sábado, 11 de junho de 2022

Reginaldo Prandi e os sincretismos na obra de Jorge Amado (de novo e sempre ❤️)

 

Como tudo que li do Prandi, amo esse texto. Especialmente porque o antropólogo expressa seu conhecimento de pesquisador dos vários "sincretismos religiosos " no Brasil, mas mais centrado na visão da Bahia, que é o universo onde encontramos os  orixás "sincretizados" da obra de Jorge Amado. Vejamos um trecho:


"Na Bahia, são Jorge é identificado como Oxósssi pelos fantásticos feitos mitológicos de cada um. O orixá da caça matou o pássaro maléfico enviado pelas Velhas Feiticeiras; são Jorge matou o dragão da maldade. Ambos livraram a humanidade de um grande sofrimento. Mas em outras regiões do país Oxósssi foi sincretizado preferencialmente como São Sebastião, provavelmente porque na iconografia dos dois a flecha ocupa um lugar especial:  Oxósssi, o orixá caçador, usa as flechas para caçar; São Sebastião, santo mártir, foi supliciado com flechadas. A flecha, por estranho que pareça, é o elemento de ligação entre os dois, não importa a que se destina.

Xangô é no Orixá do trovão, do governo e da justiça. Foi sincreetizado com são Jerônimo, santo tradutor da Bíblia do hebraico e do grego para o latim, santo também invocado para pedir proteção contra temporais. O poder sobre as intempéries fez de São Jerônimo Xangô, e vice-versa. Iansã, uma as esposas de Xangô, divide com ele o patronato das tempestades e é cultuada como orixá do raio, além de ser o orixá responsável pela condução do espírito dos mortos ao outro mundo. Foi sincretizada como santa Bárbara, que também protege o homem do raio.

Oxum, outra esposa de Xangô, é responsável pela fertilidade da mulher, pelo amor e pela beleza. Além de mulher bonita e vaidosa, é uma das grandes mães do panteão do candomblé. Foi identificada como Nossa Senhora da Conceição, mãe dos católicos. Em São Paulo, com Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a mãe negra." 

(Religião e sincretismo em Jorge Amado, Reginaldo Prandi)