Em novembro de 2021 começou eu já estava exausta, como agora eu tenho treino de manhã, sabia que não ia dar para acompanhar tudo, e o evento era muito grande, não dava mesmo para acompanhar tudo, mas ao final deu tudo certo e acompanhei pelo menos uma mesa em cada um dos dias, comento um pouco aqui.
23 de novembro : Cerimônia de abertura
Logo na cerimônia de abertura tivemos três conferências interessantes, a primeira foi a tocante fala da professora Juliana Merçon (Universidad Veracruzana/México), sobre infâncias em situação de adoção (comentei, com traços pessoais, AQUI). Juliana, mãe adotiva de Michele, se emocionou muito na sua fala, e sabendo que ia se emocionar, pediu para falar em espanhol e ler um texto. E foi muito lindo. Ela fala sobre muitas questões, como a da institucionalização da adoção; os objetivos dela (direito da criança a ter uma família, de ser amada, de ter sua auto estima construída, etc). Por outro lado, fala sobre o acesso difícil da criança à sua "origem" biológica (parte que lhe foi negada, e que tantas vezes ela não se sente no direito de buscá-la, afinal ela já tem família...).
Em seguida tivemos a fala do professor Flávio Santiago IFMT USP, sobre infâncias na migração africana, pesquisa que, nas palavras delem "procura abordar o acolhimento e a inserção de crianças negras africanas no contexto da educação infantil paulistana". O pesquisador conversou com pessoas nas creches e recebeu pelo menos dois tipos de comentários. O primeiro foi das secretárias e funcionários administrativos, que traziam palavras duras, reforçando o imaginário ocidental sobre África como região pobre, suja (que fediam), sem cultura e tecnologia, o que foi contraposto a partir de uma mãe, que aqui era professora de francês, lecionou para jornalistas e cuja filha aluna falava francês e diversas línguas africanas, ensinava as outras crianças diversas canções africanas, o que era um compartilhamento cultural muito rico. Também nessa linha, o professor ouviu as professoras dessas crianças, que traziam outras informações que contribuíam para a quebra de estereótipos, como de que as crianças eram animadas, as roupas das mães eram coloridas, os turbantes muito alegres, as mães receptivas aos trabalho dos professores. os estereótipos, explicou o pesquisador, servem como justificativa para o preconceito contra os grupos imigrantes e, no caso, também o racismo e como ele existe na educação infantil, é nela que deve ser combatido.
A terceira e última apresentação foi da pesquisadora Jana Tabak UERJ, que tem um importante estudo sobre a militarização da infância, recebeu a seguinte pergunta de F.R.S.:
"P/ Jana: Em favelas cariocas, a instituição PM investe em dias de lazer p/ crianças em batalhões. Seria um investimento em "formação de crianças soldadas" para "outras guerras"? Políticas de segurança?"
24 de novembro : Mesa sobre infância e música, com os seguintes trabalhos:*“CAMINHOS ENCANTADOS”: UMA EXPERIÊNCIA ESTÉTICA EM DANÇA COM CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Patrícia Gomes Pereira
*MÚSICA DE BRINQUEDO, PATO FU: O CONCEITO DE BRINQUEDO EM QUESTÃO: Camila Rodrigues
*MÚSICA INFANTIL: TRANÇANDO O TEMPO E ENTENDENDO A HISTÓRIA: Anderson Carmo de Carvalho, Andrea Rosana Fetzner, Maya Suemi Lemos
*LIBERDADE E EDUCAÇÃO: GESTO POÉTICO E POLÍTICO NO ENCONTRO DA MÚSICA, INFÂNCIA E DOCÊNCIA: Bianca de Oliveira Cardoso, Sandra Regina Simonis Richter
Foi uma mesa muito gostosa e apaixonante, com professores que trabalham diretamente com crianças, teve acolhimento, debate e trocas, Eu colo aqui o resumo da minha apresentação :
MÚSICA DE BRINQUEDO, PATO FU: O CONCEITO DE BRINQUEDO EM QUESTÃO
Palavras chave: Brinquedo, Infância, Música de brinquedo,Pato Fu,Teoria da canção
Música de Brinquedo, Pato Fu: o conceito de brinquedo em questão Camila Rodrigues 1 Resumo: Um utensílio para brincar, oferecido pelos adultos, só se torna um brinquedo depois de assumir novos significados através da brincadeira (BENJAMIN, 2002, p. 95-102), tornando-se “objeto específico da infância” (FANTIN; PIACENTINI, p. 67), pois é o resultado de um processo de subjetivação inaugurado nos primeiros tempos da vida (JARDIM, 2002, p. 09), mas que reaparece sempre que o ser humano brinca, não importa a idade (WINNICOTT, 1975).Para problematizar o papel do brinquedo escolhemos analisar o projeto, destinado ao público infantil, Música de Brinquedo, do grupo de rock brasileiro Pato Fu, constituído por um álbum (2010) gravado usando instrumentos de brinquedo e miniaturas, com arranjos compostos com a inserção de falas e cantos de criança e também de uma “paisagem sonora” (SCHAFER, 2001, p.11) infantil, ou seja um ambiente acústico formado pelos sons que a gurizada produz e ouve; e um DVD (2011) ao vivo, com a participação de bonecos do Teatro Giramundo (MG), no qual vemos os integrantes da banda curvando-se para tocar os delicados instrumentos de brincar infantis. O interessante projeto incita algumas indaçações sobre a conceituação de brinquedo: Em quais momentos aqueles instrumentos seriam brinquedos, ou “de brinquedo” (ficcionais)? Para crianças ou para adultos? Ainda que não cheguemos a conclusões definitivas, analisar esta fonte nos permite discutir a abrangência e os limites da utilização do brinquedo como instrumento de trabalho musical adulto e com isso adentrar os estudos sobre infância a partir da compreensão e articulação do conceito de brinquedo nas concepções de W. Benjamin e D. W. Winnicott; como também esboçar uma investigação metodológica mais atual, utilizada no campo interdisciplinar da Teoria da Canção (CORREA, 2016, p. 183), que é a da análise da performance artística (exame do repertório, criação, arranjos, apresentação do palco, etc.) do Pato Fu nesta proposta envolvendo o universo da criança. Palavras chave: Brinquedo; Infância; Música de brinquedo; Pato Fu; Teoria da canção.
FONTES
CD PATO FU, Música de brinquedo, Brasil, 2010.
DVD PATO FU Música de Brinquedo ao vivo, Brasil, 2011.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. Brinquedos e jogos. Trad. Marcus Vinicius Mazzari. In: Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Editora 34, 2002, p. 95-102.
CORREA, Priscila Gomes.Nada me consola: cotidiano e cultura nas canções de Caetano Veloso e Chico Buarque. Salvador: EDUNEB, 2016
FANTIN, Monica & PIACENTINI, Telma Anita. Museu do brinquedo como centro cultural. In: LEITE, Maria Isabel & OSTETTO, Luciana Esmeralda. (orgs). Museu, educação e cultura: Encontros de crianças e professores com a arte. Campinas: Papirus, 2005, p.55-72.
JARDIM, Claudia Santos. Brincar: um campo de subjetivação na infância. SãoPaulo:Annabl
ume;Fortaleza: Secult, 2002.
MACHADO, Silvia Ambrosis Pinheiro. Canção de ninar brasileira: Aproximações. São Paulo: DUSP, 2017.
RODRIGUES, Camila.Escrevendo a lápis de cor: Infância e História na escritura de
Guimarães Rosa.São Paulo: Desconcertos Editora, 2021.
SCHAFER, Murray. Afinação do mundo. Trad. Marisa Trench Fonterrada. São Paulo: Ed. Unesp,
2001.
WINNICOTT, D.W. O Brincar e a realidade. Trad. José Otávio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago.1975.
__________________O Destino do objeto transicional. In: WINNICOTT, Clare. Explorações psicanalísticas : D.W. Winnicott/ Clare Winnicott, Ray Shpherd &Madaleine Davis.Trad. José Octávio de Aguiar Abreu, Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994, p.44-8.
Como não pude mostrar o Power Point, colo aqui os slides
Só tenho a agradecer ter participado desse congresso 💓25 de novembro : Mesa sobre protagonismo infantil na pré escola e Cerimônia de encerramento
Nesse dia eu consegui assistir à mesa de discussão "MANIFESTAÇÕES DO PROTAGONISMO INFANTIL NAS RODAS DE CONVERSA NA CRECHE", com Miriam Nogueira Duque Villar, Ana Rosa Costa Picanço Moreira, Andressa Lodron de Oliveira e foi aquela gostosura de ouvir experiências de professoras, falando sobre seu cotidiano junto às crianças na creche, sobre como a fala e a escuta, nunca é algo dado à criança, mas ela logo percebe que tem que conquistar esse protagonismo. Sobre esses processos de negociação falaram belamente as professoras.
Depois, também nesse dia, tivemos as conferências de encerramento, dois palestrantes falaram sobre infância em contexto pandêmico e pós pandêmico.
Primeiro tivemos Patricia Redondo (UNLP, Argentina): Las fronteras de la desigualdad: infancia(s), educación y políticas, falando sobre quais projetos a América Latina pensa em construir na pós pandemia.
E o professor Levindo Diniz (UFMG, Brasil): Infância e pandemia: escutar as crianças em contextos de crise, falando sobre um trabalho de enviar um questionário a crianças sobre a pandemia na região metropolitana de BH em 2020, trazendo o que elas pensam sobre, seus medos, suas inseguranças, os aspectos bons e ruins da quarentena, num trabalho lindo que eu recomendo dar uma olhada no vídeo de encerramento que likei acima.
Como sempre, adorei esse congresso!