"A cor é 'nuvem', superfície de deslocamento, linha de fuga no imaginário para divagações laterais, escapa para fora da página, compreende-se que ela suscite a desconfiança dos pedagogos. Em relação à conduta, ela favorece o afastamento; em relação à profundidade ou à verticalidade do sentido, ela ensina o charme do não sentido. Ela desvia as palavras de sua acepção corrente e impede a criança de se tornar semelhante aos 'modelos de moralidade'; ela proíbe a identificação obrigatória, familiar ou pedagógica.(...) De fato, o uso sujo das cores é, por sua vez, algo da ordem do deslizamento mimético pelos improvisos imprevistos do imaginário: lambuzada, imunda, brincando de pintar ou de tatuar o corpo, a criança rejeita, assim, identificar-se com a imagem que se exige dela: ao usar o visível para se tornar invisível aos outros, ela escapa à vigilância deles."
(SCHÉRER, René. Infantis- Charles Fourier e a infância para além das crianças. Belo Horizonte: Autêntica. 2009. Pp. 126-131)