segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Panfleto por uma SP menos reacionária - Xico Sá

DIRETAMENTE DO BLOG DO XICO SÁ:
Nesta semana de aniversário da cidade, pego a bandeira de uma das mais sábias e lindas paulistanas:"São Paulo, larga a mão de ser reacionário. Isso é triste e burro e violento", manifestou-se a brava moça.Bia Abramo é o nome dela, profissão jornalista.Em nome da sua nobre causa, rodei este panfleto romântico, declaradamente ingênuo e grávido de anarcolirismo.Bárbaros, crédulos, pitorescos, meigos e novos Oswalds de todas as artes & ofícios, espalhemos a boa nova.Por uma SP menos reacionária.Por uma SP menos sorridente diante da chacina. Por um São Paulo menos reacionário e uma SP igualmente.Por uma SP que não seja a extensão do braço armado da polícia.Menos design fascista, menos bancos antimendigos, menos rampas antimiseráveis.Pela ocupação dos prédios improdutivos do centro por sem-tetos e artistas sem grana.Por calçadas menos esburacadas para o conforto do flâneur, do bêbado, do velho e da mulher grávida.Por uma estética mais “baiana” e menos fetiche da mercadoria nova-iorquina.Que Esperanza, a índia boliviana de Cochabamba, troque a escravidão do parque industrial subterrâneo pelo sol da decência.Que a alegria seja mesmo a prova dos nove no matriarcado de Pindorama e de Piratininga.Pela prática da psicanálise selvagem nos bancos de praça. A Sé como a Viena de Freud.Redes entre as árvores dos parques para a sesta de esportistas e sedentários.Que a sesta seja obrigatória no comércio, na indústria e nas redações de revistas e jornais. Por uma SP menos avexada. Que a tecla oficial da cidade seja o slow.Pela modernismo de ontem e não a modernagem de hoje. Pela ciência de que o futuro está em 1922.

A crítica de "A música segundo Tom Jobim "

Claro que eu fui assistir ao documentário " A Música segundo Tom Jobim" logo no dia seguinte à estréia afinal eu, como a maioria dos meus contatos, adoro Tom Jobim! Claro que o filme é lindo; que coloca uma proposta de inovação no gênero documentário e isso tem sido percebido pelo público (às vezes com decepção, às vezes com revolta); claro que a ausência do João Gilberto foi doidamente sentida por mim (mas sei que ele mesmo foi quem não concedeu as imagens, uma pena), claro que o filme me entediou um pouco no começo pelo excesso de Bossa Nova (mil vezes as mesmas canções , em mil gravações mundo afora, em mil línguas), mas que isso foi resolvido logo, quando se passou a mostrar um pouco (bem pouco se comparado ao número de interpretações de Garota de Ipanema) do Tom Jobim pós Bossa Nova que eu adoro, destacando o magnífico disco Matita Perê. Podiam ter aprofundado um pouco nisso, mas de qualquer forma valeram demais os 90 minutos de exibição.
Só que eu queria neste texto falar da crítica ao filme pois, mesmo que "a linguagem musical baste", sempre é preciso selecionar, inclusive as músicas. Trata-se, sim, de um belo e imperdível filme, mas nada é perfeito, seus senãos, que deveriam aparecer nos textos críticos sobre o documentário, mas não aparecem. Os poucos que li não brincam de exercer a crítica, não. É tudo divino e maravilhoso maravilhoso no filme, "uma exaltação da cultura do país", essas coisas! No filme não temos, propositalmente, um acumulado de informações extra musicais, é uma overdse de Jobim que, confesso, beira o delicioso em alguns momentos... mas as músicas, só elas, da maneira conforme foram selecionadas, também acabam passando de algum jeito as informações , tão desejadas pelos admirdores de documentários. Aos meus olhos de expectadora (não de crítica de cinema), ai está um de seus problemas: para levantar a bandeira de um Tom que beire a perfeição, era preciso mostrar uma imagem de aplausos no festival da canção em 1968, no qual a canção Sabiá de Tom e Chico Buarque, na verdade, foi vaiada(todo mundo que sabe um pouco de história da música conhece esse episódio)? Não é possível registar nenhum possível tropeço na homenagem? Então o "documentário pós moderno", que não se presta a ser didático, também se permite passar informações possivelmente erradas?
Claro que estou colocando isso de "entrona", afinal não existe propriamente o certou ou o errado, mas alguma coloção mais crítica que apronte momentos como este deveria aparecer nos comentários críticos que, até onde vi, de crítica muito pouco tem e parecem engrossar o coro dos exaltadores da cultura nacional.
Se mesmo os "críticos" não exercitam a visão crítica, onde iremos chegar?