quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Aconteceu: Virou Manchete

Quando eu digo que pesquiso a coluna sobre falas infantis de Pedro Bloch na revista Manchete, alguns torcem o nariz, dizendo que ela era uma espécie de Revista Caras da época e tal. Pode até ser mesmo, mas além de eu saber que não vou estudar propriamente a revista Manchete toda (pós doutorado é um estudo tópico, né?), eu ainda acho que taxar, de antemão, a revista como ruim é absurdo. Segundo minhas pesquisas para escrever o capítulo final da tese, no final da década de 1950 e começo da de 1960, era na Manchete que se publicava a coluna ‘Poesia é Necessária’ (seleção poética feita por Rubem Braga, coluna na qual foram primeiro publicados alguns dos poemas de Vinicius de Moraes, que depois fariam parte do livro A Arca de Noé, por exemplo). É que o Rio de Janeiro na década de 1960 era culturalmente exuberante e isso também pode ser identificado nas páginas coloridíssimas da revista Manchete...

domingo, 8 de novembro de 2015

"A Noite estrelada" e o rememoramento ...

A Noite Estrelada-  Vincent van Gogh (1889-1890)

Vocês sabem que eu amo Van Gogh e esse quadro em especial, por causa de tudo, tudo além da beleza, enfim...
Uma coisa importante : "A Noite Estrelada foi pintada de memória e não a partir da vista correspondente de uma paisagem, como de costume."  ... de memória, colegas. Benjamin (sempre ele) escreveu "o importante para o autor que rememora, não é o que ele viveu, mas o tecido de sua rememoração..." (In "Imagens de Proust", p.37).
Tecido da rememoração, talvez, seja o que eu tentei (inúmeras vezes, mas sem sucesso em nenhuma delas) explicar ser o que estava chamando de "RELEMBRAMENTO" (que é um neologismo de Rosa), e que não corresponde à simples memória do vivido, bruta, mas a todo um processo de... de... REMEMORAÇÃO.
Van Gogh rememorou e viu coisas que só muito depois remetemos a imagens científicas, disponibilizadas pela NASA:


Como existe beleza no mundo!

Desenho em caneta de Reed, executada depois da pintura (in Wikipédia).

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Sobre "No Mar", de Toine Heijmans


Pela terceira vez comecei a a ler o livro "No mar", de Toine Heijmans, que me dei de presente de aniversário, mas não consigo engrenar na leitura, embora, acreditem, esteja gostando muito. Certamente a irregularidade na leitura deve-se a problemas meus. A escrita é fluída e começa logo levando a gente para dentro de um barco nomeio ao mar ...não me assustou nem me atingiu de cheio, mas é bom de ler. O navegador está em seu barco, apenas na cia de sua filha Maria, de 10 anos, e sabe que precisa manter tudo sob controle por ele por ela:
"Na primeira noite de nossa viagem no mar, Maria apareceu de repente na porta da cabine, um espectro:
'Não estou conseguindo dormir. Tudo estala e range', ela disse.
'Eu também passo por isso na primeira noite no mar', comentei.
'Posso ficar com você?'
'Amanhã. Primeiro vá dormir. No mar é importante que você durma bem.'
'Mas primeiro você precisa tirar aquele morto de lá. Aquela coisa pendurada dá medo.'
'Vou tirar.'
Tirei o macacão do gancho e pendurei em outro lugar. Levei Maria de volta ao camarote de proa, coloquei-a sob as cobertas e entoei canções que cantava quando ela era bebê. Ela pegou no sono.
Naquela noite, ainda acordou mais uma vez. Na segunda noite, não mais.
Maria é uma criança forte. Foram poucas as vezes que a vi com medo. De qualquer forma, ela não conhece o medo adulto, que esmaga os miolos da gente. Medo de criança é diferente. É fácil de espantar. Como uma lâmpada que você acende e apaga: você canta uma musiquinha ou inventa uma história, ai ela ri e logo dorme.
Medo mesmo a gente só sente mais tarde.
Agora ela está dormindo e eu preciso lutar contra meus próprios medos. Tenho que permanecer tranquilo. Se estou tranquilo, Maria se sente tranquila. Funciona assim com as crianças." (P.11-2)

Eu tenho uma amiga  que sempre diz que eu sou uma criança grande. Quando eu li esse trecho lembrei del, porque ontem (hoje também) só queria que alguém me fizesse dormir cantando Murucututu ou outro acalanto... como não tem mais isso aqui, eu mesma me acalentei (privilégios de ser grande, talvez), mas o medo (e o frio) continuam...

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Sobre "Esse viver ninguém me tira", do Caco Barcellos


Acabo de ver esse documentário e escrever aos amigos pesquisadores de Rosa:
"Oi rosianos e rosianas, Acabo de assistir o emocionante documentário "Esse viver ninguém me tira", do Caco Barcellos sobre a D. Aracy. Achei muito lindo, adorei a parte que aparece o arquivo do IEB, com a Beth Ribas, a Vera Tess (Ooó), a Dona Beatriz ,no apartamento do doutor Eduardo que eu visitei para entrevistar... me chamou a atenção, também, como os  parentes dos sobreviventes e especialmente  o Eduardo (filho de Aracy)  se emocionaram quando algum pesquisador (no caso de Aracy, a pesquisadora Mônica Raisa Schpun) "descobria" e lhes mostrava uma parte da história que eles não conheciam e que só o trabalho do pesquisador lhes permitiu desvendar . Lembro da emoção de Vera Tess quando eu levei até ela (no mesmo apartamento que mostra o documentário de Barcelos) os trechos dos Cadernos de estudos (material de trabalho literário de Rosa)  onde ela era carinhosamente citada pelo vovô Joãozinho, coisa que  ela nunca imaginou:  os olhos verdes, emocionados, dela são para mim inesquecíveis... como historiadora, me toca lembrar, porque mostra que  não é só um trabalho intelectual (que se fosse, seria muita coisa já), mas é um resgate de vida, muito emocionante.Um abraço caloroso da Camila"