Foi um ano rico em leituras, mesmo tendo ficado dois meses sem ler por motivos de saúde, no fim ultrapassei minha meta de ler um livro por mês. Comento aqui apenas livros que concluí a leitura, embora tenha arriscado ler muitos outros , que acabei abandonando por hora. E concluí livros muito bons, livros memoráveis que merecem um comentário só deles na revisão do ano.
Em 16 de dezembro eu terminei minha última leitura do ano e comentei nas redes:
Com Ciranda de pedra eu terminei minha vigésima primeira leitura do ano. Nada mal para o ano que tive dengue e cirurgia, passei longo tempo sem conseguir ler nada direito. Foi um ano em que quase não comprei livros, praticamente só li livros emprestados da biblioteca do SESC POMPÉIA,ou que ganhei de presente. Voltar a ler exemplares de biblioteca, como quando eu estudava na FFLCH, foi maravilhoso, porque tive oportunidade de experimentar muito mais obras do que essas que conclui a leitura. Algumas vi que não me agradam,outras retomo em outro momento, o importante é estar cercada de livros. Isso me nutre sempre.
Abaixo um comentário rápido sobre cada leitura concluída. Se tiver outro texto sobre o livro, o link aparece em azul na postagem
JANEIRO
1 Becos da memória, Conceição Evaristo
Primeira leitura do ano veio na onda da última do ano passado, que tinha sido o encantador Canção para ninar menino grande, da Conceição Evaristo. Esse ano comecei com Becos da memória , um livo mais cru, mais difícil de ler. Nesse livro muito ao modo das publicaçõs contemporâneas, que mesclam realidade e ficção de forma quase indistinta, o talento de Conceição se expressa de forma exemplar, tornando esta uma das leituras que mais me afetou, me deixou bem mal, me senti no beco, de onde demorei para sair. Literatura tem que incomodar, e esse livro incomodou.
2 Estado de líbido, Carmen Faustino
O segundo livro do ano foi o de poemas
Estado de Libido, de Carmen Faustino, muito para tentar amenizar o amargor do beco onde Conceição tinha me colocado. Mas como foi um livro de poesia negra, ele também era um açúcar marrom. Eu amei ler esses poemas eróticos e pretos. Passei a seguir Carmen Faustino, esta poeta negra linda e maravilhosa, nas redes e com isso venho repensando tanto sobre o que é ser mulher negra, pois no decorrer do ano a vida me obrigou a ter esse repertório e muita auto estima. Como você pode ver no link sobre o livro postado acima, nesse livro, além das belas poesias, temos ilustrações maravilhosas de Flávia Rosa, que me fez ver melhor o marrom das partes intimas femininas, que quase nunca são ressaltadas e nem os homens,especialmente eles inclsive, olham com o interesse que merecem. Que aprendizado!
3 A dançarina de Izu, Yasunari Kawabata
Como comecei o ano com litertatura negro-brasileira, normal que desse uma respirada e o terceiro livro me levou ao encontro de um dos meus autores favoritos da vida, o japonês Ysunari Kawabata, que eu sei que é sempre esteticamente atraente e realmente foi. Em
A Dançarina de Izu temos o recorte de uma novela, ricamente representado, mostrando um Japão de sonhos que só a pena de ouro de Kawabata consegue traçar.
FEVEREIRO
4 Ponciá Vicêncio, Conceição Evaristo
Depois de muita poesia e já um pouco recuperada do trauma causado pelo beco do primeiro livro do ano, voltei a ler Conceição Evaristo com Ponciá Vicêncio. Achei a edição esteticamente linda e sai com ela num tom de roxo e sorrindo, até começar a ler e ver que, ainda que não tenha aquele peso cinza chumbo de Becos da Memória, ele também não é um livro lindo para sorrir. É um livro sobre mulheres, mulheres negras que é roxa violeta e o ataque aqui é de outra forma. Acho que esse é realmente um dos primeiros volumes dela, tem marcas visíveis de herança escravocrata na vida das personagens. Conceição Evaristo é uma escritora negra enorme, é preciso ler o que ela escreve, mas para lê-la é preciso coragem e força.
5 Destilo melanina e mel, Upile Chisala
Achei na biblioteca
"Eu destilo melanina e mel", um livro de poesia da bela Upile Chisala, uma contadora de histórias do d Malawi, que se formou pela Universidade de Oxford e vive em Johanesburgo, África do Sul e na obra, não sei se pela tradução, temos muito reforçada uma linguagem pós colonial de empoderamento feminino , mais como militância do que como experiência sentida pela mulher sob o colonização (como li recentemente em Carmen Faustino ou em Conceição Evaristo). Desse livro eu não gostei tanto, não faz muito meu tipo, mas foi uma experiência esse contato.
6 Mil Tsurus, Yasunari Kawabata
Ai voltei a Kawabata e li Mil Tsurus, um dos melhores dele que conheço, me lembrou tanto Guimarães Rosa! Aquela escrita deslumbrante, mas agora tratanto de temas fundamentais, sobre o Japão pós segunda guerra, numa trama lírica e sensual muito bem construída que me faz até gostar mais do Japão (só Kawabata!) kkkk
MARÇO
7 Voragem , Jun'ichirō Tanizaki
Super influenciada pelo Kawabata, quis saber mais da literatura japonesa,ouvir outras vozes literárias de lá e 2024 realmente foi marcado por essa busca. Muito recomendado, pelo bem ou pelo mal, eu li meu primeiro Tanizaki, que foi Voragem. Esse livro realmente mudu minha vida, me fez agir em meu favor, me afastar de histórias que estavam minando minha energia há anos. Depois, no final do ano, precisei fazer esse movimento de novo, mas já com tanto sofrimento real como aconteceu após a primeira leitura de Voragem. Que aprendizado.
8 Kyoto, Kawabata
Depois da porrada de Voragem, voltei à contemplação do Japão de Kawabata em Kyoto, em um dos seus livros com mais japonesices, me perdi em meio a tantas festas e rituais tradicionais, mas é também um dos mais belos textos, como um desenho delicado! Que autor maravilhoso! Mais que recomendo.
9 Conspiração de nuvens, Lygia Fagundes Tellles
Depois dessas leituras deslumbrantes, me acalmei voltando a ler alguns contos de Lygia Fagundes Telles, minha autora brasileira favorita. Ja estava numa fase de baixa energia e nem tirei foto com esse livro. Pra a pequena compilação de contos Conspiração de nuvens, não cheguei a escrever um post específico, apenas sobre um tema que me ficou gravado na memória e que ainda s liga ao impacto da leitura de Voragem, que é respeitar o Direito de quem escolheu não te amar. Essa foi uma das lições mais fortes e doloridas que aprendi em 2024!
ABRIL E MAIO: DENGUE E CIRURGIA
Aquela baixa energia e exaustão sentida com o ultimo livro se consolidou no meu corpo e em abril e maio tive reais problemas de saúde. Em abril tive dengue e em maior passei por uma cirurgia , tudo isso me deixou muito fraca, sem possibilidade de me concentrar em leituras. Foi bem tenso. Mas também passou.
JUNHO
10 Oito Contos de amor, Lygia Fagundes Telles
Estava dificil concluir as leituras, mas continuava tentando. Para não deixar minha contista favorita Lygia Fagundes Telles no vácuo pela mal recebida leitura do seu último livrinho, assim que me vi mais disposta a ler depois das doenças, a ela que eu voltei, com foto e post comentando conto a conto, como manda o figurino com a compilação
Oito contos de amor. Em uma edição meio paradidática, conta com um depoimento lindo de Lygia, que comentei no post linkado e traz contos sublimes e cruéis, como esperava de Lygia.
11 Claro Enigma Drummond
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Gosto muito dessa foto: Recuperada depois de ter ficado muito mal |
Me deparei com um dos melhores livros do ano, Claro Enigma, de Drummond e esse, confesso, é um caso em que o livro é maior que a gente, por isso não consegui escrever sobre, nem comentar direito. Foi uma entrada na esfera da maturidade e a beleza de uns dos mais belos poemas de Drummond destacando essa fase da vida.
Para no dizer que não postei nada sobre esse livro enorme, nesse post sobre o instrumental de 26 de junho, comentei:
"Na terapia começamos falando do livro que tem salvo minha vida, o Claro Enigma, de Drummond, um livro de poemas da maturidade do nosso querido poeta, que tem me feito pensar muito na vida, nas escolhas passadas e fazer um balanço da vida na maturidade! Como se eu fosse uma personagem de Jeferson Tenório, é sempre um livro o que vem me salvar de crises e dificuldades! "
JULHO
12 Tsugumi Banana Yoshimoto
Voltando ao universo das vozes literárias japonesas, quis terminar um livro escrito por uma autora japonesa, já que tinha largado Relatos de um gato viajante , de Hiro Arikawa e emprestei Tsugumi, de Banana Yoshimoto, que achei uma bobagem sem fim. Um livro adolescente, não serviu para mim, mesmo.
13 Noites brancas Dostoievski
E foi nesse ano que li Noites Brancas, meu primeiro Dostoiévski. Foi um pouco decepcionante,muito romântico pro meu gosto, mas passei o pano necessário: não é um romance, é uma novelinha etc. Para encarar um romance desse mestre ainda não estou preparada.
AGOSTO
14 Homens sem mulheres Murakami
E agosto trouxe Homens sem mulheres , minha primeira leitura de Haruki Murakami, e um um dos concorrentes a melhor livro de 2024, pois realmente pirou meu cabeção de agosto para o resto do ano. O post sobre ele que linkei cima é um dos mais longos do blog! Que livro, meus amigos! Recomendo.
SETEMBRO/OUTUBRO
15 Oração para desaparecer, Socorro Acioli
A vida me puxou para outras coisas além da leitura, mas em outubro, mês do meu aniversário, consegui ler,enfim, o livro que queria ler desde o ano passado, o livro do ano de 2014, Oração para desaparecer, da Scorro Acioli que ganhei de presente de aniversário. Esteve esteve na minha cabeça muito tempo, mas foi além, já pensava nele antes de ler, pensava durante a leitura, depois pensei mais anda.Como podemos ver no post sobre ele, a identificação comigo foi assiustadora! Não vai ter como não lembrar de 2024 como o ano de Oração para desaparecer.
16 Acabou Chorare, Márcio Gaspar
Ganhei de aniversário
Acabou Chorare, mais um livro de disco, tema de meu total interesse e foi um delicia ouvir e me dedicar novamente a pesquisa sobre canção popular brasileira.
17 Caetano Veloso (Folha explica)
Na trilha dos livros sobre canção popular brasileira, pegei esse livrinho sobre Caetano que tenho faz tempo, mas não tinha lido de cabo a rabo. Agora li, mas não tive tempo e atenção para escrever sobre. Caetano é sempre desconcertante!
NOVEMBRO
18 Sono MURAKAMI
Em novembro li Sono, meu segundo Murakami. Escrevi sobre um comentário muito menor do que ele merece, mas foi o que deu nesse clima de fim de ano.
19 Relato de um certo oriente (releitura)
DEZEMBRO
20 De onde eles vêm, Jeferson Tenório
Ganhei De onde eles vêm de presente de natal. Li, gostei em partes. Foi um pouco decepcionante, muito por causa de Avesso da Pele ser aquilo tudo, tinha muitas expectativas com Tenório, mas é um bom romance.
21 Ciranda de pedra, Lygia Fagundes Telles
Terminei o ano lendo o primeiro romance de Lygia, como disse acima, e foi muito diferente achar minha contista em outra esfera. Terminou bem esse ano de maravilhosas leituras.
Que venha 2025!