terça-feira, 31 de agosto de 2021

“Mar morto” (1936), de Jorge Amado: Um dos livros mais bonitos que já li na vida

Agosto, eu de #leianordeste:
 um clássico e um contemporâneo 

Naquela vibe de #leianordeste, em agosto escolhi o Stênio Gardel e um do Jorge Amado que não tinha lido, achei que ia terminar rapidinho o contemporâneo, que é bem curtinho, mas como é muito denso, carregado de poesia, levei mais tempo para terminar e escrever sobre aqui, e o do Jorge Amado ficaria para setembro. Uma pena, afinal setembro é o mês de aniversário de Amado, mas não é que deu para ler toda essa poesia em um só mês? Pois então!

Mar Morto JA
Vocês sabem que "Mar morto" e um clássico, a sinopse é bem conhecida, fala das histórias que o povo do cais da Bahia, especialmente os "marítimos"   contam, centrado na de Guma e Lívia e a relação forte deles com o mar, a morte e Iemanjá. 

Já vou adiantando que se trata de um dos livros mais bonitos que já li em toda a minha vida, é lírico, mítico, cheio de amor, cheio de dignidade e de orixás. Imagino como o Brasil dos anos 1930 recebeu essa obra. Soube que antes desse lançamento, Jorge Amado tinha estado preso por ser comunista, mas o resultado foi um dos seus livros mais poéticos e menos políticos de todos os  que li dele, embora tenhamos denuncias sociais, claro, mas o foco é outro e é lindo

Queria transcrever muitos trechos maravilhosos, mas tenho pena de vocês e   RECOMENDO VIVAMENTE QUE LEIA! Mas aqui trago alguns trechos e registros que fui fazendo durante minha rápida leitura! 

Quando comecei, estranhei a capa  dura, mas me apaixonei de imediato:


Foi muito gostoso ler o maravilhoso texto de Amado e ir ouvindo as belíssimas canções praieiras (1954), em especial esta canção, que foi inspirada no livro :



As histórias praianas são sempre trágicas, assim como são as cantigas :

"as canções dos marítimos, por mais diversas que sejam a sua língua e a sua música, falam sempre em amor e em morte no mar. Por isso todos os marítimos as compreendem, mesmo quando são cantadas por um árabe das montanhas que as ouviu num pôrto sujo da Ásia."(p.219)

A história de amor do livro, a de Guma, o pescador, e Lívia, a mulher que Janaína lhe deu de presente e, como bem da terra, como diz a canção do Caymmi, ficava na "beira da praia quando a gente sai aquela que chora, mas faz que não chora quando a gente sai" 

Logo percebi a importância da dinâmica da mitologia marítima, a devoção a dos cinco nomes Inaê, Dona Maria, Janaína e Iemanjá, a dona do mar , que 

"veio da África para a Bahia ver as águas do rio Paraguaçu. E ficou morando no cais, perto do Duque, numa linda pedra que é sagrada. Lá ela penteia os cabelos (vêm mucamas lindas com pentes de prata e marfim). ela ouve as preces das mulheres marítimas, desencadeia as tempestades, escolhe os homens que há de levar para o passeio infindável do fundo do mar" (p.81)  

  Ilustração Oswaldo Goeldi

 
Esse belo  trecho resume a problemática do romance :


Foi uma leitura fulminante, como sempre me empolguei, como registrei no livro : me apaixonei muito por todo aquele lirismo:


 E quando vi, estava chegando ao final : 


Que livro! 









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