Quando cheguei em casa com ele |
Continuando a leitura de obras de Conceição Evaristo, emprestei da Biblioteca do Sesc Pompéia o volume Becos da Memória (2006), um mosaico de histórias narradas nos becos de uma favela, em fase de "desfavelamento", que resultará na expulsão daquelas personagens do seu lugar de pertencimento, para que em seguida se construa novos prédios no local. É um romance ficcional, mas ali tem muita realidade para o meu gosto. Claro que Conceição Evaristo é maravilhosa uma excelente escritora, comprovado pela minha última leitura do seu excelente Canção para ninar menino grande, que comentei aqui, só que esse livro foi mais difícil de ler.
Eu li na terceira edição, de 2021, pela Editora Pallas, com belas capas compostas de imagens do acervo pessoal da autora, mostrando muitas fotos de pessoas negras como essas:
Em um dos prefácios Conceição explica que esse livro foi escrito nos anos 1980, ainda antes de seu primeiro volume publicado, sendo assim uma de suas primeiras experiências literárias. Explica que não são ainda escrevivências, mas ensaios dela. Nesse livro inventado, nada é real, mas ao mesmo tempo tudo é realidade e essa dualidade baseia sua ficção, como aposta um bom romance contemporâneo, inclusive com fotos que são reais, mas quem seriam nesse romance, ou não seriam? Ou seria apenas uma aposta estérica,um cenário?
Ao ler, como poderão perceber
nas impressões de leitura que publicarei abaixo neste post, eu senti muito essa predominância de uma realidade, diante de uma ficção ainda não tão bem construída. Fui muito rigorosa com ela, eu sei, é que eu sei que ela pode mais. E pode mesmo!
Como eu gosto sempre, primeiro eu li o livro, só depois os prefácios e posfácios. Nesta edição temos dois posfácios.
Em A força das palavras, da memória e da narrativa, de Simone Pereira Schmidt encontramos uma bela leitura, apontando que a narrativa das memórias daquela personagens servem como resistência ao trabalho devastador dos tratores. Isso realmente acontece, mas não foi essa a impressão que me chamou mais atenção na leitura. Talvez numa releitura eu me volte a essa questão.
Já em Costurando uma colcha de memórias, Maria Nazareth Soares Fonseca faz um comentário teoricamente robusto, citando Michael Pollak e Walter Benjamin para defender que nesse romance, ao dar aos sujeitos o poder de narrar o próprio sofrimento em fragmentos alegoricamente escondidos nos becos da favela, vemos emergir a expressão de uma "memória subterrânea" que se oporia à "memória oficial" (Pollak, "Memória, esquecimento, silêncio", 1989), na luta pela legitimação da memória. Muito bonito e verdadeiro, porém não alivia o peso do texto que, na leitura do romance, continua bastante angustiante.
Vamos ver meus comentários de leitura :
Ainda no primeiro dia de leitura, mais citação:
"BECOS: Ainda faltam algumas páginas, mas entrei na fase em que qualquer momento acabo a leitura . Já disse que gosto do livro, acho importante lê-lo por diversos motivos, mas que agora que estou sob tensão né início de ano, eu preferia estar lendo algo menos cru. Entretanto venho seguindo firme a primeira leitura de 2024. Ela, por ser bela e pesada, tem me feito crescer uma casca protetora: nos primeiros dias de leitura eu sentia muita angústia, pela história do livro, pela história da minha vida, tive que massagear o coração tantas vezes para aliviar e ouvir Cartola para interpretar. Hoje não estou mais tão sensível, o que se há de fazer? Só terminar a leitura e escrever sobre ela no Pequenidades até o final do mês. Sigamos!
Depois algumas citações bonitas:
Até mês que vem!