domingo, 31 de janeiro de 2016

Pré carnaval, com Cortella


Diretamente da Folha, em 22 de fevereiro de 2001, sem mimimi:

Saudável loucura


Mario Sergio Cortella

É necessário interromper a lógica que entende o trabalho contínuo e incansável como sendo a única fonte de saúde moral e cívica

Todo ano é a mesma coisa: o Carnaval se aproxima, e muitas pessoas começam a reclamar sem parar. Com impulsos rabugentos e veleidades moralistas, murmuram pelos cantos ou em voz alta contra a alegre ociosidade que, nesse período e por estas plagas, seduz a maioria dos humanamente mortais.
Aproveitemos a inspiração dos ambientes das passarelas momescas, quando se reinstala um simulacro da nobreza monárquica, e vamos dar passagem à advertência do marquês Luc de Clapiers Vauvenargues, jovem ensaísta francês do século 18: "Os preguiçosos têm sempre vontade de fazer alguma coisa".
Os que, como feitores renascidos, se outorgam a tarefa de colocar a todos nos eixos, gritam e alardeiam, com ares doutorais, que "o Brasil não tem jeito mesmo! Onde já se viu um país pobre dar-se ao luxo de parar de trabalhar? Já tem muito feriado por aqui, e agora continuam suspendendo tudo de útil por cinco dias apenas para ficar dançando e pulando pelas ruas. O que os estrangeiros, gente séria, vão pensar do nosso povo? Carnaval é perda de tempo! É por isso que uma nação assim não vai para frente...".
Ora, já somos a décima economia capitalista do planeta, sem que a riqueza coletivamente gerada seja adequadamente repartida! Uma nação não vai para a frente quando não prevalecem a justiça cidadã e a paz social, quando não há garantia do direito ao trabalho (e, portanto, ao descanso), quando os privilégios exclusivos são apresentados como conquistas inevitáveis de alguns apaniguados. Uma nação perde tempo quando valoriza o cinismo que acomete fartamente alguns que se preocupam com quantos dias de folga tiram aqueles milhões para os quais sobra muito pouco de vida sã fora do horário de trabalho.
É necessário interromper a lógica que entende o trabalho contínuo e incansável como sendo a única fonte de saúde moral e cívica; é preciso enterrar a estranha racionalidade que entende a capacidade de voltar a trabalhar como sendo o melhor critério de saúde. É comum um adulto internado em um hospital ou adoentado em casa considerar-se sarado apenas quando, após perguntar ao médico se pode voltar ao trabalho, é por ele "liberado"; por que não perguntar "Doutor, já estou bom? Já posso voltar a namorar, bailar, transar, jogar?".
Por isso é claro que não deve ser obrigatório "brincar" ou "pular" o Carnaval; o que pode ser feito por todos e todas é, isso sim, dar-se o direito de suspender um pouco o pragmatismo laboral do dia-a-dia e ganhar tempo, em vez de perdê-lo. Tempo de parar para dançar, orar, descansar, divertir, meditar, estudar; seja qual for a escolha, um tempo para si mesmo ou para si mesma. Ócio não é falta do que fazer, mas possibilidade de, nas condições apresentadas, fazer a escolha lúdica do que se deseja, sem constrangimento ou obrigatoriedade.
Melhor, nesse caso, respeitar os insanamente saudáveis e cotidianamente produtivos, inscrevendo no pavilhão de algum estandarte precursor a assertiva de Mihai Eminescu (patriótico poeta romeno do século 19, mas nem por isso menos futurista): "As pessoas alegres fazem mais loucuras do que as pessoas tristes, porém as loucuras das pessoas tristes são mais graves".
Afinal, louco não é o povo que pára por quase uma semana para brincar; louco, provavelmente, é o povo que nem pensa em parar...

MARIO SERGIO CORTELLA, filósofo, professor da PUC-SP e autor de "A Escola e o Conhecimento: Fundamentos Epistemológicos e Políticos" (ed. Cortez/IPF), entre outros, escreve aqui uma vez por mês 

sábado, 30 de janeiro de 2016

Falar sem cuspir é escrever!


Circula essa piadinha na internet, acho engraçada, mas devo alertar que quem  fala vai sempre cuspir, o problema é que tem gente que exagera. A minha personagem menina de Rosa favorita, a Brejeirinha, era a própria narradora oral, contava as mil histórias que inventava e, segundo o próprio texto do Rosa, quando um dos personagens ficticios que ela inventou - o ‘Aldaz’’ Navegante”, partiu no mar imaginário, todos deixaram a ele uma mensagem de recordação , ai tem esse trecho fantástico:
"...cada um foi destinando a sua mensagem: “Zito põe uma moeda. Ciganinha, um grampo. Pele, um chicle. Brejeirinha - um cuspinho; é o "seu estilo".(Primeiras Estórias, p. 107).
Dai eu perguntava na tese :"Ora, este estilo cuspido de Brejeirinha – sendo uma forma de denominar sua linguagem oral – não pode ser as próprias narrativas das estórias inventadas sobre o “'Aldaz' navegante”? " (RODRIGUES, Camila. "Escrevendo a lápis de cor: Infância e História na Escritura de Guimarães Rosa", p, 225)


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Sobre a Literatura Portuguesa


Não quero me estender sobre as discussões a respeito do currículo escolar nacional, mas apenas compartilhar esse texto ,mais pela questão que ele discute (retirada da Literatura Portuguesa do currículo nacional) do que pelo posicionamento dos autores ... 
Lamento muito a proposta de anulação do ensino de Literatura Portuguesa do currículo escolar brasileiro porque, muito francamente, como pesquisadora de Rosa, confesso ter lamentado tantas vezes não ter tido uma formação mais específica em literatura portuguesa , porque muitos termos que nos soam estranhos no texto rosiano (pensamos até serem neologismos), na realidade não são nem acaímos, mas sim pertencentes ao vocabulário dos escritores portugueses medievais, por exemplo.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Ofício do historiador


Você conhece Theodor Hosemann?

Não? Digo que foi um pintor e ilustrador alemão que viveu entre 1807 e 1875. Aqui  vão   aperitivos de suas obras (representando crianças) que eu peguei no Google imagens. Enjoy.





terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Tom Zé no aniversário de Sampa, 2016


Tom Zé publicou no Facebook : "O Armazém da Cidade, que fica na Medeiros de Albuquerque, ao lado do Beco do Batman, na Vila Madalena, convidou o artista #Kobra para grafitar a fachada e comemorar o aniversário de São Paulo com Tom Zé. Segundo o pesquisador Assis Ângelo, Tom Zé é o compositor que mais fez músicas para a cidade. "São São Paulo, Meu Amor", "Augusta, Angélica, Consolação", tantas e tantas.
Bela imagem essa de Kobra, pessoal!#armazemdacidade Foto: VivaRua"

Lydia Hortélio: "Brincar é o último reduto da espontaneidade que a humanidade tem"

A entrevista com Lydia Hortélio é uma das coisas mais lindas que eu li recentemente, tem Schilller, tem Benjamin e, por trás de tudo, tem muito Zumthor <3 br="">Confira em aqui 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Filme Outras Estórias (1999)


(Direção e roteiro: Pedro Bial/Elenco: Paulo José, Giulia Gam, Marieta Severo, Anna Cotrim, Walderez de Barros, Cacá Carvalho, Antônio Calloni, Enrique Diaz, Sílvia Buarque, Juca de Oliveira, Rodolfo Vaz, Jonas Torres.Outras estórias é um filme brasileiro, do gênero drama, inspirado em contos de Guimarães Rosa, dirigido por Pedro Bial.)
Olha só o que já está disponível no Youtube... usei muito a parte do Sorôco (tem cerca de 15 minutos e começa em 1:29:31) com as crianças na Escola Lumiar e também quando dei aulas de sociologia no Ensino Médio em 2008 ... porque eu nem gosto dessa história, nem deu para reparar rsrsrs

sábado, 16 de janeiro de 2016

Qual personagem do Tarantino é você? Eu tirei o Django LINDO


Gostem ou não, o Tarantino é um dos diretores da minha geração... é muito gostoso "reconhecer" meus "pares", que sempre acabam perguntando se vimos o último do Tarantino rsrs Que seu cinema é  assumida e propositalmente violento, é fato, mas ele também é bem mais profundo que isso e apresenta essa que  uma marca do que é esse nosso tempo. Adoro perceber essas coisas, me fazem sentir viva e nem estar tão velha assim. Gosto tanto que eu, que adoro as brincadeiras do  Facebook, fiz essa e simplesmente amei o resultado: Eu tirei Django LINDO! Super  combinou, afinal eu sou mesmo uma princesa negra metida a alemãI!!!!!!!!!!! kkkkkkkkk. 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Os oito odiáveis de Tarantino e a violência em close.


Saiu o mais novo filme de Tarantino, "Os oito odiados", e eu fui assistir.


Eu sempre achei o excesso de violência nos filmes tarantianos uma questão estética, afinal ele é um esteta e por isso foi fazer arte ( e isso ele faz bem) . A estética ali é no no sentido de atiçar certa percepção mesmo. Depois que eu passei a estudar o humor, vejo que muitas vezes nos filmes,  Tarantino costumava usar um 'truque' de percepção: mostra tanto a violência, por exemplo, e de formas tão inconcebíveis que você não a perceber como verdade possível e ai acaba achando graça. Naqueles filmes eu vejo acontecer claramente aquilo que é uma das hipóteses da minha pesquisa de pós doc que é observar como nas anedotas infantis do Pedro Bloch, os adultos acham graça nas vivências infantis porque elas lhes jogam na cara, tranquilamente, o absurdo que é a sua forma de viver, dai chegam ao  riso, mas é quase sempre amarelo, porque eles riem de si mesmo antes, não das crianças. Nos filmes de Tarantino, é preciso a super exploração mesmo para que a ficha do absurdo realmente caia.

Sobre este último filme, eu estive aqui pensando... o gosto amargo na boca depois de assistir ao filme do Tarantino deve deve-se muito à falta dos risos (amarelos ou não em meio a tanto exagero) e também a uma pergunta que me surgiu : que futuro violento nos espera, se dá tanto já era assim, continua sendo e enfim? Ai , no Facebook ,eu ainda vejo cenas reais de violência aqui em São Paulo, e não é estilizada, nem gravada de modo artesanal, é a realidade dura e sangrenta. E nem estamos nos EUA antigo ... nem é um filme, mas eu preferia que fosse.Sério, esses dias mesmo um sem noção me falou que a questão racial (abordada -mal ou bem- pelo Taratino em "Django livre" e também em "Os 8 odiados" ) não tem tanta importância ... só não me falou que é porque o racismo não existe porque eu cortei (definitivo)... que preguiça de estar viva me bateu!



Em "Os 8 odiados" (Título que deveria ter sido traduzido como  "Os oito odiáveis", ou então como está no original The Hateful Eight, "os oito odiosos),  porque não há trégua para nenhum deles...  mas acho que a personagem mais interessante do filme é mesmo a Dayse. Ela também é odiada por   odiosa todo o tempo (no cinema ouvi comentários ditos em voz alta apenas sobre ela: "racista dos infernos", "safada" e acredite "coitada" em uma das vezes que sagraram sua cara). E Tarantino não nos conta  quase nada de porque ela havia sido condenada, mas sua presença e atitudes nos fez odiá-la de antemão e para sempre e não apenas pelo que ela fez (ou deixou de fazer) durante o filme,mas também pelo que ela tinha sido condenada (que pensamos que deve ter sido justamente, afinal ela  não seria capaz de nenhuma atitude menos odiosa, né?).... fiquei intrigada pensando nisso. Muitas vezes, no filme, algum dos personagens salienta o fato dela ser uma mulher e estar naquela situação de estar sendo perseguida, mas nem por isso algum deles a trata com maior cuidado, o que também se reflete na reação do público.

Achei que o fato do filme ser muito centrado ali no bar da Minnie - já que o que tinha fora era a belíssima nevasca (se não por outra coisa, vale muito assistir o filme no cinema porcausa das imagens da neve, achei de tirar o fôlego) -, acabou aprofundando  a representação das personagens, parecia meio que um romance policial clássico, com algumas pitadas de violência a la Taratino, claro. Diziam que Tarantino apenas se repetia nesse novo filme, eu não achei,apesar do tema caçadores de recompensa e tal... mas pensando em como terminou "Django Livre" (a explosão da fazenda sulista passando claramente a mensagem de que era isso que deveria acontecer, não? Que os racistas se explodam!), quando o diretor retoma  o mesmo assunto mostra parece mostrar que, na verdade, "Django Livre" foi apenas um filme e que aquela explosão do racismo não aconteceu lá, nem em "Os 8 odiados", nem acontece agora na nossa vida real, por isso  tratar do assunto racismo ou ódio entre brancos e negros não é um assunto desgastado e não pertinente, nem há séculos, nem agora. Enfim, bom ou ruim, um filme de Tarantino chama a atenção e enquanto for preciso sublinhar questões raciais, que ele o faça. Me perdoe o textão, é que o assunto me intriga muito rsrssPode até ser que a própria personagem Dayse seja superficial - não sabemos mais dela do que sabemos das outras, mas não baber DELA me incomodou mais... não foi apenas uma ou duas vezes que algum personagem destacasse ela ser mulher e estar sendo levada à forca, não é?  

E ver um filme de diretor tem essa delícia: despertar conversas kkkkkk
E o mais "importante" foi que, como sempre nos Tarantinos,  sai louca para lavar as mãos que jurava estarem sujas de sangue! kkkkkkkkkkkkkkk

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Google homenageia Perrault pelos 388 anos de Literatura Infantil


Quem está usando Google esses dias de janeiro de 2016 tem se defrontado com pelas imagens que homenageiam as histórias de Perrault. Muito lindas.
A que eu mais gosto, todos sabem, é a da Bela Adormecida -representada acima- , mas tem também outros contos homenageados... adorei (especialmente porque foge UM POUCO da estética Disney, enfim)!

Além da Dornröschen, temos também :


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

"Clube da Esquina - nossa música que o mundo ama", by Robert Palmer


Pérola achada e publicada no grupo "Blog Clube da Esquina" no Facebook (nas pessoas de Gustavo Oliveira e Luiz Henrique Assis Garcia), eis um comentário sobre nossos mineirinhos (em versão traduzida) :
"Clube da Esquina - nossa música que o mundo ama"!

(por Robert Palmer, do New York Times, publicado no O ESTADO DE S. PAULO: EDIÇÃO DE 04 DE MAIO DE 1986)
Embora os músicos de Minas Gerais têm muito em comum, apenas o ouvinte mais desatento poderia confundir um álbum de Milton Nascimento para um por Beto Guedes e Toninho Horta. Por exemplo, o Sr. Nascimento é principalmente um vocalista e estilista canção, sua guitarra ritmo é puramente funcional. Sr. Guedes toca guitarra e ritmo, junto com o Quatro venezuelano, o bandolim e outros instrumentos de cordas. Ele é um expoente conhecedor das tradições folclóricas de dança europeus como eles sobreviveram no Brasil, e muitas vezes ele tece cepas populares para as texturas de sua música.
O melhor dos seus álbuns, o notável'' A PÁGINA DO Relampago Eletrico,'' ele usa o que soa como quatro ou cinco violões, cada um jogando um padrão de ritmo diferente, para tecer tapeçarias ricamente detalhados sônicos; o disco contrasta rural-corda estilos da banda e música elétrica jazzy. Em'' Novena'', uma canção de seu álbum excelente'' Amor de Indio,'' ele amortece uma balada está pensando sinuosamente melodia com acordes aberturas construído em torno de segundo menores, a criação de um lirismo impressionante de dissonâncias.
Toninho Horta é mais conhecido por suas contribuições para muitos dos álbuns de Milton Nascimento, mas seus próprios discos são igualmente impressionantes. '' Terra dos Passaros'' (Minas Caixa), gravado entre 1976 e 1979, apresentou o seu'' Orquestra Fantasma,'' uma banda de estúdio que os jogadores mistos de Belo Horizonte com Airto Moreira, Hugo Fattoruso e irmãos Jorge e outros da América Latina músicos que foram, então, que vivem em Los Angeles. '''' Toninho Horta (EMI Brasil), lançado em 1980, acrescentou Pat Metheny ao habitual grupo de Belo Horizonte. É um álbum de muitos modos, que vão desde canções de amor suave a percolação excursões instrumentais de músicas com harmonias melancólicas como órteses, nada no jazz contemporâneo.
No Brasil, as distinções entre música popular, rock and roll, música folk e jazz, que os norte-americanos tendem a tomar por certo, simplesmente não se aplicam. Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta e outros músicos de Belo Horizonte tornaram-se particularmente adepto de recombinar elementos das fontes mais díspares, eles fazem categorias irrelevante. No entanto, eles nunca se envolver, a sua música é mais impressionante para a sua totalidade orgânica e clareza de visão. Ele já teve uma profunda influência sobre Pat Metheny e jazz e outros músicos de rock, mas suspeita-se que seu impacto está apenas começando a ser sentida.

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"Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. "  Manuel Bandeira
Camila Rodrigues -http://pequenidades.blogspot.com - Cel 989091302