domingo, 27 de dezembro de 2020

Retrospectiva do blog 2020: O ano dos Cinemas africanos


Não é porque em 2020 tivemos o ano mais atípico dos últimos tempos que as coisas deixaram de acontecer. Não do jeito que estávamos acostumados, mas aconteceram e a  tradicional retrospectiva do blog Pequenidades  vai nos fazer relembrar disso . Vamos lá:

JANEIRO - Comecei vendo uma reportagem sobre sítio arqueológico na Serra da Canastra, no Piauí, me apaixonei pela pintura rupreste de cerca de 12 mil anos chamada “cena do beijo”.

Cena do Beijo na Serra da Canastra, PI

Mal sabia eu o quanto sentiria falta de beijos neste ano. Me indignei com a censura ao especial de fim de ano Porta dos Fundos. Me emocionei  ao observar a citação do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto, na novela das Globo. Curti o samba no Maria Zélia e na Casa das Caldeiras, ainda bem que consegui aproveitar bem no comecinho. Mas o mais significativo do mês foi mesmo ter visto o emocionante filme A Vida Invisível no cinema, sobre o qual comento aqui.

FEVEREIRO – Mês do carnaval, claro. Estava tudo tranquilo demais esse ano, sabia que podia ir todos os dias que eu quisesse, e fui. Foi maravilhoso curtir o pré carnaval do Bloco Lua Vai na Casa das Caldeiras, melhor rolê do ano pela terceira vez seguida.  Depois fui no pré carnaval mesmo, com o maior bloco de rua de São Paulo, o Acadêmicos do Baixo Augusta, curti a Elza Soares #Elza90, a diva do ano com seu painel na Consolação,  e dessa vez fui até o final, com Nação Zumbi e tudo mais.

Painel #Elza90

 Depois era o carnaval mesmo, nos quais investi nas makes neon e no glitter acumulado e brilhei muito nos meus blocos habituais do carnaval de rua de São Paulo - Tarado Ni Você e Explode Coração , que curti com o Vitor; e Lua Vai e Pagu, que curti com a Patricia – que garantiram a diversão do ano. Até no Jornal Nacional eu apareci por alguns minutos, afinal sou mesmo a musa do carnaval. Ainda bem que curti como se não houvesse amanhã. Na verdade não houve.

 MARÇO – A partir desse mês entrei em quarentena e as postagens foram diminuindo, mas no primeira semana ainda consegui ir ao pós-carnaval e foi com muito especial acompanhar o desfile do bloco O famoso Abacaxi de Irará, passando em frente da casa do Tom Zé. Quanto amor!

Pronta pro bloco do Tom Zé

Depois, no dia 8, ainda curti o Samba do Sol dia da Mulher no Mural Casa de Cultura e foi a última vez que eu sai no ano. Começava o período de cárcere e muito medo.Que lástima. 

ABRIL- Clima continuava muito ruim, só ouviamos falar de morte e de doença. Orações a todos os santos, especialmente Omulu. Eu tinha muito medo de adoecer e de deprimir. Tinha muita saudade de um samba e minha mãe criticava mas eu respondi que eu podia ter sim, porque quem é do samba sabe que muito além da alegria,que “a tristeza é senhora, desde que o samba é samba é assim”. Tivemos duas mortes de famosos que senti muito, a do músico Moraes Moreira (aquela cuja carne era carnaval e o coração era igual) e o meu autor da adolescência, Rubem Fonseca. Escrevi um capítulo de livro sobre as anedotas de Pedro Bloch e ele deve ser publicado em 2021. Pensei sobre a arquitetura do sorriso com as máscaras e muito sobre a empatia, tão necessária em nosso tempo. Fui estudar um pouco sobre a pandemia, as pesquisas, fiquei fã da BBC, ouvi muitas vozes de especialistas, especialmente a do Átila Iamarino, que me pareceu sempre muito tenebrosa, ainda gosto de ouvi-lo, mas com moderação. 
Adeus a Rubem Fonseca

Comprei um livro sobre o  filósofo Peter Sloterdijk,  que trata nas dinâmicas da história natural, achei fascinante, mas também muito cascudo para ler sozinha em quarentena. Ai eu comecei a reler Dona Flor e seus dois maridos, Jorge Amado é sempre uma delicia.

MAIO- Estava ficando sem ar, sem sair de casa, querendo arrancar os cabelos. Foi o mês que menos escrevi no blog, nos primeiros quinze dias minhas forças estavam se esvaindo, via toda a vida que conhecia se acabar, tudo adiado ou cancelado. 

Cinemas africanos EM CASA

Ai eu descobri, atrasada, que o Cine África estava disponibilizando de graça no Youtube uma seleção de filmes africanos, cada um com uma live com especialistas e realizadores, foi um grande presente que encheu muito minha vida. Mas foi o mês que eu postei menos coisas. O mais pesado do ano? Só comentei a mostra em junho.

JUNHO-

Belo filme malinês

Nesse mês os filmes africanos começaram a pipocar no blog, primeiro o angolano  Sambizanga (1976), de Sarah Maldodor; depois o senegalês Mossane (1996) da Safi Faye; o primeiro de Ousmane Sembene que assisti Mooladé (2004) e os dois  lançamentos de 2020, de Cabo Verde o Kmedêus, de Nuno Miranda e o angolano Ar Condiconado, de Fradique. Para seguirmos a programação normal da mostra com o sul africano Inxeba (2017), de John Tregove e um dos meus meus filmes africanos favoritos, o espetacular Yellen (1987). Mas falei muito de literarura  também pois comecei e terminei a leitura do primeiro volume da trilogia O Lugar mais sombrio de Milton Hatoum com o volume A noite da espera, com o qual briguei muito e talvez por ter mexido nas minhas estruturas de leitora, chegou a ganhar o prêmio de livro do ano 2020 (depois teve que dividir com Torto Arado, que foi o que eu realmente mais gostei no ano) , não porque tenha sido o que eu mais gostei, mas foi o que mais mexeu comigo.  

JULHO – Seguimos com posts sobre os filmes africanos com o senegalês Félicité (2017) de Alain Gomis, outro de Sembene, o Ceddo (1977) e o mauritano Heremakono (2002). 

Livro onde publiquei capítulo

Afora isso, foi publicado um livro no qual eu escrevi um capítulo sobre o romance Memorial do Convento , de José Saramago e que depois publiquei na íntegra aqui. E no final publiquei aqui um belo resumo, em imagens, dessa primeira temporada da mostra de Cinemas africanos 2020, que salvou tanto minha vida nessa quarentena.

AGOSTO – Não tinha mais mostra de cinemas africanos, mas relembrei três canções inesquecíveis da primeira temporada aqui. Depois ainda tive a chance de assistir ao belo filme Wax Print: um tecido, 4 continentes e 200 anos de História para refletir sobre como o estudo da história material (a de um tecido, a de estampas) pode nos ajudar a refletir sobre mitos de origem que sustentam a identidade africana da comunidade em diáspora e que, muitas vezes, retratam muito mais o próprio processo histórico da colonização africana do que, propriamente,  uma prática tradicional de lá.  Outros assuntos me interessaram,  eu achei uma modelo muito parecida comigo no clipe do Toninho Geraes, foi difertido.  

Eu como a modelo


 
Continuei lendo Hatoum, desta vez o Pontos de fuga e até tive uma conversa boa com ele pelas redes sociais. Me interessei por alguns temas como o da menina estuprada que foi impedida de abordar em seu Estado, um absurdo que comentei aqui e estudei muito, ampliando minha biblioteca de  Korczak, um autor de meu total interesse. 

SETEMBRO  Comecei um curso sobre cinemas africanos que foi maravilhoso e tivemos a segunda temporada da mostra, agora pelo Cinecesc com os filmes de Burkina Faso Fronteiras (2017) de Apolline  Traoré; o camaronês  O enredo de Aristóteles (1996) de Jean-Pierre Bekolo e a deliciosa comédia sudanesa Akasha (2018).

Na Primeira Live

Fui convidada para uma entrevista numa live com o músico e amigo Fernando Costa no Instagram. Meu artigo foi citado e eu tentei um resgate da minha dissertação de mestrado, o que foi ótimo. 

OUTUBRO – Na mostra de cinemas africanos assisti ao queniano Lua nova (2018); ao maravilhoso sulafricano O fantasma e a casa da verdade (2019), dirigido pelo nigeriano Akin Omotoso (o vencedor do preto de ano de 2020); o denso filme egípcio Rosas venenosas (2018), dirigido por Ahmed Fawzi Saleh  e o senegalês  Madame Brouette, de Moussa Sene Absa; Afora a mostra, assistia ao senegalês  E não havia mais neve, de Ababacar Samb-Makharram  e o brasileiro  Café com canela (2018) dirigido por Glenda Nicácio e  Ary Rosa que estão disponíveis no Youtube.


Ana Camila Esteves entrevista o diretor Akin Omotoso, meu crush de 2020


  Voltei a ler Hatoum, os contos de A cidade ilhada, só não sabia que só ia terminar mais de um mês depois, pois estava ocupada preparando as aulas do minicurso Estória contra a História, que ministrei online na Semana de História da Unesp de Assis.

NOVEMBRO – Pela Mostra de cinemas africanos assisti a uma seleção de curtas nigeriamos chamada Beyond Nollywood (2020), com curadoria da inglesa  Nádia Denton ; o suiço Nada de errado (2019), direção Aladin Dampha, Ebuka Anokwa, Lionel Rupp; os curta metragens  Nora Azul Branco e vermelho do meu cabelo; o etíope Preço do amor(2015), direção da bela  Hermon Hailay ; e a seleção Quartiers Lointains 6 – Afrofuturismo (2020) curadoria Claire Diao.

Na live da Consciência Negra

Fui convidada para um sarau literário, no qual li um parágrafo de Clara dos Anjos, de Lima Barreto e também para uma live entrevista no dia da Consciência Negra, com Fernando Costa.

DEZEMBRO – Terminando a mostra de cinemas africanos, assisti ao queniano  Supa Modo (2018), direção Likarion Wainaina  ; ao  sul africano Vaya e ao nigeriano Kasala (2018), direção Ema Edosio. Ministrei a palestra Mergulhando nos cinemas africanos na quarentena num evento da Revista Círculo de giz.

Capa da Revista Faces da História

Foi ao ar o Dossiê História Cultural do Humor na Revista Faces da História, organizado por mim e pelo João Paulo Capeletti e foi muito bom comemorar  o fim dos trabalhos. Nos últimos dias do ano eu terminei de ler o excepcional romance Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, mas ainda não tive tempo de escrever sobre ele, quando fizer isso insiro o link aqui. 

Como vimos, engana-se quem acha que em 2020 não aconteceu nada, não é?  Gratíssima por tudo!

Eu no Natal 2020