sábado, 30 de julho de 2011
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Colóqui de filosofia e literatura - Homenagem a Benedito Nunes
Mais informações e inscrições acessem o site : http://www4.usp.br/index.php/
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quarta-feira, 20 de julho de 2011
Emmerkar e o senhor de Aratta (498 ss) 2100 UR III
Para não dizer que passei em branco pela ANPUH que este ano está sendo aqui na USP, estou acompanhando o Mini curso "Escrita, saberes e tradições escribais na Antiga Mesopotâmia", ministrado pelos professores Marcelo Rede (FFLCH) e Carlos Henrique Barbosa Gonçalves.
Achei muito legal ficar vendo escrita cuineiforme... soube que a escrita, para os mesopotâmeos, era algo enviado pelos deuses, o ENK Ira muito inventivo...mas a escrita também estava sob a proteção da deusa NISABA e do Deus NABU, que era casado com TASHMETUM
O professor Rede trouxe uma narratinvinha sobre o nascimento da escrita na Mesopotâmia:
"Naquele dia, as palavras do senhor (...) sentado no (...) prole de princípes (...) eram muito longas e difíceis, seu significado não era compreensível. Uma vez que a boca do mensageiro era muito lenta e ele era incapaz de reproduzi-las, o senhor de Kullab (= Uruk) tomou argila e moldou as palavras (inim) em um tablete (dub). Antes desse dia, ninguém havia colocado as palavras sobre um tablete; mas agora, nesse dia, sob esse sol, isso foi feito."
Esta explicação é circustantial e tópica.
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segunda-feira, 11 de julho de 2011
sábado, 9 de julho de 2011
A ESCRIVANINHA
O médico achou que eu era míope. E me prescreveu não só óculos, mas também uma escrivaninha. Era engenhosamente construída. Podia se deslocar o assento de modo que ficasse mais próximo ou mais afastado da prancha inclinada, onde se escrevia. Além disso, havia uma trave horizontal no espaldar, que dava apoio às costas, sem falar de um pequeno suporte de livro removível e que coroava o conjunto. Essa escrivaninha junto à janela logo se tornou meu recanto favorito. O pequeno armário oculto sob o assento continha não só os livros de que eu precisava na escola, mas também o álbum de selos e outros três ocupados pelos cartões-postais. E no gancho firme da lateral da escrivaninha ficavam pendurados, ao lado da madeira, não só minha pasta, mas também o sabre do uniforme de hussardo e o tambor de herborista. Frequentemente, ao voltar da escola, a primeira coisa que eu fazia era festejar meu reencontro com a escrivaninha, ao mesmo tempo em que já a transformava no palco de uma de minhas ocupações prediletas – a decalcomania, por exemplo. Num instante, no lugar antes tomado pelo tinteiro, surgia uma xícara de água morna, e eu começava a recortar as figuras. Quanto me prometia o véu atrás do qual me fitavam das folhas dobradas e dos cadernos! O sapateiro inclinado sobre as encóspias e as crianças sentadas nos galhos da árvore colhendo maçãs, o leiteiro diante da porta com a soleira coberta de neve, o tigre que se dobra para saltar sobre o caçador, cuja espingarda acaba de detonar, o pescador na relva diante de um riacho azul e a classe atenta ao professor que ensina algo no quadro-negro, o farmacêutico à entrada de sua loja bem sortida e cheia de cores, o farol com o veleiro em frente – tudo isso era coberto por um sopro de névoa. Porém, quando, suavemente iluminadas, repousavam na folha de papel; quando a grossa capa saía em rolinhos delgados sob a ponta de meus dedos que, cautelosamente, girando, esfregavam e raspavam seu reverso;quando, por fim, a cor despontava, doce e íntegra, do reverso fendido e esfolado, era como se irrompesse sobre a turva manhã de um mundo descolorido o sol radiante de setembro, e todas as coisas, ainda umedecidas pelo orvalho que refrescava no crepúsculo, ardessem agora com a chegada de um novo dia da Criação. Embora, afinal, eu me fartasse também daquele passatempo, era assim que sempre encontrava um pretexto de adiar os deveres de casa. Era com prazer que revia velhos cadernos, dotados agora de um valor especial, que era o de eu tê-los resgatado do domínio do professor, que teria direito sobre eles. Agora deixava o olhar recair sobre as correções ali registradas em tinta vermelha, e um prazer sereno me tomava. Pois, assim como os nomes dos mortos gravados nas sepulturas já não podem ser úteis ou prejudiciais, ali estavam notas que haviam entregado todo seu poder a outras mais antigas. Com outro espírito e com a consciência mais tranquila eu podia perder horas na escrivaninha tratando dos cadernos e dos livros escolares. Os livros exigiam capa feita de papelão azul, e quanto aos cadernos, o regulamento insistia que a cada um se juntasse o respectivo mata-borrão de forma que este não se perdesse. Para esse fim havia pequenos cordéis que se vendiam em todas as cores. Prendiam-se esses cordõezinhos na capa de cada caderno e no mata-borrão por meio de obreiras. Se quiséssemos obter uma riqueza cromática, poderíamos forjar arranjos variados, dos mais sóbrios aos mais vistosos. Assim, aquela escrivaninha guardava, sem dúvida, certa semelhança ao banco escolar, mas sua vantagem era que nela eu ficava protegido e dispunha de espaço para esconder coisas de que ele não devia saber. A escrivaninha e eu éramos solidários frente a ele. E mal me havia recuperado após um aborrecido dia de aula, ela já me cedia novo vigor. Eu podia me sentir não só em casa, mas também numa cela como a daqueles clérigos que se veem nas iluminiras medievais, ora em seu genuflexório, ora em sua mesa de trabalho, como se estivessem dentro de uma couraça. Nesta cela comecei a ler Dédito e crédito, Duas cidades. Buscava a hora mais calma do dia e esse lugar, o mais isolado de todos. Então, ao abrir a primeira página, sentia-me tão solene como quem pisa num novo continente. De fato, tratava-se de um novo continente, no qual a Criméia e o Cairo, a Babilônia e Bagdá, o Alasca e Taschkent, Delfos e Detróit, se comprimiam uns sobre os outros tão compactamente como as medalhas douradas das caixas de charuto de minha coleção. Nada mais reconfortante do que permanecer assim cercado por todos os instrumentos de minha tortura – vocabulários, compassos, dicionários – num lugar onde de nada valiam suas reivindicações.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas II- Rua de mão única. São Paulo: Brasiliense.1995.Pp.118-120
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas II- Rua de mão única. São Paulo: Brasiliense.1995.Pp.118-120
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quarta-feira, 6 de julho de 2011
http://www.youtube.com/watch?v=WxCz9SdpWJE
No show do Elomar esta foi a primeira música que ele tocou, então já comecei chorando de emoção, especialmente porque ele disse ao final "Quando eu toco esta música sempre tenho a sensação que estou indo para um lugar muito longe no espaço, vocês também não sentem isso?" E eu disse ao Caio que eu também sinto isso, não só no espaço, mas também no tempo, com tal cantiga tão "medieval"... Estudar infância em Guimarães Rosa, pela História é, para mim, abrir novas possibilidades de espaço e tempo, estas ainda não totalmente comprometidas com as linguagens, assim como são as crianças ou os sertanejos...
No show do Elomar esta foi a primeira música que ele tocou, então já comecei chorando de emoção, especialmente porque ele disse ao final "Quando eu toco esta música sempre tenho a sensação que estou indo para um lugar muito longe no espaço, vocês também não sentem isso?" E eu disse ao Caio que eu também sinto isso, não só no espaço, mas também no tempo, com tal cantiga tão "medieval"... Estudar infância em Guimarães Rosa, pela História é, para mim, abrir novas possibilidades de espaço e tempo, estas ainda não totalmente comprometidas com as linguagens, assim como são as crianças ou os sertanejos...
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domingo, 3 de julho de 2011
O SABOR DO ARQUIVO
Estou trabalhando em arquivo, achei que poderia ler alguma coisa sobre como se trabalha com isso, mas apesar de eu achar que os trabalhos de história que saíram de leituras de material em arquivos costumam ser os melhores, não achava nenhum texto de historiador que abordasse essa prática (só autores da crítica genética), então meu orietador me indicou esse livrinho rasil) e ele, partindo da sugestão do seu nome, é uma delícia! Claro que a autora comenta seu trabalho ns arquivos judiciários franceses (documentos bem oficiais) e eu consulto o fundo pessoal e manuscritos de um autor literário brasileiro, mas apesar de ser diferente, o sabor de trabalhar com o que não foi montado para publicação me coloca em contato com a própria ideia de história: Milhões de possibilidades reias ou fictícias a serem sondadas e quem sabe "descobertas". Vejamos um trechinho:
“ Desconcertante e colossal, o arquivo atrai mesmo assim. Abre-se brutalmente para um mundo desconhecido em que os rejeitados, os miseráveis e os bandidos fazem sua parte em uma sociedade vigorosa e instável. Sua leitura provoca de imediato um efeito de real que nenhum impresso, por mais original que seja, pode suscitar. O impresso é um texto dirigido intencionalmente ao público. É organizado para ser lido e compreendido por um grande número de pessoas; busca divulgar e criar um pensamento, modificar um estado de coisas a partir de uma história ou de uma reflexão. Sua ordem e sua estrutura obedecem a sistemas mais ou menos fáceis de decifrar e, independentemente da aparência que assuma, ele existe para convencer e transformar a ordem dos acontecimentos. Oficial, ficcional,polêmico ou clandestino, difunde-se a grande velocidade no Século das Luzes, rompendo as barreiras sociais, muitas vezes perseguido pelo poder real e seu serviço de livraria. Disfarçado ou não, ele é carregado de intenções, sendo que a mais singela e mais evidente é a de ser lido pelos outros.
Nada a ver com o arquivo; vestígio bruto de vidas que não pediam absolutamente para ser contadas dessa maneira, e que foram coagidas a isso porque um dia se confrontaram com as realidades da polícia e da repressão. Fossem vítimas, querelantes, suspeitos ou delinquentes, nenhum deles se imaginava nessa situação de ter de explicar, reclamar, justificar-se diante de uma polícia pouco afável. Suas palavras são consignadas uma vez ocorrido o fato, e ainda que, no momento, elas tenham uma estratégia, não obedecem à mesma operação intelectual que o impresso. Revelam o que jamais teria sido exposto não fosse a ocorrência de um fato social perturbador. De certo modo, revelam um não dito. Na brevidade de um incidente que provocou a desordem, elas vêm explicar, comentar, relatar como ‘aquilo’ pôde acontecer em suas vidas, entre vizinhança e trabalho, rua e escadas. Sequencia curta em que, a propósito de uma lesão, de um tumulto ou de um roubo, se erigem personagens, silhuetas barrocas e claudicantes, cujos hábitos e defeitos logo se fica conhecendo, e cujas boas intenções e formas de vida às vezes são detalhados.
O arquivo é uma brecha no tecido dos dias, a visão retraída de um fato inesperado. Nele, tudo se focaliza em alguns instantes de vida de personagens comuns, raramente visitados pela história, a não ser que um dia decidam se unir em massa e construir aquilo que mais tarde se chamará de história. O arquivo não escreve páginas de história. Descreve com as palavras do dia a dia, e no mesmo tom, o irrisório e o trágico, onde o importante para a administração é saber quem são os responsáveis e como puni-los. Perguntas e respostas se sucedem; cada queixa, cada auto é uma cena na qual se diz aquilo que normalmente não vale a pena ser dito. E menos ainda escrito; os pobres não escrevem, ou muito pouco, sua biografia (o arquivo judiciário, domínio do pequeno delito antes de ser o do grande crime, mais raro, guarda mais incidentes de pouca importância do que assassinos graves, e exibe a cada página a vida dos mais carentes).
Esse tipo de arquivo foi comparado algumas vezes com ‘notas’, essas pequenas matérias jornalísticas destacadas por meio de fios que informam sobre aspectos insólitos da vida das pessoas. O arquivo não é uma nota; não foi composto para surpreender, agradar ou informar, mas para servir a uma polícia que vigia e reprime. É a coleta de palavras (falsificadas ou não, verídicas ou não – esse é outro problema), cujos autores, coagidos pelo fato, jamais imaginaram que pronunciariam um dia. É nesse sentido que ele obriga a leitura, ‘cativa’ o leitor, produz nele a sensação de finalmente captar o real. E não mais de examiná-lo através do relato sobre, do discurso de.
Nasce assim o sentimento ingênuo, porém profundo, de romper um véu, de atravessar a opacidade do saber e de chegar, como depois de uma longa viagem incerta, ao essencial dos seres e das coisas. O arquivo age como um desnudamento; encolhidos em algumas linhas, aparecem não apenas o inacessível como também o vivo. Fragmentos de verdade até então retidos saltam à vista: ofuscantes de nitidez e de credibilidade. Sem dúvida, a descoberta do arquivo é um maná que oferece, justificando plenamente seu nome: fonte.”
FARGE, Arlette.O Sabor do arquivo.São Paulo: Edusp. 2009 Pp. 12-15
sábado, 2 de julho de 2011
A arte de amar (continuação)
No último dias dos namorados eu presenteei o meu com "A arte de amar", do Ovídio, porque eu enxergo que é ele quem me ensinou (e está sempre ensinando) esta arte, exatamente como o seu Ovídio Moura, ele é diferente, gosta de de mim, muito, "mais do que ele mesmo dizia, mais do que ele mesmo sabia, da maneira que a gente deve gostar. E tinha uma força grande, de amor calado, e uma paciência quente..."
Minha intenção foi boa, mas não deu muito certo, afinal ao invés de ser o texto original em poesia, o livrinho trazia uma versão em prosa, bastante simplificada...
Só que eu quis, ainda assim, manter minha declaração de amor, ou melhor, de retribuição desse amor tão forte, tão quente e todo imerso em paciência (qual outro motivo ele teria para aguenta conviver comigo e meu mundo abarrotado de Guimarães Rosa, conversando sobre meu "único assunto"? Por qual razão que não fosse muito amor ele iria comigo aos parquinhos para observar crianças tentando se comunicar com bichos e plantas? Por que ele não se irritaria, pelo contrário, até mais prontamente me acolheria, quando eu começasse com minhas infindáveis lágrimas?
Isso é amor e foi ele que me ensinou, e agora sei e posso dizer que é totalmente correspondido.
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sexta-feira, 1 de julho de 2011
A arte de amar
"Dinorá amara-o três anos, dois dera-os às dúvidas, e o suportara demais. Agora, porém, tinha aparecido outro.Não, só de pôr aquilo na idéia, já sentia medo...Por si e pela filha... Um medo imenso.
Se fosse, se aceitasse de ir com outro, Nhô Augusto era capaz de matá-la. Para isso,sim, ele prestava muito. Matava, mesmo, como dera conta do homem na foice, pago por vingança de algum ofendido. Mas quem sabe se não era melhor se entregar à sina, com a proteção de Deus, se não fosse pecado...Fechar olhos.
E o outro era diferente! Gostava dela, muito...Mais do que ele mesmo dizia, mais do que ele mesmo sabia, da maneira que a gente deve gostar. E tinha uma força grande, de amor calado, e uma paciência quente, cantada, para chamar pelo seu nome:...Dinóra..."Dinórá, vem comigo e traz a menina, que ninguém não toma vocês de mim" Bom...Como um sonho... Como um sono...
Dormiu.
(...)
Mas na passagem do brecão do Bugre, lá estava seu Ovídio Moura, que tinha sabido, decerto, dessa viagem de regresso.
-Dinóra, vem comigo... Ou eu saio sozinho por esse mundo, e nunca mais você há-de me ver!...
Mas Dinóra foi tão pronta que ele mesmo se espantou."
Guimarães Rosa. Sagarana. P. 369-370
Se fosse, se aceitasse de ir com outro, Nhô Augusto era capaz de matá-la. Para isso,sim, ele prestava muito. Matava, mesmo, como dera conta do homem na foice, pago por vingança de algum ofendido. Mas quem sabe se não era melhor se entregar à sina, com a proteção de Deus, se não fosse pecado...Fechar olhos.
E o outro era diferente! Gostava dela, muito...Mais do que ele mesmo dizia, mais do que ele mesmo sabia, da maneira que a gente deve gostar. E tinha uma força grande, de amor calado, e uma paciência quente, cantada, para chamar pelo seu nome:...Dinóra..."Dinórá, vem comigo e traz a menina, que ninguém não toma vocês de mim" Bom...Como um sonho... Como um sono...
Dormiu.
(...)
Mas na passagem do brecão do Bugre, lá estava seu Ovídio Moura, que tinha sabido, decerto, dessa viagem de regresso.
-Dinóra, vem comigo... Ou eu saio sozinho por esse mundo, e nunca mais você há-de me ver!...
Mas Dinóra foi tão pronta que ele mesmo se espantou."
Guimarães Rosa. Sagarana. P. 369-370
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