domingo, 8 de abril de 2012

Os três dedos de Adão

Esse livro é uma maravilha! Comprei para minha pesquisa, com a reserva técnica, mas vou querer um pra mim, como não podia deixar de ser: Quando quis estudar história (tipo, quando prestei FUVEST) queria estudar medieval (desta forma que aparece nesse livro, só que não tive a chance de fazer isso na graduação). Depois tudo parecia ter se modificado nos meus desejos em história e tal, mas estudos sobre a Idade Média sempre tiveram um gosto especial para mim, de alguma forma. Só que hoje eu percebo que talvez não que eu quisesse fazer um estudo sobre a Idade Média como esse, porque meu maior interesse, talvez, nem seja por causa do tema em si, mas muito mais pelas questões de método: como contar uma história que, com o passar dos séculos, acabou quase sem registros materiais tradicionalmente fundamentados? Lá vieram os historiadores medievalistas virando as metodologias de ponta cabeça e suas "invenções" passaram a ser um ponto sério a ser discutido... Dai para falar de infância através da narrativa literária de Guimarães Rosa, que toca o mundo do sertão - uma sociedade contemporânea , mas com traços fortes de cultura oral, mais ou menos como era a medieval - e produzir literatura, Rosa teve que tocar muitas destas esferas, ao menos passar por elas... super genial.
Ai quando eu leio Hilário Franco Jr e, além do arcabouço imagético, ele coloca na roda de observação os historiadores que me escoram até hoje, eu morro:

"A imagem em questão (a de Adão engasgado, colocando a mão na garganta utilizando somente seus 3 primeiros dedos, não os 5, como era habitual na iconografia do pecado original,em San Juan de La Peña no séc. XII) é única porque indicaria uma situação particular, exprimiria um estadom de espírito específico à comunidade monástica de San Juan.
Tal hipótese é difícil de ser testada, porque o mosteiro foi vítima de incêndios (no séc. X em 1494,1675 e 1809) que destruíram grande parte de seus fundos documentais, tanto textuais como iconográficos (inclusive, mais da metade dos capitéis do clausto). Diante disso, devemos recorrer a HIPÓTESES DE TRABALHO NÃO FUNDAMENTADAS SOBRE 'PROVAS' E SIM SOBRE UM 'CONHECIMENTO POR TRAÇOS' BASEADO NAQUILO QUE OS TEXTOS - E AS IMAGENS - NOS DIZEM 'SEM TER DESEJADO DIZER', COMO SUGERE MARC BLOCH. Mais recentemente
Carlo Ginzbug prosseguiu nessa linha linha (que também é a de Arnold Hauser, Edgar Wind e Enrico Castelnuovo), chamando atenção para o 'paradigma indiciário' nas ciências sociais, inclusive na história, cujo conhecimento é 'indireto, indiciário e conjectural'. Dito de outra forma, o trabalho do historiador pede,com as precauções necessárias, raciocínio indutivo: passar 'do melhor ou do menos mal conhecido ao mais obscuro' , 'aplicar um método regressivo. (...)


FRANCO JR, Hilário. Os Três dedos de adão. p. 375-6