segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Leituras de Jessé Souza


Não vou entrar no debate a respeito do pensamento do Jessé Souza ou o seu papel como interprete do Brasil ou mesmo na História da esquerda brasileira, mas compartilho esta entrevista porque, como historiadora, acho sempre válido ler. Dela, me chamou especial atenção essa parte 
"Qual o tamanho da redução da desigualdade no Brasil durante os governos Lula e Dilma, período que você também dirigiu o IPEA ?A redução pra mim foi real, especialmente quanto aos aumentos reais do salários mínimo. Isso é que foi decisivo. E principalmente aqui no Nordeste, com o bolsa-família. Mas essas coisas, quando você só pensa no dado econômico, tornam pesquisas sempre mancas. Porque você não percebe coisas muito mais importantes. Mais importantes do que dinheiro é você abrir espaço para quebra de privilégios, romper privilégios. Por exemplo, você romper o privilégio do acesso ao ensino universitário é muito mais importante do que qualquer medição monetária dessa, porque você está abrindo espaço novo para o futuro e importante porque o conhecimento é o único capital efetivamente democratizado no contexto capitalista. E o fato do Governo do PT ter feito 400 escolas técnicas, várias universidades, aumentar de 3 para 8 milhões os estudantes, obviamente foi o motivo dele ter caído. Não tem nada a ver com corrupção. Se fosse corrupção essa classe média coxinha tinha saído agora às ruas. É óbvio, isso é método comparativo das ciências sociais. Se fosse corrupção agora, com comprovações muito mais explicitas… mas pessoas continuam soltas e a coxinhada estaria em peso nas ruas. Cientificamente não foi a corrupção. O que foi então ? Foi a redução da distância entre as classes. A corrupção é um mero pretexto."

Essa pergunta e a resposta certeira (porém dolorosa) de Jessé, evidenciando aquilo que vemos acontecer todos os dias no Brasil de Temer: a crise na educação brasileira é um projeto, como disse Ribeiro ... E foi ela, através da expansão e da facilidade de acesso ao ensino superior por classes mais baixas nos governos Lula e Dilma, que Jessé julga ter sido a responsável pelo maior esgarçamento da hierarquia social. 

É muito terrível ver que, pelo menos nessa parte, Jessé tem razão.