quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O tempo nos Cadernos Manuscritos de Guimarães Rosa

 
Um pedaço da minha tese onde eu trato do tempo nos Cadernos Manuscritos de Guimarães Rosa  :
 
"Destaca-se nesse material, especialmente para nós que desejamos repensar os questionamentos da História ali executados, que, tal qual acontece na experiência vocal, o tempo cronológico não é decisivo ali: na maioria dos Cadernos não encontramos nenhuma data, embora esses documentos, ainda assim, possuam sua historicidade . De qualquer forma, também é possível localizar neles algumas sutis marcas temporais, como quando Guimarães Rosa cita a neta Ooó (Vera Tess) ou algum dos textos que escreveu para a revista Pulso, indicando que aquelas inscrições foram feitas por volta da década de 1960, período no qual o autor contribuiu para tal periódico. Mas esse tipo de referência não cristaliza o tempo no manuscrito: não podemos dizer, por exemplo, que todo ou parte do Caderno no qual a data aparece foi preenchido naquele mesmo período, porque não podemos nos esquecer de que, na verdade, estamos defronte de um manuscrito literário e que seu tempo é aquele não linear da criação. Como o escritor possuía grande quantidade de Cadernos e poucos foram preenchidos até a última página, podemos cogitar que eles não eram usados de forma contínua, mas sim que seu emprego obedecia a alguma regra de utilização que desconhecemos. É justamente por causa de tal indeterminação temporal do manuscrito que é possível que coexistam ali as várias temporalidades distorcidas do processo de criação: a de quando a enunciação vocal foi ouvida, a de quando o autor a registrou, a de quando ele a reenunciou; a de quando ela foi revisada; e a de quando foi reinventada pela escritura."
 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Da Primavera - Carlos Drummond de Andrade

Capas da 1a. ed  "Primeiras Estórias" de João Guimarães Rosa, 1962, desenhada por Luiz Jardim 

Com a entrada da primavera fui reler  uma crônica de Drummond escrita em 1962 para o Correio da Manhã, na qual ele cita o lançamento do livro "Primeiras Estórias" e que foi muito citada em outros textos da recepção crítica guardada por Rosa. Um trechinho dela:

"...Mas comparece outro sinal de primavera. Da mesma cor do ipê amarelo é a capa, desenhada por Luís Jardim, do livro de João Guimarães Rosa, com que a Editora José Olympio celebra a nova estação: “Primeiras Estórias”. E o próprio livro é primaveril, como tudo que sai da  cabeça mágica do Rosa : a língua se enfestoa de formas e arranjos novos, alguns  tão cheirando a terra que é como se brotassem do chão. O sentimento sutil que ele capta no coração da gente chamada simples lembra as flores e folhas passadas a limpo pela natureza, tão complexas em sua exatidão. Tudo é novo de novo, e tocado de um alegre mistério, sem embargo do trágico de certas situações. E mais uma vez, não facilitem com o Rosa: ele diz sempre ‘outra coisa’ além do que está dizendo; sua arte não fica nas palavras, vai à captação do sentido metafísico do universo." Carlos Drummond de Andrade. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1962

Um último comentário: Eu mesma (e só eu própria) me surpreendo com o trabalho que eu fiz nesse doutorado. Todos os textos de recepção das estórias guardados por Rosa (cerca de 300) estão transcritos e organizados em  planilhas comentadas, por isso é bem fácil encontrar o que se quer nesse material...
Será que um dia eu serei tão feliz com um trabalho como fui nesse, que nem sentia como um trabalho, mas um enorme deleite?

sábado, 19 de setembro de 2015

Aurora começa a falar, pelo "Papai Pop" Marcos Piagers


Dicionário infantil da língua portuguesa – edição revisada e atualizada
            Aurora está começando a falar. Ela já entende tudo o que a gente fala, como por exemplo, “Aurora, pega uma cerveja gelada pro pai”, mas ainda não formava frases até semana passada, quando me viu fazer que um vídeo em câmera lenta no iPhone e soltou um “QUE LEGAL!”,para delírio dos donos dela, a saber, eu e a minha mulher. A Aurora é uma das coisas mais legais que a gente já fez, sem dúvida.
            Então ela começou a juntar as palavras e ontem já estava dizendo “Papai, vem toma cacaco comigo”, que significa “Papai, vem tomar suco comigo”. Sei disso porque ela estava tomando suco, mas a frase seria a mesma para água, piscina ou banho. Tudo é cacaco. Uma sutil diferença para “papato”, que significa “sapato” e vale para sapatos, tênis, chinelo, botas e até crocs, mesmo que este seja um item proibido aqui em casa (minhas filhas consomem escondidas, incentivadas pela minha mulher. Alô juizado de menores!).
            Todos os animais de quatro patas são “auau” e todos os animais que voam são ‘cocó’. Todas as crianças são ‘nenê’, mesmo que sejam maiores que a Aurora. As únicas pessoas que têm a honra de terem palavras exclusivas são “Papai”, “Mamãe” e a Galinha Pintadinha, que é a terceira ‘pessoa’ que Aurora mais vê e, portanto, tem a alcunha exclusiva de ‘popó’. A Galinha Pintadinha é a melhor babá que já tivemos, aliás. Acalma a Aurora como ninguém e não cobra décimo terceiro. A Super Nanny perdeu seu emprego depois do advento da Galinha Pintadinha.
            É uma fase deslumbrante para os pais, essa dos quase dois anos. Se ela tivesse dez anos e falasse desse jeito ia ser mesmo preocupante, mas como ela parece uma anã falante de pijama pela casa,  qualquer grunhido emociona. Isso até você descobrir que a filha do vizinho  já fala “eu te amo, papai”. Estamos precisando atualizar o dicionário, Aurora.
                           Marcos Piangers. In: “Papai é pop”, p. 71-2

            

domingo, 13 de setembro de 2015

Caminhos de Van Gogh e Caminhos de Minas Gerais

Vejamos esta foto da Serra do Cipó em Minas Gerais, feita pelo fotógrafo  Alberto Andrich

Ela me remeteu ao famoso quadro de Van Gogh, Campo de trigo com corvos :


Belezas ...

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Homenagem de Milton Nascimento a Fernando Brant

Bituca fala sobre Fernando Brant
(Publicado no Facebook )


A última vez em que estive com Fernando foi a menos de seis meses, em minha casa, no Rio. Ele chegou junto com outro grande amigo, Ronaldo Bastos, e foi uma noite como há muitos anos não acontecia. Passamos horas lembrando de histórias, canções, amigos e, principalmente, a amizade que nos guiava em todos estes anos em que passamos juntos. Eu já sabia que Fernando estava com um problema de saúde, mas em nenhum momento falamos disso naquela noite. Não precisava. Fernando esteve ao meu lado nos acontecimentos mais importantes da minha vida. E isso já era o suficiente a ser lembrado.

Em meu último show, em Santos, no dia 5 de junho, uma jornalista pediu para eu contar uma história, qualquer uma. Não sei como, mas automaticamente comecei a falar do Fernando, e de quando eu estava em São Paulo, e fiz três músicas no mesmo dia: “Pai Grande”, “Morro Velho” e “Travessia”, esta última, a que levei para Fernando Brant fazer a letra em Belo Horizonte. O resto é história. 

Sem ele, as coisas não teriam acontecido desta maneira. Nenhuma palavra do mundo é capaz de descrever o quanto eu sou agradecido por ele ter feito parte da minha existência. 

Obrigado Amigo, muito obrigado; 

(BH, 13\06\2015)

sábado, 5 de setembro de 2015

Amor de fã e Marcelo Jeneci

Sem muitas expectativas eu sigo o Marcelo Jeneci no Facebook. Outro dia vi a chamada "escreva como conheceu Jeneci e a sua história com ele", pois queriam reunir todos os depoimentos em um livro e entregar de presente para ele no final do ano. Eu fiz isso, de maneira bem informal, achei que não iam escolher o meu depoimento para o livro. Mas qual não foi a minha surpresa quando vi que eles o divulgaram na rede? rsrsrs