domingo, 30 de setembro de 2012

O Palácio Convento de Mafra




 O PALÁCIO/ CONVENTO DE MAFRA -Como século XVIII foi de grande prosperidade econômica para Portugal em virtude da descoberta de ouro na colônia em Minas Gerais. A construção se estendeu de 1717 até 1730 .Ao todo são 37790 metros quadrados. O edifício tem 880 salas e quartos, 300 celas, 4500 portas e janelas, 154 escadarias e 29 pátios; os sinos da basílica pesam cerca de 217 toneladas; a biblioteca possui mais de 40.000 livros. Para concluir a edificação foram reunidos cerca de 45000 operários, além de 7000 soldados. A história oficial deste convento é conhecida dos portugueses e geral, mas foi entre 1980 e 1982 quando José Saramago teria estado em Mafra por várias vezes, para pesquisar e imaginar como seria contá-la de outra forma, assim como apresentará em seu romance Memorial do Convento (1982). (CALBUCCI, Eduardo. Saramago- Um roteiro para romances. Cotia: Ateliê Editorial. 1999.p. 25-6)



sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Como e porque Guimarães Rosa criou a palavra Sozinhozinho, segundo Eduardo F. Coutinho

"A afixação consiste no acréscimo, feito ao "significante" de um vocábulo, de um ou mais afixos que venham a alterar o seu significado, sugerindo novas conotações. É o que ocorre, por exemplo, com a palavra "sozinhozinho", empregada por Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. A palavra "só", exclusivamente conceitual em português, não contém em si mesma nenhuma conotação emocional. O poeta anônimo, ao sentir certa vez que o vocábulo era insuficiente para expressar a sua solidão, decidiu, então, acrescentar-lhe um sufixo diminutivo - inho,izinho, bastante usado na língua com o sentido de intensidade (cf."cedinho", muito cedo, "devagarinho", muito devagar). E o resultado foi a palavra "sozinho", significando "muito só". Entretanto, com o desenvolvimento da língua, "sozinho" veio a perder seu significado poético e passou a ser usado como um simples sinônimo de "só". E Guimarães Rosa, percebendo a inexpressividade do vocábulo "sozinho", procurou reavivar o seu significado originário, servindo-se do mesmo processo que acreditava tivesse sido utilizado um dia. Assim, repetiu o sufixo diminutivo no final do vocébulo e criou a forma "sozinhozinho". Eduardo F. Coutinho 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Parabelo: ritmo para nos manter de pé!



Faz tempo que eu tenho a trilha sonora desta coreografia e queria MUITO MUITO ter assistido esse espetáculo ... ainda mais depois que li o que o Tom Zé falou sobre ele em seu livro "Tropicalista lenta luta":
 
"(...)Então eu fiz a pergunta-espelho : como é que o nordestino se mantém de pé, naquela penúria, naquela miséria, naquela subalimentação de 400 anos? Concluí : devem ser os ritmos musicais nordestinos.
Os três principais  alimentos do Nordeste são desidratados: farinha de mandioca, carne-seca e ritmo.
Mas é o ritmo que nos mantém de pé, verticais, que faz o papel dos ossos. Quando ficamos insulados e pobres, no sertão do Brasil, defrontamos um paradoxo : amávamos a herança cultural de nossos avós portugueses - civilizados pelos árabes na Idade Média, ao contrário do restante da Europa, educados pelos bárbaros cristãos, godos, visigodos, bretões...
Assim, amando a cultura moçárabe daqueles avós, mas analfabetizados pela penúria, nosso artifício vital foi falar cultura, conversar cultura, dançar cultura. Passamos a plantar leituras de concepções metafísicas em acontecimentos do cotidiano; a fazer pentimento, sobrepondo à paisagem da caatinga chaves visuais do conhecimento esotérico; a montar eixos de filosofia na sintaxe de uma língua têxtil, de um falar que compõe cosmogonias (ver isso também nos Gerais de Guimarães Rosa).
Ah-pois, meu senhor , essa ossatura que nos mantém de pé, a espinha dorsal que nos sustenta a verticalidade e nos confere uma postura semelhante à de outros humanos, enfim, as consoantes de nossa língua, ou melhor, de nossa vida, é o ritmo. Os ritmos musicais do Nordeste.
Ele é o núcleo mais concentrado : a cápsula da mais densa potenciação cultural nordestina. É para nós como uma face do Sagrado. No Nordeste, o ritmo é Deus desidratado. (...)
Zé Miguel Wisnik compôs, comigo, um edifício sobre tais alicerces e troxemos esses ritmos ao Parobelo.
 
Tom Zé Tropicalista lenta luta. P. 99-100.
 
Um exemplo de ritmo do nordeste:
 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

domingo, 23 de setembro de 2012

Pequenos contos para começar o dia, Leonardo Sakamoto

Adoro ler os textos do jornalista Leonardo Sakamoto no UOL. Ele é  inteligente, costuma ser lúcido e escreve muito bem. Por conta deste meu interesse eu também acabei começando a acompanhá-lo no Facebook e foi nesta rede social que experimentei outra face (ainda mais interessante!) do Sakamoto: o escritor!
Na semana passada ele postou no face um texto literário muito belo:

"Apesar de ser o último do salão, não era alvo da impaciência de fim de noite, recebendo a patética simpatia despendida aos solitários. Olhava atentamente para a xícara de chá vazia, girando a colher em sentido anti-horário, num esforço de fazer o tempo voltar atrás. Não entendia como ela havia ficado assim de repente... Afinal, o gosto doce dos momentos felizes e o aroma cítrico das risadas ainda 
estavam por lá. Talvez tivesse bebido tudo muito rápido e a vida não fora capaz de repor ou, quem sabe, aquela era a cota a que tinha direito. Não importa. Sabia que a culpa era sua. O desejo por um último gole era tamanho que suas lágrimas transbordaram a xícara. Bebeu, então, a saudade de uma só vez. Por fim, verificou se a foto dela ainda estava no bolso do paletó, olhou para a reprodução de Toulouse-Lautrec na parede descascada e, sob a aba do chapéu panamá, partiu. O atendente, curioso, tomou a xícara com cuidado entre as mãos e, num sorriso, confirmou o que pensava: saudade tem cheiro de hortelã." Leonardo Sakamoto

Pela manhã de hoje, domingo 23, eis que ele posta uma previsão: Em breve nas livrarias seus contos:

Claro que, imediatamente,  me deu uma grande vontade de ler, ler e ler porque essa cia (a da leitura), até hoje em minha vida, nunca me deixou nas mãos da solidão. Vide o livro História do Pé (sobre o qual falei à exaustão neste blog desde agosto), que tem me permitido sobreviver aos últimos amargos meses. Um livro de contos do Sakamoto bem que pode seguir por ai (mesmo sem o Nobel do Le Clézio).

Fica aqui a dica, assim que ele estiver nas livrarias, eu comprarei. E você?

sábado, 22 de setembro de 2012

Objetivo da pesquisa...


Estive pensando uma coisa: talvez eu não estude Guimarães Rosa. 

Em minha pesquisa de doutorado eu estudo mesmo é História, através da escritura de Rosa, mas isso é apenas um detalhe: não acho que minhas pesquisas (de mestrado ou doutorado) vão esclarecer coisas tão inéditas sobre Rosa, coisa que especialistas na área das letras não apontaram, estão apontando ou apontarão... mas para a área de  História, onde a coisa pega mais, penso estar enveredando por caminhos bem novos!

Talvez eu esteja atingindo um estado sobre o qual meu orientador comentou certa vez: é um grau de maturidade na pesquisa, onde a investigação passa a refletir sobre si mesma e experimenta  uma sinceridade para consigo mesma e toda a  angústia que isso traz... disso, espero, saem os bons trabalhos na área de História. 

Vamos ver o que eu vou conseguir produzir, mas a angústia tá pesando cada vez mais!

Trechinho de "A chave do poema", de Manuel Bandeira

"Mas isso não é poesia, é enigma". Eu vos direi no entanto que toda poesia é enigma. Toda palavra, antes que lhe conheçamos o significado, é um enigma formidável." (A Chave do Poema, Flauta de Papel - Manuel Bandeira)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Pedro Bandeira e a importância de ler Monteiro Lobato



 
Vejamos um vídeo muito bacana onde Pedro Bandeira (autor da minha geração) fala sobre porque devemos ler Monteiro Lobato.
Bom, continua a polêmica sobre o "racismo" de Monteiro Lobato e  como isso estaria representado  em seu livro "Caçadas de Pedrinho"(o que interessa mais a todo mundo, do que o Monteiro Lobato foi ou não foi),  que agora estão com a possibilidade de ele não ser distribuído nas escolas. Eu acho que o livro tem, sim, que ser distribuído nas escolas, não só porque MONTEIRO LOBATO É UM GRANDE ESCRITOR E DEVE SER LIDO, mas porque se esse livro, em específico, tem coisas que para nós, hoje em dia, são inaceitáveis, mas que nem sempre era comum que se tivesse esse estranhamento imediato até pouco tempo,  é interessantíssimo de ser discutido com as crianças (que podem, sim, refletir sobre isso, ententeder que antigamente o racismo era não era visto como intolerável, mas hoje, já podemos recusar tal postura, inclusive os negros poderão expressar sua sensação ao ler aquilo, coisa que não acontecia até pouco tempo). Acho que não tem lugar mais apropriado para a gente ler (e refletir, repensar, degustar esse livro ) que a escola. Achei uma reportagem simples, com um plano de aula possível sobre o Caçadas , porque se é verdade que a representação do negro na cultura brasileira (não só no livro do Lobato ) é  sempre depreciativa, ler este livro (que é uma delícia de ler) e colocar em questão para os alunos essas coisas é uma das coisas que deve fazer na escola, sim. Desde que se leia com um mínimo de senso crítico...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Na galeria - F. Kafka

Na galeria - F. Kafka
Se alguma amazona frágil e tísica fosse impelida meses sem interrupção ao redor do picadeiro sobre o cavalo oscilante diante de um público infatigável pelo diretor de circo impiedoso e de chicote na mão,sibilando em cima do cavalo, atirando beijos,equilibrando-se na cintura,e se esse espetáculo prosseguisse pelo futuro que se vai abrindo à frente sempre cinzento sob o bramido incessante da orquestra e dos ventiladores, acompanhado pelo aplauso que se esvai e outra vez se avoluma das mãos que na verdade são martelos a vapor — talvez então um jovem espectador da galeria descesse às pressas a longa escada através de todas as filas,se arrojasse no picadeiro e bradasse o basta! em meio às fanfarras da orquestra sempre pronta a se adaptar às situações.

Mas uma vez que não é assim, uma bela dama em branco e vermelho entra voando por entre as cortinas que os orgulhosos criados de libré abrem diante dela; o diretor, que busca abnegadamente seus olhos, respira voltado para ela numa postura de animal fiel; ergue-a cauteloso sobre o alazão como se ela fosse a neta amada acima de tudo que parte para uma viagem perigosa;não consegue se decidir a dar o sinal com o chicote; afinal dominando-se ele o dá com um estalo; corre de boca aberta ao lado do cavalo; segue com o olhar agudo os saltos de amazona; mal pode entender sua destreza; procura adverti-la com exclamações em inglês; furioso exorta os palafreneiros que seguram os arcos à atenção mais minuciosa; as mãos levantadas, implora à orquestra para que faça silêncio antes do grande salto mortal; finalmente alça a pequena do cavalo trêmulo,beija-a nas duas faces e não considera suficiente nenhuma homenagem do público; enquanto ela própria, sustentada por ele, na ponta dos pés, de braços estendidos, a cabecinha inclinada para trás,quer partilhar sua felicidade com o circo inteiro — uma vez que é assim o espectador da galeria apóia o rosto sobre o parapeito e,afundando na marcha final como num sonho pesado, chora sem o saber.

Kafka, F. Um médico rural [Ein Landarzt]. Trad. Modesto Carone. 2-ª reimp. São Paulo: Companhia das Letras,2003, pp.22-23.

domingo, 9 de setembro de 2012

Nossa vida de aranhas


"Sim, é verdade, acontecem muitas coisas. Não podemos porém dize-las todas, somos um tipo que entende mais à mudez, somos sem língua, temos boca enfiada entre as patas e o dorso redondo, não gostamos de explicar as coisas. A quem poderíamos, de todo modo, dize-las? Nossa linguagem ninguém fala, nem todas as pessoas que se mexem, dançam, voam, nunca ficam no lugar, nem mesmo todas essas coisas imóveis como pedrase os galhos. Nós, nós preferimos ouvir e sentir, mesmo sem ver. Já aprendemos segredos de todas as espécies, por nós ouvidos no lugar em que estamos, nas nossas reentrâncias entre as plantas e as pedras. Os barulhos correm pela terra mole, batem de encontro às pedras duras, despencam nos lanosos orifícios que fabricamos. Os segredos, os segredos mais segredos se encontram na poeira. São coisas que vêm tombando e se agarram, tornando-se logo após indistintas. Que se transformam em fumaça, que desaparecem.Mas nós capturamos, nas tênues cortinas que tecemos. "

 (Nossas vidas de aranhas. J.M.G. Le Clézio. p. 176)

O que é que quer uma mulher?

"As mulheres precisam de atenção. Tem que falar com ela, reparar nas coisas de vez em quando, da carinho sempre, lembrar que elas existem e que estão vivas e que são importantes, esta é a única terapia..." Benigno de Fale com Ela

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Briga de Tom Zé com Caetano Veloso em 2008 foi "como se fosse na escola"

♥"Às vezes, as pessoas brigam como se estivessem na escola. Querem atenção. Esse foi um momento de loucura. Queria ser aceito e ter o carinho de Caetano, que é uma coisa muito poderosa." Tom Tom Zé
 
 
Isso me faz lembrar que Winnicot diz em seu "A Criança e o Brincar" que os adultos também brincam o tempo todo, especialmente quando discutem, e isso é tão importante para eles quanto é para uma criança...
 
Para explicar melhor o contexto, colo o texto deste site aqui:

04/09/201219h07

No "Programa do Jô", Caetano pergunta por que Tom Zé o mandou tomar no c... em 2008

 

James Cimino
Do UOL, em São Paulo
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    Tom Zé divulga seu novo CD no "Programa do Jô": "Saí como ele nos dentes!" (04/09/2012)Tom Zé divulga seu novo CD no "Programa do Jô": "Saí como ele nos dentes!" (04/09/2012)
Convidado especial do "Programa do Jô" que vai ao ar nesta terça (4), o cantor Tom Zé enfrentou uma tremenda saia justa com outro ícone do tropicalismo, o cantor e compositor Caetano Veloso. Durante a entrevista, que durou dois blocos, a produção do programa colocou no ar um depoimento de Caetano em que ele pergunta a Tom Zé por que ele teve "aquela reação" em 2008. Durante um show no Ginásio do Ibirapuera, em 23 de novembro de 2008, Tom Zé mandou Caetano "tomar no c..." após dizer que o cantor e "seu grupo baiano" havia se apossado e se beneficiado "daquilo que era meu".

A resposta de Tom Zé foi bastante humilde: "Às vezes, as pessoas brigam como se estivessem na escola. Querem atenção. Esse foi um momento de loucura. Queria ser aceito e ter o carinho de Caetano, que é uma coisa muito poderosa."

Além da retratação, Tom Zé, que está divulgando seu novo disco "Tropicália Lixo Lógico", cantou duas músicas: "Não Tenha Ódio no Verão" e "Tropicália Jacta". O novo ´álbum, segundo o próprio cantor, é um mergulho na obra de Caetano e Gil. "Mergulhei na obra de Gil e Caetano, que são dois luminares, e emergi desse poço de medo com o disco entre os dentes."

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Le Clézio, novamente ...


Já falei aqui sobre este livro enquanto ainda estava lendo a "História do pé". Mas agora estou lendo as "Outras Fantasias", que, infelizmente, não são muito fantasiosas : são descrições de situações que realmente acontecem, mas  que a gente nunca lê sobre, porque nem sempre é possível (ou interessante) narrar (mesmo ficcionalmente) a vida de um refugiado, especialmente se for a partir da perspectiva dele! Le Clézio faz isso nesse livro, e agora, lendo as "outras fantasias",  reforça-se com mais propriedade aquela sensação que tive quando li a "História do pé": aquilo é tema para Homi Bhabha! O tema é a a relação com o sentimento de pertença ou não pertença destas pessoas que estão marginalizadas de tantas maneiras... interessantíssimo, eu recomendo !