sábado, 24 de maio de 2008

Comentando a História de sua cidade, nosso escritor começou “O Verbo e o logos”, seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 17 de novembro de 1967:

“Cordisburgo era pequenina terra sertaneja, trás montanhas, no meio de Minas Gerais. Só quase lugar, mas tão de repente bonito: lá se desencerra a Gruta do Maquiné, milmaravilha, a das Fadas; e o próprio campo, com vasqueiros cochos de sal ao gado bravo, entregentis morros ou sob o demais de estrelas, falava-se antes : ‘os pastos da Vista Alegre’. Santo, um ‘Padre Mestre’, o Padre João de Santo Antonio, que recorria atarefado a região como missionário voluntário além de trazer o raro povo das grotas toda sorte de assistência e ajuda, esbarrou ali, para realumbrar-se e conceber o que tenha talvez sido seu único gesto desengajado, gratuito. Tomando de inspiração da paisagem a loci opportunitas, declarou-se a erguer ao Sagrado Coração de Jesus um templo, naquele mistério geográfico. Fe-lo, fez-se o arraial, a que o fundador chamou ‘o burgo do Coração’. Só quase coração – pois onde chuva e sol e o claro ar e o enquadro cedo revelam ser o espaço do mundo primeiro que tudo aberto ao supraordenado:influem. Quando menos, uma noção mágica do universo.”

João Guimarães Rosa. O verbo e o logos. In : ROSA,Vilma Guimarães. Relembramentos: Guimarães Rosa, meu pai. P. 481.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

SESCSP REAGE À AMEAÇA DE INTERVENÇÃO!


Carta aberta ao público freqüentador do SESC
Queremos compartilhar com todos vocês o risco ao qual o SESC está exposto neste momento. O governo federal pretende enviar ao Congresso Nacional projeto de lei que retira pelo menos 33% dos recursos do SESC para a criação de mais um fundo de financiamento de programas de formação profissional. Diante desse risco, é nosso dever expor à sociedade brasileira o valor e a importância desta instituição criada, mantida e administrada com recursos privados, provenientes de contribuição compulsória das empresas do comércio de bens e serviços surgida nos anos 40 por proposta voluntária do empresariado.
Esta definição tem amparo na lei e na Constituição Brasileira (art. 240). O SESC promove a educação permanente por meio de suas ações culturais, socioambientais, esportivas, de promoção da saúde e da cidadania, das atividades de lazer e de sociabilização, voltadas prioritariamente às pessoas de menor renda. A melhor maneira de conferir o significado dessa ação é vivenciar o dia-a-dia.nos centros culturais e desportivos. Ouvir o relato dos freqüentadores sobre a importância do SESC em suas vidas e para suas famílias.
Utilizar os equipamentos e instalações de primeira qualidade, abertos a todos os estratos sociais, e participar das inúmeras atividades que abrangem um amplo arco de interesses e necessidades, reunindo um público extremamente diversificado. Acreditamos que todos vocês já tiveram essa oportunidade. São, portanto, testemunhas da natureza beneficamente eficaz, engajadamente eficiente e profundamente educativa do trabalho que o SESC desenvolve há 61 anos.
Esse patrimônio não pode ser sacrificado em favor de prioridades transitórias, em nome das quais se destruiria um trabalho consolidado em mais de seis décadas de atuação, causando um prejuízo incalculável ao desenvolvimento do país. A educação profissional é importante. Mas se dissociada de uma ação voltada ao desenvolvimento integral do indivíduo, torna-se meramente utilitarista, o que levaria a um evidente retrocesso, fruto de uma visão obscurantista e flagrantemente retrógrada.
Diante da gravidade dessa situação, que propõe a retirada de substanciais recursos dos programas socioeducativos do SESC, convidamos a todos para que se manifestem, pelos meios ao seu alcance, em prol da continuidade de nosso trabalho. Um projeto que, afinal, é uma conquista da sociedade brasileira.
Danilo Miranda, Diretor Regional do SESCSP

• assine agora o manifesto em defesa do SESCe espalhe este endereço para seus amigos www.PetitionOnline.com/gg1jg2fh/petition.html
Em tempo: o site do abaixo-assinado é um programa americano reconhecido internacionalmente para esta finalidade, e portanto está todo escrito em inglês. Menos o MANIFESTO, é claro! Ocorre que, no Brasil ou em língua portuguesa, não existe programa similar para uma petição dessa dimensão.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

OS DETALHES, A CIÊNCIA, A ARTE E A VIDA

Se quisermos falar de detalhes, coisas pequenas, podemos nos lembrar de um disco do Gilberto Gil chamado Quanta, que abre com uma canção que trás o mesmo nome, cuja letra é assim:

Quanta do latim
Plural de quantum
Quando quase não há
Quantidade que se medir
Qualidade que se expressar
Fragmento infinitésimo
Quase que apenas mental
Quantum granulado no mel
Quantum ondulado do sal
Mel de urânio, sal de rádio
Qualquer coisa quase ideal
Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos
Canto de louvor
De amor ao vento
Vento arte do ar
Balançando o corpo da flor
Levando o veleiro pro mar
Vento de calor
De pensamento em chamas
Inspiração
Arte de criar o saber
Arte, descoberta, invenção
Teoria em grego quer dizer
O ser em contemplação
Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos
Sei que a arte é irmã da ciência
Ambas filhas de um Deus fugaz
Que faz num momento e no mesmo
momento desfaz


Bom, a música diz muitas coisas interessantes, não acham? Essa preocupação com o quase ausente - como o que quase não há - que recentemente têm preocupado muito os cientistas (vide nanotecnologia), mas que esteve na literatura desde sempre...
Prestando atenção em detalhes é o único meio possível de se ler um livro como o Tutaméia, por exemplo.Voltando ao Gil, no encarte do disco Quanta é publicada uma carta do físico César Lattes (é, aquele mesmo da Plataforma Lattes) sobre a arte e a ciência nas canções ali expostas:

“Campinas, 05 de fevereiro de 1997
Agradeço as atenções e remessas. Não tenho conhecimento musical que me permital dar uma apreciação à altura do K7 que você me enviou. Posso dizer que gostei muito, assim como já havia apreciado toda a obra de Gilberto Gil que chegou ao meu conhecimento.
Peço apenas que me permita dizer o sentido que a física dá atualmente a algumas palavras que você usou, com muita felicidade, mas que em alguns casos me parecem licença poética:
O ‘infinitérrimo’ é uma ficção matemática. O Quantum é o mínimo de ação (energia x tempo). O Quantum de ação é mais real do que a maioria das grandezas físicas: seu valor não depende do movimento em relação ao observador. Tiraria ‘quark’ que está na moda com ‘cromodinâmica quântica’, mas que só pode aparecer escondido. Não engoli ainda, apesar dos livros modernos e da Enciclopédia Britânica.
Sobre as letras:
‘Ciência e arte’ : comovido agradeço a atenção.
A ciência se insemina subliminamente. A ciência é uma irmã caçula (talvez bastarda) da arte: Camões pediu ajuda do engenho e da arte – não da ciência. Salomão diz que ‘ciência sem consciência não é senão a ruína da alma’ – a arte, não.
Paro por aqui, porque Salomão também diz:
‘Não busques ser demasiado justo nem demasiado sábio: queres te arruinar?’
Para concluir cito um grande arquiteto:
‘Quando ciência se cala, a arte fala.” (Artigas).Com um abraço
César Lattes
Se até um físico reconhece a força do dedo da arte, porque não uma historiadora? rsrs

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Pequenas verdades...

" - Mãe, mas por que é, então, para que é, que acontece tudo?!"
" - Miguilim, me abraça, meu filhinho, que eu te tenho tanto amor..."

Campo Geral. P. 102

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

GUIMARÃES ROSA: TRADIÇÃO DA RUPTURA?

A idéia famosa desenvolvida no texto "Tradição da ruptura",de Octávio Paz, aponta a modernidade como um tempo só possível de tratar se partirmos do paradoxo, que é o seu cerne! Nas palavras de Paz, entendemos melhor que, para ser moderno:

"Basta con que se presente como una negación de la tradición y que nos proponga otra. Ungido por los mismos poderes polémicos que lo nuevo, lo antiquíssimo no es un pasado: es un comienzo. La pasión contradictoria lo resuscita, lo anima y lo convierte en nuestro contemporáneo." [Octavio PAZ. Los hijos del limo. P. 21]

Poxa, isso parece ser interessante, não é? Alguns não gostam da idéia (como o professor que ministou o curso que eu fiz sobre poesia mexicana), mas para mim - que estudo Guimarães Rosa a partir da História - é absurdamente genial.Isso porque Rosa declarou a seu mais conhecido entrevistador :

“Não sou um revolucionário da língua. Quem afirme isto não
tem qualquer sentido da língua, pois julga segundo as aparências. Se tem de haver uma frase feita, eu preferia que me chamassem de reacionário da língua, pois quero voltar cada dia à origem da língua, lá onde a palavra ainda está nas entranhas da alma, para poder lhe dar luz segundo a minha imagem.” [Günter LORENZ. Diálogo com Guimarães Rosa.P. 84]

Segundo Paz, pontos de vista como este são possíveis no contexto da modernidade porque este fenômeno histórico provocou tamanha aceleração do tempo histórico que a sua concepção de tempo assumiu outra configuração, onde não havia mais passado, presente e futuro perfeitamente definidos, mas sim uma unidade de tempo onde estas categorias borravam-se freqüentemente.

É por isso, talvez, que Paz, em "Signos em rotação", sentiu-se à vontade em defender idéias como a de que

"Nossa atitude diante da vida não está condicionada pelos fatos históricos, ao menos da maneira rigorosa com que, no mundo da mecânica, a velocidade ou a trajetória de um projétil encontra-se determinada por um conjunto de fatores conhecidos totalmente, pois mudança e indeterminação são as únicas constantes de seu ser - também é história." [P. 249]

Pois é, camaradas, meu mestrado defende essse tipo de idéia, que é algo muito diferente (disse diferente, nem melhor, nem pior...) do que muitos intérpretes do "conteúdo histórico" nas obras literárias fazem...Se pensarmos na crítica de Rosa então - na qual jagunços já foram interpretados como alegorias de grandes personagens históricos, por exemplo- qualquer coisa que eu falar, mesmo tendo um cabedal de peso me ancorando, vai ser meio que cutucar as onças...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Um processo histórico no sertão

"Ele (Germano Neto) nos empresta seu olho - e o olho da sua câmara, sua objetiva- para dirigir o nosso olhar para uma realidade que pede socorro.(...) Porque são lugares à beira do risco, em vias de desaparecimento(...)mostra veredas que secam o seu verde por conta da agressão feita pela monocultura do eucalipto, da soja, do capim; veredas violentadas, com as águas estancadas para servirem à irrigação das grandes fazendas, em que apodrecem os buritizais."

Adélia Bezerra de Menezes. Apresentação de "Saudades de Rosa e sertão"


OS BURITIS LAVADOS DE VERDE


OS BURITIS MORRENDO SECOS



quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

ANO NOVO FUTEBOLÍSTICO

O ano futebolístico começa agora em janeiro, já estava com saudade!
Como eu pertenço ao seleto grupo dos "Santistas roxos", estou esperando pelo tricampeonato no paulistão!
Ainda não sei se isso pode rolar tranqüilamente ou nem vai... perdemos (ou nos livramos ) o Luxa, mas como santista é antes de tudo um chato, ele logo foi substituído por outro chatinho no mesmo nível... Emerson Leão, nosso comandante no inesquecível time de 2002, volta afim de reviver aquelas emoções, mas eu não sei, viu... pra reviver 2002 não basta o Leão, precisaríamos do trio genial "Diego, Robinho e Elano", mas isso é assunto para o lindo mundo da imaginação...
No mundo da vida real, eu tinha visto na segunda feira que o Maldonado já estava com sua saída do Santos acertada! Entrei em desespero!
MALDONADO NÃO PODE SAIR!
Ele foi o jogador de desempenho mais freqüente de 2007, o que demonstrou mais raça, ele foi o pé de colho do Peixe ... rsrs Agora fui atrás de informações mais confiáveis, mas não achei ( já li que ele já saiu; que não saiu e que a saída ainda está em fase de acertos... coisas de futebol), vejamos no que vai dar!
Vamos entrar no túnel do tempo agora. Quando eu era criança, tinha um padrinho torcedor da portuguesa e proprietário de uma padaria rs (básico) ...Como toda criança eu tinha cá meus segundos interesses nesse padrinho, ele me dava sempre um pirulito roxo que eu adorava, chamava Dip Lick rs
Para ganhar pirulitos eu disse a ele que eu também torcia para a Lusa (mercenária eu) e ele me presenteou com uma camiseta infantil da Portuguesa, que eu guardo até hoje... o tempo passou, eu cresci e pirulitos deixaram de fazer parte dos meus interesses, mas a camiseta guardo até hoje e digo com orgulho que meu primeiro time foi a Lusa!
Só que agora, na fase adulta, eu faço parte do grupo dos SANTISTAS ROXOS!
Sempre vou torcer para o Glorioso, mas quando joga contra a Lusa, não tem tanta graça ganhar!
Dia 16 de janeiro, às 22:00, o primeiro jogo do Peixe vai ser contra a Portuguesa, aqui no Canindé! Tô até vendo, vou ficar uma pilha, mas estava com saudade da emoção!
Vamos Santos, rumo ao terceiro título em sequência!
Agora quem dá a bola é o Santos!