler ou assistir nada, precisava apenas desabafar sobre esse turbilhão que me sufoca. ‪#‎nãovaitergolpe‬ simplesmente porque não poder ter!