segunda-feira, 27 de julho de 2009

Acabo de entrar no doutorado em História, no qual devo seguir a linha de pesquisa iniciada pelo meu mestrado.
Se no mestrado eu queria descobrir qual a concepção de História realmente adotada por Guimarães Rosa, e como esta aparece em sua obra literária, descobri que esta está mesmo mais voltada para a forma que pensaram o tempo durante a modernidade.
Ok,não muitas novidades até aqui - embora minha leitura seja uma bomba que vai contra a maioria das leituras da posição da História em Guimarães Rosa, porque ela não considera, de forma alguma, relações diretas entre o texto da "verdade do acontecido" e o texto ficcional . No doutorado eu propus uma pesquisa que se especificasse na abordagem de um dos temas caros aos que respiravam os ares da modernidade - como Guimarães Rosa - que é a atenção devotada ao olhar infantil para os processos históricos. Com esta mesma preocupação -delimitando pela época, inclusive - Rosa tem alguns companheiros de peso, como James Joyce, ou mesmo Walter Benjamin.
Interessantíssimo, não? Eu acho!
Porém meu orientador - que também deve ter achado tudo isso muito interessante,porque a proposta dá conta de discutir seriamente temas de TEORIA DA HISTÓRIA PURA, problematizando conceitos de temporalidades,de linguagem lúdica,e especialmente de duração,na forma específica como foram encarados pela modernidade - fez uma exigência prática,que obviamente tornará mais viável a pesquisa complicadíssima que estou propondo (que abarcará leituras em pedagogia,psicologia, história, lingüística, semiótica, etc...), mas é tão terrível atender a tal! Como acrescentar mais um autor a pesquisa?
Que autor brasileiro poderia dar as mãos a Guimarães Rosa nesse movimento todo?
Nenhum na prosa brasileira, eu suponho!
Mas me lembro do que escreveu Oswaldino Marques:

"Não se perturbe o leitor com o enquadramento indistinto de João Guimarães Rosa nas esferas da poesia e da prosa, pois a sua textura verbal cobre a dupla extensão dessas categorias. Não foi por acaso haver a ele cabido a primazia de gerar uma nova forma de expressão literária, onde se
fundem, de modo orgânico, a prosa e o poema. À falta de um termo corrente, fomos forçados a cunhar o vocábulo prosopoema, para nomeá-la."

[MARQUES, Oswaldino. Canto e plumagem das palavras.]

Ora, então posso brincar com poetas também? Parece que sim.
E o mais interessante deles parece ser Manoel de Barros, que sofreu assumida influência da escrita de Rosa - especialmente na relação com a linguagem que estabeleceu (Linguagem e vida são uma coisa só) e isso ambos também parecem ter aprendido com as crianças.


Ótimo, ótimo. então qual é o
problema?
O problema é que eu posso gostar muito de Barros, achar genial e
legal, MAS ELE NÃO É GUIMARÃES ROSA!
Pessoa fiel, é um horror!
Não rolou aquela paixão ainda, nem mesmo ao ler trechos lindíssimos e reveladores como este:


"Quando o rio está começando um peixe,

Ele me coisa

Ele me rã

Ele me árvore.

De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos."
Mundo Pequeno (do livro "O Livro das Ignorãças")

Será que meu doutorado será uma aprendizagem da traição?
Vou começar relendo "Dom Casmurro" (risos)

domingo, 26 de julho de 2009

O LADO B DA ADOÇÃO

A Revista Época publicou,enfim, um texto mais verdadeiro sobre a adoção.
Nada daquele monte de mentiras que a mídia costuma despejar nas pessoas: adoção não é o lindo mundo encantado dos altruistas x dos rejeitados ...
Muitas verdades aparecem na reportagem, especialmente o quão terrível é sofrer abandono desde o começo de vida,e como isso influência a pessoa o resto da vida,o tempo todo.
Eu bem sei disso.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Blog "Vamo Comê"

Abri um novo site, paralelo a este, chama-se "Vamo Comê", se quiserem conferir, entrem em
http://vamocame.blogspot.com/
Aguardo a visita de todos
Camila

Tropicália: Alegoria alegria


Comecei a ler um livro queue tenho faz muito tempo, já havia começado a leitura, mas desistia logo no começo, não sei bem por qual motivo, mas esses dias eu o encontrei novamente, é o que originalmente foi uma dissertaçãode mestrado em filosofia, sob orientação de Olgária Matos, em 1979 (coicidentemente o ano que eu nasci!)o livro chama-se Tropicália alegoria alegria, de Celso Favaretto. Eu penso que talvez eu não estivesse prepaparada pa ler esse livro quando o comprei, mas decobri agora, com muito encanto, que este autor fez, ou tentou fazer, com a interpretação da obra dos tropicalistas, algo semelhante ao que eu também tentei fazer coma de Guimarães Rosa: perceber que as possíves críticas e conteúdos mais fortes estão mais presentes na composição formal, do que nas mensagens diretas expressas pelos artistas.

No caso de Rosa, por exemplo, ao meu ver é uma opção ingênua e pobre querer estabelecer ligações diretas entre texto e contexto, porque a riqueza está presente muito mais fortemente no trabalho intenso com a liguagem!

Logo na introdução do seu texto, Faveretto explica que no contexto dos festivais da canção, as melhores classificadas foram Ponteio,de Edu Lobo e Roda Viva, de Chico Buarque de Holanda -


"músicas mais conteudísticas e mais próximas do gosto e dos
critérios do sistema dos festivais, em que o arranjo servia de acompanhamento ou
reforço de uma 'mensagem'. "


[Celso Favaretto. Tropicália alegoria alegria. P.23]


Mas frente no livro, elee xplica por qual motivo o Tropicalismo representou uma forma de composição que trouxe a canção popular o status de grande interpretadora da realidade brasileira (e também externa), mas ainda no começo nos deparamos com trechos belíssimos como:


"Procurando articular uma nova linguagem da canção partir da tradição da música
popular brasileira e dos elementos que a modernização fornecia, o trabalho dos
torpicalistas configurou-se como uma desarticulação das ideologias que, nas
diversas áreas artísticas, visavam a interpretar a realidade nacional, sendo
objeto de análises variadas - musical,literária, sociológica, política. Ao
participarem de um dos períodos mais criativos da sociedade,os tropicalistas
assumiram as contradições da modernização, sem escamotear as ambiguidades
implícitas em qualquer tomada de posição. Sua resposta à situação distiguia-se
de outras da década de 60,por ser auto-referencial, fazendo incindir as
contradições da sociedade nos seus procedimentos. Empregava as produções
realizadas ou em processo, pondo-as em recesso, deslocando-as de um modo a
subtrair sua prática à redução a um momento particular do processo de evolução
das formas existentes, com o que fica marcada uma posição de ruptura."


[Celso Favaretto. Tropicália alegoria alegria. Pp.25-6]


Além disso, ele trouxe um recorte de uma fala de Caetano , de 1968,que eu achei maravilhosa:

"Não posso negar o que já li,nem posso esquecer onde vivo. Nego-me a folclorizar meu subdesenvolvimento para compensar as dificuldades técnicas."

Como sempre, Caetano de tirar o ar! Os tropicalistas são de quem eu mais gosto, Gilberto Gil, Tom Zé e sobre todos CAETANO VELOSO!