terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O HOLOCAUSTO E BENTO XVI

Emerge nesta semana a polêmica sobre o posicionamento do Papa Bento XVI a respeito do holocausto, quando reabilitou bispos que teriam defendido a não existência daquele evento. Não vou colocar o dedo em assunto que não é de meu mínimo domínio, mas como historiadora tudo isso me chama atenção para o tratamento dos discursos neste jogo entre “verdades” e “mentiras” sendo fabricadas em virtude de alguma questão política, econômica, moral, religiosa, etc...

Isso remete ao trabalho dos historiadores, os que tem de lidar com esses temas tão espinhosos em diferentes temporalidades, lidando com o registro de testemunhos contrastantes, econômicos demais, inacreditáveis ou mesmo a não existência de testemunho nenhum: Eis algumas das dificuldades a serem enfrentadas pelos pesquisadores da história.

No caso do Papa Bento XVI a primeira pergunta seria "qual seria seu real interesse quando resgatou a legitimidade dos bispos com posições hoje quase impossíveis de serem aceitas como essa da não existência do holocausto?"

Essa pergunta é interessante se lembrarmos que na Alemanha atual, pregar a não existência do holocausto é crime! O Papa está se posicionando a partir de qual lugar? O de uma figura de extrema direita - o que a meu ver é péssimo, pois assim ele já começa mal, pois não gosto de extremos, extrema direita e extrema esquerda são, para mim, igualmente perigosos porque os extremos abrem mão da linguagem, do dialogo... - e a verdade, já disse Riobaldo não está nem no começo nem no final, ela aparece no meio da travessia (ou seja, nada de extremos...), o fato que interessa é que com esse tipo de atitude, Bento VI interrompe violentamente o diálogo entre as comunidades cristãs e judaicas que demorou séculos até ser considerado possível.

Hoje já temos o conflito entre judeus e palestinos em Israel e mais esta interrupção no diálogo entre diferentes é mais um posicionamento arbitrário. E a sensibilidade para o uso inteligente da linguagem, com objetivo de nos preservar de abusos e violências está cada vez menos sendo utilizada.

E agora? Agora, historiadores, vamos ler mais Carlo Ginzburg e os levantamentos sobre as relações entre o verdeiro, o fictício, ou se quisermos, entre a História e a Literatura, só refletindo muito sobre isso é possível nos protegermos da montagem vária de discursos que está sempre sendo executada sobre nós.