quarta-feira, 30 de maio de 2012

Ler ficção para narrar melhor a realidade

 "O erro do jornalista brasileiro é que lê pouca ficção.Daí narra a realidade da forma mais inverossímil possível." Xico Sá  via Facebook em 29 de maio de 2012


Isso também não pode valer para o historiador? Sempre achei que sim, claro!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Hermenêutica do cotidiano


"A temporalidade e a linguagem são possibilidades de acesso à significação. Para Heidegger, a linguagem é parte do ser e constitui a única porta de acesso a um sentido ou significação. Acesso parcial, na medida em que na elaboração da linguagem como morada do ser está a única possibilidade de desvendamento do sentido oculto do todo ou do outro. O ser da linguagem ou a morada do ser,  trabalhado pela sensibilidade do historiador, chega a momentos  de revelação, 'eventos  de compreensão'.
Assim, o todo nunca se revela de forma definitiva e acabada. Nos momentos de revelção, os intérpretes atingem o que se convenciona indicar como uma metáfora da dobra na linha do horizonte, espaço este que separa o ôntico (contingência da finitude do homem) do ontológico, ou seja, a dobra ou fissura indicaria um momento do processo de compreensão ou devendamento do conhecimento . Heidegger retomaria a metáfora da dobra para indicar as dificuldades de superar as forças da finitude do homem e a necessidade do ser de se relacionar com a facticidade, sua dispersão, sua descontinuidade, sua falta de sentido." (DIAS, Maria Odila. Hermenêutica do cotidiano. nov. 1998. p. 247) 

TENHO QUE LER ISSO MIL VEZES ATÉ COMPREENDER DE VERDADE!

domingo, 20 de maio de 2012

Festa no Covil - Juan Pablo Villalobos


             ’Às vezes o México é um país nefasto, mas às vezes também é um país magnífico.’ A frase é quase um bordão deste livro e resume muito de seu clima mental: palavras rebuscadas que, com maniqueísmo naïf, tentam dar sentido às absurdas contradições da realidade ‘patética e sórdida.’ Quem as diz é o pequeno Tochtli (coelho, na língua asteca), garoto curioso que vive entocado na fortaleza de um cartel da droga. Seu pai-chefão, Yolcault (serpente-cascavel), parece hesitar entre a vontade de preservá-lo do mundo cruel e a necessidade de adestrá-lo como herdeiro, jogando de esconde-aparece com o indícios e o sentido da violência. Faz questão de que o filho seja educado por um professor ‘que é dos cultos’, egresso da esquerda esclarecida, mas por outro lado decreta que, se ele chorar, não será mais macho; não quer que veja certas cenas fortes do noticiário, mas assiste com ele aos sanguinários filmes B e lhe mostra as reais e brutais surras aos ‘maricas traidores’; oculta-lhe seu imenso arsenal de guerra, mas brinca de ensiná-lo a atirar nas zonas mais vulneráveis do corpo humano; é coruja e mandão, mas não quer que o chame de pai.

                Não à toa o garoto passa o tempo tentando desvendar os mistérios que envolvem sua vida. Entre uma sessão de Playstation e um sermão anti-imperialista do preceptor, examina incansavelmente sua gaiola de ouro para construir e testar uma cosmovisão que dê conta de tudo o o que vê e ouve. Mas só quando Yolcault decide que é hora de sumir por um tempo, tirando-o desse mundo fechado, é que Tochtli vive sua reviravolta existencial: embarca numa viagem delirante que, na volta, completará  todo um ciclo de revelações iniciáticas.

                Festa no covil concentra em suas poucas páginas um panorama impactante e sem moralismos da violência do narcotráfico em meio a outras violências, pelos olhos límpidos e pela  voz  surpreendente de uma criança à beira do abismo de seu destino.”

(Texto da orelha do romance “Festa no Covil”, de Juan Pablo Villalobos. São Paulo: Cia das Letras.2012)

domingo, 13 de maio de 2012

Menino Deus em Porto Alegre

Estive em Porto Alegre esses dias, para um Congresso Internacional de Literatura Infantil na PUCRS.


Tudo muito bom. A cidade, ao contrário do que eu imaginava, me recebeu calorosomente (até literalmente, porque eu peguei o tal 'veranico de maio' e fez calor o tempo todo) e estava tudo lindo ali.


Em meio a tantos compromissos, eu tinha que arrumar um tempinho para ir satisfazer um desejo meu...




Bom, há quem vá para Belo Horizonte e deseja encontrar a tal Esquina (onde ficava o Clube); há quem vá para Cuba e deseja encontrar o lugar onde ficava o  Buena Vista Social Clube...
Mesmo sabendo que o que se procura com isso não é possível de ser encontrado porque  essas referencias não propriamente espaciais. Entretanto  é legítimo ao menos procurar por um lugar relacionado ao nascimento de algo que nos toca profundamente.
Por isso que eu, estando em Porto Alegre, não podia deixar de procurar pelo Menino Deus... trata-se de um bairro em Porto Alegre, onde se situa a Igreja de Menino Deus, que faz parte do circuito histórico da cidade porque foi uma das primeiras igrejas da cidade.




Procurei a igreja e a praça (que é algo mais palpável do que simplesmente um bairro) e achei que seria fácil encontrar, mas qual não foi a minha surpresa ao ver que  pelo menos  dois  taxistas não sabiam  do que eu estava falando (rs). Isso me deixou tudo com mais cara de ficção: afinal para entrar "onde haveria mais futuro do que jamais houve" não podia ser assim tão simples... mas estive lá naquela pracinha.

A igrejinha fica na Praça Menino Deus, e é tudo tão singelo, uma gracinha, olhe ela de lado:




Lá temos uma iconografia da versão católica do Menino Deus.


 Como vemos, nada da descoberta do corpo azul/dourado (ao modo de Logun Edé) da canção de Caetano... mas de qualquer forma, Porto Alegre (que é bem mais que um seguro) transparece demais nesta bela canção de auto descoberta e foi interessantíssimo estar (de azul) naquela lida (e azul) cidade!

Eu:



A cidade:

Para tudo: Azul!

domingo, 6 de maio de 2012

Veta Dilma (versão Turma da Mônica)

Aniversário do meu mestre...


Já são tantos anos de relação com este professor maravilhoso, que se tornou também o melhor orientador do mundo... e além disso, com seus orientandos, me deu muitos amigos, uma espécie de outra família de pessoas com afinidades eletivas rodeadas em torno deste historiador maravilhoso e cheio de humor!
Neste dia em que ele entrou na "sexalecência" (rs) a "família" voltou a se reunir para homenagear, celebrar  e agradecer a ele por todas as coisas maravilhosas que junto dele vivemos! Pedimos a ele um 'discurso' e ele então disse algo como:  "depois dos  sessenta anos nossos sonhos se tornam reprises" (rs) 
Para "comprovar" uma de suas  orientandas, que é boleira de mão cheia e tinha feito um bolo no formato do seu livro de sua livre docência "Raízes do Riso" à época de sua publicação, repetiu o feito porque alguns orientandos não tinham 'comido o livro' ( É que quando alguém dizia a ele que ainda não havia lido o "Raízes do Riso" ele respondia : "Mas pelo menos você o comeu?" rs)
Agora todos provaram o gosto do "riso"e até da versão 'lembrancinha" dele:

Muito bom poder ter participado de mais este momento especial do professor Elias Thomé Saliba, que é tão importante para todos nós!

terça-feira, 1 de maio de 2012


Eu sempre fui uma aluna tipo"copista". Não me arrependo disso, ainda mais quando encontro um caderno do curso de História da Cultura que assisti em 2002 (dez anos atrás!) com o Sevcenko.
Ali eu fiquei sabendo de trabalhos sobre etnomusicologia, que estavam tentando resgatar sons da Roma Antiga, como neste:
http://www.youtube-nocookie.com/v/f0IpxYUi2Dk?version=3&hl=pt_BR"> name="allowFullScreen" value="true"> http://www.youtube-nocookie.com/v/f0IpxYUi2Dk?version=3&hl=pt_BR" type="application/x-shockwave-flash" width="420" height="315" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true">
Também naquele curso, cujo tema era  Cultura popular/oral (muito Havelock) Nicolau  dizia coisas como:
"A CRIANÇA SE COMUNICA, ANTES DE TUDO, PELA VOZ DA MÃE (VOZ FEMININA), dai vem a idéia de que, no imaginário popular oral, é a mulher e sua voz a figura  responsável por guardar os elementos que vão alimentar a memória coletiva, pois é o SOM da sua voz que funciona como elemento de contágio e desencadeia o que chamamos de  COMOÇÃO (SOM+EMOÇÃO) COLETIVA. Um exemplo disso está na estória 'Sorôco sua mãe sua filha', onde a voz da mãe e da filha que entoam aquela canção que "a cantiga não vigorava certa, nem no tom nem no se-dizer das palavras" e que conseguiu COMOVER A COMUNIDADE QUE ANTES O REJEITAVA: "A gente se esfriou, se afundou - um instantâneo.
A gente... E foi sem combinação em ninguém entendia o que se fizesse: todos, de uma vez, de dó do Soroco,. principiaram também a acompanhar aquele canto sem razão.
E com as vozes tão altas! Todos caminhando, com ele, Soroco, e canta que cantando, atrás dele, os mais de detrás quase que corriam, ninguém deixasse de cantar."
(Guimarães Rosa)
Como percebem, ali os bichinhos da cultura oral em Guimarães Rosa  devem ter me mordido e até agora, no doc, estou imersa nele!