terça-feira, 15 de janeiro de 2008

GUIMARÃES ROSA: TRADIÇÃO DA RUPTURA?

A idéia famosa desenvolvida no texto "Tradição da ruptura",de Octávio Paz, aponta a modernidade como um tempo só possível de tratar se partirmos do paradoxo, que é o seu cerne! Nas palavras de Paz, entendemos melhor que, para ser moderno:

"Basta con que se presente como una negación de la tradición y que nos proponga otra. Ungido por los mismos poderes polémicos que lo nuevo, lo antiquíssimo no es un pasado: es un comienzo. La pasión contradictoria lo resuscita, lo anima y lo convierte en nuestro contemporáneo." [Octavio PAZ. Los hijos del limo. P. 21]

Poxa, isso parece ser interessante, não é? Alguns não gostam da idéia (como o professor que ministou o curso que eu fiz sobre poesia mexicana), mas para mim - que estudo Guimarães Rosa a partir da História - é absurdamente genial.Isso porque Rosa declarou a seu mais conhecido entrevistador :

“Não sou um revolucionário da língua. Quem afirme isto não
tem qualquer sentido da língua, pois julga segundo as aparências. Se tem de haver uma frase feita, eu preferia que me chamassem de reacionário da língua, pois quero voltar cada dia à origem da língua, lá onde a palavra ainda está nas entranhas da alma, para poder lhe dar luz segundo a minha imagem.” [Günter LORENZ. Diálogo com Guimarães Rosa.P. 84]

Segundo Paz, pontos de vista como este são possíveis no contexto da modernidade porque este fenômeno histórico provocou tamanha aceleração do tempo histórico que a sua concepção de tempo assumiu outra configuração, onde não havia mais passado, presente e futuro perfeitamente definidos, mas sim uma unidade de tempo onde estas categorias borravam-se freqüentemente.

É por isso, talvez, que Paz, em "Signos em rotação", sentiu-se à vontade em defender idéias como a de que

"Nossa atitude diante da vida não está condicionada pelos fatos históricos, ao menos da maneira rigorosa com que, no mundo da mecânica, a velocidade ou a trajetória de um projétil encontra-se determinada por um conjunto de fatores conhecidos totalmente, pois mudança e indeterminação são as únicas constantes de seu ser - também é história." [P. 249]

Pois é, camaradas, meu mestrado defende essse tipo de idéia, que é algo muito diferente (disse diferente, nem melhor, nem pior...) do que muitos intérpretes do "conteúdo histórico" nas obras literárias fazem...Se pensarmos na crítica de Rosa então - na qual jagunços já foram interpretados como alegorias de grandes personagens históricos, por exemplo- qualquer coisa que eu falar, mesmo tendo um cabedal de peso me ancorando, vai ser meio que cutucar as onças...