quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Crianças. Nomes. Falas

VI
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas
por crianças.
VII
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para o som.
Então a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.
Em poesia que voz de poeta, que é voz de fazer
nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio.
(Manuel de Barros. Obras Completas. Pp. 300-01)
"nomear algo significa convocar, criar realidade da coisa, ou antes, reconhecer essa realidade. Trata-se do valor mágico da palavra, do poder da palavra, da palavra eficaz."
(Adélia Bezerra de Menezes. Cores de Rosa.P. 233)

A persistência da memória - Salvador Dali

"Em 1934, Salvador Dali, pintor catalão radicado em Paris e uma das figuras líderes
do grupo surrealista, expõe numa galeria de Nova Iorque, o quadro "A
persistência da memória", o que se tornaria num dos momentos fundamentais
da sua carreira artística, responsável pelo incremento da sua notoriedade
pública. De facto, os relógios moles - designação muitas vezes atribuída a este
quadro - transformaram-se de imediato num dos ícones mais fortes e
característicos da sua obra.Na tela encontram-se representados três relógios
que marcam diferentes horas tendo como fundo a paisagem de Porto Lligat,
localizado no norte de Espanha, (memória de infância de Dali). Segundo o
próprio autor, a solução formal dos relógios derivam de um queijo camembert que
Dali se encontrava a observar enquanto pintava. As suas formas sensuais têm uma
evidente conotação sexual, nomeadamente o que se encontra no centro do quadro,
estendido sobre uma pedra que simula o retrato do artista.
Dali via os relógios como instrumentos normalizados e exatos que traduziam de
forma objetiva a passagem do tempo. O facto de os dotar de formas orgânicas
remete-os para o universo de prazer, recordando a dimensão fugidía do tempo e o
sentido de ambiguidade que a evolução temporal introduz pelo cruzamento da
perceção da realidade com a casualidade e inexplicabilidade da memória.
Esta pintura traduz o interesse do pintor pelas conquistas da ciência moderna,
cruzando teorias mais abstratas de física, nomeadamente a relatividade de
Einstein, que colocou em causa a ideia de espaço e tempo fixos, com as
pesquisas de Freud relativamente ao inconsciente e à importância dos fenómenos
dos sonhos. A duplicidade de sentido das imagens e as inúmeras interpretações
que promovem assim como a tendência para a criação de cenas absurdas repletas
de signos indecifráveis, levaram a Dali a designar esta forma de arte de
crítica paranoica, em tudo oposta a uma visão racional do mundo. De um ponto de
vista técnico, esta pintura, assim como grande parte das criações de Dali,
perseguem um enorme virtuosismo e meticulosidade no desenho das formas e na
representação dos pormenores, com objetivo de obter atmosferas dotadas de
grande realismo, daí o frequente alinhamento desta fase criativa com o grupo
dos surrealistas ilusionistas ou veristas.
Contém uma grande quantidade de referências de carácter historicista,
particularmente as referentes à pintura maneirista ou à enigmática e fantástica
obra do flamengo Jerónimo Bosch. O quadro Persistência da Memória
(também conhecida por Relógios Moles), foi pintado a óleo, aplicado sobre tela
com 24,1 por 33 cm. Encontra-se exposto no Museu de Arte Moderna de Nova
Iorque."(
http://www.infopedia.pt/$persistencia-da-memoria-(pintura)
Neste texto enciclopédico sobre o quadro "A persistência da memória" (1934) , de Salvador Dali aqui na internetvi coisas que quase acontecem nos meus textos: não são inverdades que se coloca, mas são restrições, é como se só Dali tivesse se preocupado com o direcionamento do tempo ou o questionamento da linearidade no século XX. De qualquer forma, para quem (como eu) pretende se voltar a infância, imagens como esta são um prato cheio de questionamentos...